segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Pequena balada do enternecimento

Tudo há de ser mais simples e eficaz
Se você fizer com calma
Tudo pode ser mais fácil, aliás
Se você fizer com alma

Nada deve ser pior do que julgar
Mais sábio mesmo é se enternecer
Às vezes fica bem apenas se calar
Melhor do que alguém se aborrecer

Toda a dor que você na traz no peito
Pode ser um carnaval perfeito
Tudo o que você amar de jeito
Vai te parecer menos suspeito


sexta-feira, 27 de novembro de 2015

À espera da alvorada vermelha

Ergamos, orgulhosos, nossas cabeças
Os dias são duros
Mas não mais do que nossos punhos cerrados
A luta é nossa irmã camarada!
E se flertam conosco as noites insones,
Em desvarios rebeldes
Hão de nos levar adiante.
Até que triunfantes romperemos a alvorada vermelha
Porque ansiosos aguardamos sua chegada.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A anunciada ruína petista / Lições a tirar

                                                                                       por Mário Medina
A bola da vez na Lava Jato

Os telejornais noticiaram o dia inteiro: Pela primeira vez na historia do país um senador da republica é preso em pleno exercício do mandato. A bola da vez na operação Lava Jato é o petista Delcídio do Amaral, senador pelo estado do Mato Grosso do Sul e líder do governo na casa.
E a situação do petista é delicada. Escutas da Polícia Federal atestam que o sujeito se movimentava no sentido de obstruir as investigações, além de articular uma possível fuga de seu comparsa Nestor Cerveró, sujeito ao qual também subornava com o objetivo de não ter seu nome citado em uma possível delação premiada.
 Rui Falcão, presidente nacional do PT, já lavou as mãos e disse que não deverá se solidarizar com Delcídio, que não foi pego por questão que envolvesse o partido. Agora é mais capaz que o senador sofra sanções e que seja inclusive expulso da sigla.
Como de costume, o monopólio da imprensa burguesa se regalou da desgraça petista e explorou o tema o quanto pode ao longo do dia. A direção do PT, a exemplo do que vem fazendo nos últimos tempos, se esforçou por se descolar de seu filiado corrupto e o entregou às garras da justiça burguesa, como se a prisão do companheiro não tivesse nada a ver com a perseguição da policia federal ao ex-presidente Lula, o verdadeiro alvo da direita, a figura a ser manchada até a próxima eleição presidencial.
Porque é esse o plano da oposição golpista caso não logre êxito em efetivar o impeachment de Dilma. E todas as forcas da reação burguesa operam nesse sentido, desde as seletivas operações da arqui-reacionária Policia Federal, passando pelo mecanismo de alienação das massas promovido pela imprensa capitalista, sobretudo Globo e Veja, finalizando com a cumplicidade do judiciário em queimar figuras oriundas do governo, tendência que deverá aumentar a medida que o desgaste desse ultimo persiste, inclusive com as escutas revelando que o senador Delcídio afirmava ter trânsito entre ministros do STF.
Destaque curioso teve a fala da ministra Carmen Lucia, ao ler seu voto na última sessão, quando a mesma, em tom de lamúria e certo deboche, fez menção ao slogan da campanha lulista em 2002, aquele que dizia: ``A esperança venceu o medo``. Detalhe sutil, que passa despercebido aos mais distraídos, sua fala revela a imparcialidade tucana predominante naquele ambiente.

A ruína petista

O PT vai ruindo aos poucos. Muitos já abandonaram o barco, revelando vícios eleitoreiros ao optar por legendas burguesas e de oposição. Os que permanecem vão caindo um a um, sem moral alguma, sem defesa. Impressionante ver como a executiva do PT mobiliza o partido para defender o ajuste fiscal de Dilma / Levi, articula um acordão mais do que indecente com o líder dos picaretas, Eduardo Cunha, e se desmancha diante das ofensivas golpistas da direita.
Fez bem a esquerda do partido em romper e se filiar ao Psol. Verdade que demoraram pra largar o osso, mas como diz o ditado popular, antes tarde do que nunca.
Resultado de imagem para Delcidio Amaral, imagemFrente aos fracassos históricos do PT, lamentamos que tal partido, antes uma grande esperança da esquerda e das massas, tenha se convertido em apenas mais um elemento do jogo político burguês. Frente aos acintes golpistas da direita que não aceitou o PT por sua origem e base social, nos insurgimos. Somos contra qualquer processo de impeachment dessa direita tucana que não soube perder a eleição nas urnas, e estamos dispostos a formar frente única com os governistas nesse sentido, deixando bem claro que não temos qualquer acordo programático com o deformado PT, mas defendendo o país dos retrocessos que seriam advindos de um impeachment que não se justifica.
A população trabalhadora e as forcas da esquerda devem garantir os avanços conquistados, ao mesmo passo que devem introduzir novas conquistas, tudo forjado nas lutas sociais, nas ruas, sem falsas esperanças nesse regime burguês falido, mas apostando no poder popular, na revolução e no socialismo. Verdade que isso às vezes parece distante demais, que nos soa como utopia, como sonho irrealizável, mas é um processo, e a velocidade de sua realização depende de nosso empenho também.

Superar a experiência do PT e se armar contra as aventuras golpistas da direita é apenas o começo. É a tarefa do momento.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Maracutaias brasilienses... o que temos com isso?

 

                                       análise política

Corre à boca miúda no congresso nacional que Eduardo Cunha e Dilma estão entrando em acordo: Cunha não lançaria o rito do impeachment e Dilma articularia com outras forças para que o presidente da câmara não perca seu mandato.
E deve verdade. Não duvido. Todas as maracutaias que vem sendo consumadas por lá convencem de que esses politiqueiros são capazes de qualquer coisa para salvarem a própria pele.  Notem a reforma ministerial de Dilma, que entregou a pasta da saúde ao PMDB, e ofereceu a de Ciência e Tecnologia a um pau mandado de Cunha, tudo para tentar dissuadir os peemdebistas de incorrerem com o impeachment.
Verdade seja dita, o golpe já foi dado, e a vítima é o povo brasileiro, que, em meio a uma severa crise econômica, é obrigado a ver seus direitos se esvaindo por meio de um governo recentemente eleito, governo esse que jurou de pé junto estar ao seu lado.
Mas para Dilma e o PT é mais importante permanecer na presidência do que estar ao lado dos anseios populares. Lula se gabou ontem das pedaladas fiscais de Dilma terem servido para financiar os programas sociais; mas o que ele não diz é que isso só foi feito por ocasião do ano eleitoral, para que Dilma fosse reconduzida à presidência.
De todo o resto Lula faz tábula rasa. E quando a coisa fica muito preta pro seu lado ele tira o corpo e critica, como se não tivesse nada com isso.
Agora todo mundo pia manso: PT, Lula, Dilma. E nesse embalo o governo eleito vai abrindo espaço para os picaretas do PMDB mandarem no país a seu bel prazer.
E o PMDB é aquela coisa, fisiologismo em forma de partido. Tudo pelo poder, tudo pela grana, tudo pelos ministérios, tudo pelos cargos comissionados, tudo pelos financiamentos e hobbys com empreiteiras.
A gente pensa que é a Dilma que manda no Brasil mas quem manda é a alta burguesia que financia o PMDB. São os banqueiros que deram milhões para que Cunha fosse eleito com mais de 200 mil votos no Rio; são os empreiteiros, são os latifundiários, agro-exportadores que matam índios e pobres no interior do país; os industriais que recebem dinheiro do BNDES e que demitem sem dó nem piedade ao anúncio de recessão e queda em seus lucros.
E com o Brasil destinando metade de seu orçamento pro arrolamento da dívida, temos que ver na tv os economistas pau mandados da Globo dizerem que as farras fiscais da Dilma é que quebram o país, afirmando que o ajuste fiscal é necessário.
E segue a cantilena: corrupção, lobbys, acordos espúrios, desemprego galopante, inflação nas alturas, etc, etc.
O que fazer diante da barbárie dos dias atuais, deitar na cama e chorar em lugar que é quente? A classe trabalhadora não tem tempo pra isso. O sujeito que madruga pra trabalhar e que passa o dia inteiro se esfolando pra colocar comida na mesa da família não tem culpa. Legítima a revolta de um cara desse ao ver a Dilma pedindo paciência na tv, ou ao ver que Cunha continua presidente da câmara mesmo depois de mentir na CPI, mesmo após ter suas contas na Suíça descobertas.
Aumenta a gasolina, aumenta o pãozinho, aumenta a cara de pau dos políticos. Só não aumentam os salários. Não aumenta a qualidade de vida. É aluguel pra pagar, conta da luz com ''reajuste'' de 40%, etc, etc
Assim fica muito difícil!!!

domingo, 4 de outubro de 2015

Navalha na carne

                                                                                                       crítica teatral

A mais recente montagem da obra prima de Plínio Marcos pelo Grupo Oficina traz excelente acréscimo de câmera e vídeo, com um telão ao fundo que surpreenderá o espectador. Sylvia Prado, que interpreta a prostituta Neusa Sueli, é ótima atriz e dá conta do papel com virtuosismo.

O mesmo não pode ser dito do ator e diretor Marcelo Drummond, responsável por encarnar a personagem Vado.
Drummond parecia bem à vontade no palco.
Não há dúvida de que estar seguro de si em cena é pressuposto para todo bom trabalho no teatro. Mas só isso não é suficiente. Drummond tem voz ruim e mal postada, é dono de uma dicção sofrível e não convence no papel do cafetão.
Para os que já viram a performance de Jece Valadão na primeira versão para o cinema, Drummond passa longe do que se espera de um ator no papel.
A terceira personagem também deixa a desejar, não por deficiência técnica do ator, mas pelo enfoque distorcido da montagem, que opta por apresentar uma versão caricata do homossexual Veludo.
A tendência à comicidade põe a perder muito do drama psicológico da obra, conhecida por seu caráter de alta densidade e tensão.
Talvez o riso viesse ao espectador numa montagem tradicional da peça, mas viria num contexto de extrapolação da crueldade interior, numa espécie de humor negro subjetivo. De fato há quem ria do infortúnio alheio, ou, há quem veja graça na desgraça alheia, numa espécie de riso de ato falho.
Não é o que acontece nesta montagem do Oficina, que lança mão de artifícios de comicidade para atenuar o clima pesado do enlace, pasteurizando, por assim dizer, a ácida linguagem de Plínio Marcos.
E o grupo faz isso de forma rasteira, bem ao molde das montagens comerciais e popularescas, jogando para a plateia. Aliás, os únicos momentos em que há quebra da quarta parede (interação com o público) são com o intuito de provocar o riso, como numa comédia de stand up ou algo do gênero.

E outra, está faltando nudez, hein! Plínio Marcos tem que ter nudez! Mostrem menos os egos e mais os bagos!

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O rosto da opressão sexista



Por esses dias ouvi uma história assustadora e que merece nota. Aconteceu com uma família conhecida e me assustou pela barbárie e ignorância.
Um rapazinho de vinte e poucos anos foi visitar o irmão e sua família em Campinas, interior de São Paulo. Passando lá uns dias, decidiu sair com uma turma da sua idade, e com essa turma tomou conhecimento de um falatório. Sua sobrinha, uma das filhas do irmão visitado, estava sendo mal falada pela turma dos rapazes que o acompanhavam. Conversa de rapazes é aquela coisa:
- Vocês não vão acreditar... Eu comi fulana.
-Pô, sério?
-E beltrana?
-Ah, a beltrana foi eu que comi, diz um outro.
E aparece um terceiro:
-Opa... Eu também comi essa aí.
-Pera aí, eu também.
E disseram pro forasteiro:
-Olha, essa aí dá pra todo mundo. Come ela também, bicho!
-Opa, de quem se trata?
-A beltrana, filha do sicrano de tal.
-Mas pera aí, o sicrano de tal é meu irmão. Vocês tão falando da minha sobrinha.
Os garotos ficam em silencio, perplexos, embaraçados. Um deles toma coragem e se retrata:
-Desculpa aí, irmão, sem maldade. A gente não sabia.
O rapaz volta pra casa do irmão e decide dar um toque pro mano, pra ele defender a menina do falatório da molecada. Mas o pai da menina pega ela de pau, se tranca com a coitada no banheiro e corta seu cabelo careca. Se o tio, depois de muito esforço, não arrombasse a porta, o pai teria matado a menina de tanto bater. A menina tinha 14 anos e tava dando pra meio mundo, e o pai tomou essa atitude drástica diante da vergonha e indignação que teve por ter uma filha adolescente de vida sexual precoce e de tanta má fama na cidade.
A vó  paterna da menina fica sabendo do acontecido e não se conforma com a atitude do filho em relação à neta. Dá a maior dura no cara e diz que não quer ver a neta sendo tratada dessa maneira. Depois de criar os filhos e se ver à volta com os netos, cheia de experiência e ciente das coisas que dão ou não certo na criação de uma criança, a vó chama a menina pra uma conversa.
-Minha filha, você é muito nova pra transar. Isso faz mal pra saúde. Depois de velha você vai ficar com cara de mulher dadeira. Mulher que começa a dar cedo fica com uma cara estranha, de quem deu pra todo mundo.
Diante dessa historia eu fiquei atônito e pensativo. Em pleno século 21, depois de tanta história, é duro ver que as coisas não mudaram tanto assim, que de fato não evoluímos. Se fosse o filho do cara, que com 14 anos tivesse traçando todas as menininhas, será que o cara ia lhe raspar a cabeça careca e lhe dar uma surra? Era capaz de fazer uma festa pro menino, de levar ele no puteiro,ou de comprar camisinhas e falar:
-Vai lá, filhão, manda vara na mulherada.
E a vó, por mais cheia de boa vontade que tenha agido, na sua simplicidade de pensar que o sexo altera alguma coisa na feição da mulher já madura, o que diria ela pro neto, se dissesse alguma coisa? No máximo ia falar pro garoto não sair fazendo filho, pra se proteger de doença venérea e tal.
Conclusão da história: a menina não deve dar, porque é mulher. Se fosse homem podia comer, e à vontade, tomando alguns cuidados, é claro. Mas é mulher, e se der cedo vai ser reprimida como se tivesse cometido um crime de graves conseqüências. Eu não quero dizer que acho que os adolescentes devem ter a vida sexual precoce defendida ou resguardada; esse não e o ponto do texto, mas quero apontar para os enormes contrastes comportamentais no trato dos pais e responsáveis com meninos e meninas. O látego do machismo e do falso moralismo continua maltratando as mulheres, e desde muito novas, submetendo-as ao castigo e ao constrangimento, sejam físicos ou morais. O que será da futura vida sexual dessa menina? Quais as implicações psicológicas de tamanha violência e opressão?  Fica a dica para uma reflexão...


 Arquivos de Fotografia - mulher triste, chorando, após, violência. Fotosearch - Busca de Fotos, Imagens, Impressões e Clip Art

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Papa Francisco é comunista, revela infiltrado no Vaticano


Publicamos abaixo texto enviado a nossa redação por jornalista brasileiro que nao se identifica. Nao nos responsabilizamos pelas afirmações do colaborador


Eu estava no refeitório, sentado, era hora do almoço. Aliás, o arroz integral do refeitório deles é muito saboroso, bem cozidinho, sabe? Nem parece comida integral.
O papa desce para as refeições todos os dias. Almoço e jantar. Parece até uma forma de se precaver de tentativas de envenenamento. Ele desce para o refeitório e come da mesma comida servida aos funcionários. E sempre se senta em um lugar diferente.
Eu estava ali por ocasião de uma matéria sobre freiras que engravidam e abandonam o celibato. Mas isso ainda não é matéria de publicação. Estou para soltá-la em breve.
Me passei por religioso e fui almoçar no refeitório. Sabe como é, sempre é bom economizar um vale refeição ou coisa do tipo.
Ah, sim, como dizia, o Papa adentrou o recinto em companhia de um assessor. Estava com sua veste habitual, muito cordial com todos. Se sentou na mesma mesa que eu estava. Eu tremia, nem acreditava. Um rapaz me apresentou como padre brasileiro e ele se ofereceu para se sentar ao meu lado.
-        
  -            _ Quiem és mejor, Maradona o Pelé?
-             -  O Pele é um tremendo reacionário, sua santidade. Prefiro o Maradona, que tem uma tatuagem do Che Guevara e é amigo pessoal do Fidel.
  - Yo también, hijo, pero nadie nos escucha.

Nem acreditei. Olhei para ele com surpresa. Principiamos a conversar animadamente. Ele afirmou estar a par do avanço conservador no Brasil. Disse que na Argentina há um uma movimentação muito parecida. Asseverou não morrer de amores pela presidenta Cristina mas se disse solidário com os peronistas
Foi uma conversa incrível. Na hora de ir embora ele disse que me mandaria uma caixa de alfajores portenhos. Com camada dupla de recheio, assegurou. Esfregou a mão na barriga, deu uma piscadinha e sorriu faceiro.


 Resultado de imagem para papa francisco imagens

sábado, 15 de agosto de 2015

Nostalgia

                crônica
Há pouco mais de 15 dias perdi minha vó paterna, Dona Leonor. Minha vó
era filha de espanhóis que chegaram ao Brasil no inicio do século passado. De família numerosa, ao modo habitual daquela época, estudou pouco e começou a trabalhar cedo. Também casou cedo e ficou viúva aos
28 anos, tendo que criar sozinha seus três filhos, sendo o meu pai, o mais novo, um bebê de apenas um ano e meio.
Mas não pense o leitor que esse artigo se trata de uma nota de
falecimento. Só achei por bem começar o texto falando da trajetória de
minha avó pois foi pensando nela que me peguei relembrando passagens
da minha infância, memórias dos dias que passava em sua casa, no Pari,
bairro no qual, embora eu não tenha nascido, vivi dos dois anos em
diante.
Minha vó vivia numa casa térrea e pequena, ao fundo de uma comprida
vila de casas na rua Olarias. Vez ou outra passava o dia com ela.
Ficava vendo televisão enquanto ela passava a maior parte do dia
sentada diante de uma máquina de costura. Minha vó era costureira de
cortinas.
Agora que perdi minha vó há tão poucos dias, sou tomado por uma
natural nostalgia daqueles tempos. Lembro do forte cheiro adocicado da
fábrica de biscoitos que havia no quarteirão de trás. Naquele tempo o
Pari era um bairro mais ameno, um bairro residencial, com muitas casas
de muro baixo com jardins a frente.
Agora o Pari é uma continuação mal acabada do que o Brás foi por muito
tempo seguido, ou seja, uma região de comércio pujante, com escassos
moradores; lugar de muita movimentação durante o dia e de ruas quase
desertas no período da noite.
Natural que as coisas mudem com o tempo, e mais natural ainda que eu
tenha nostalgia do Pari da minha infância, o Pari antigo, dos campos
de várzea, das praças apinhadas de crianças, dos botecos de esquina
onde a gente parava pra pedir água… (naquela época a gente bebia
água da torneira mesmo, não me lembro de comprar água mineral).
Por quase uma década vivi com minha família numa casa razoavelmente
grande na rua Padre Lima. Lá a gente brincava nas ruas com alguma
tranqüilidade; as famílias sentavam a frente das casas enquanto as
crianças jogavam bola ou andavam de bicicleta. Lá eu interagia com
meninos que moravam num cortiço do outro lado da rua. De lá, por
exemplo, me lembro de uma família de onze filhos, todos com nomes que
começavam com a letra M. Depois morei na rua Madeira. E, depois, na
Monsenhor Andrade.
Mas o Pari das minhas memórias infantis nao é tão curioso quanto o
Pari das histórias inusitadas. Uma das minhas tias, durante o velório
da mãe, em meio a uma mórbida conversa, dizia que não desejaria ser
cremada depois de morta, e, como argumentação, evocava a memória da
historia de um conhecido que morava na rua Rodrigues dos Santos e que
quase fora enterrado vivo.
No tempo da febre amarela, o homem, internado no hospital da Santa
Casa, depois de tido como morto, foi colocado numa sala com muitos
corpos que seriam enterrados no dia seguinte. No meio da noite o
sujeito despertou, pulou o muro do hospital e foi pra casa. Bateu na
porta mas a mulher, apavorada, não abria. A mulher, desesperada e aos
prantos, gritava ao marido que voltasse ao mundo dos mortos, que ele
não estava mais vivo, que fosse embora dali. A filha teve que acalmar
a mãe e abrir a porta ao pai. Minha tia conta que o homem ainda viveu
muito depois do incidente, que morreu depois da mulher, inclusive.
Hoje tendo a ver o Pari de forma mais amarga, e me ressinto
sobremaneira de ver que com o tempo não veio a virtude. É duro ver que
o bairro abriga uma classe média rancorosa e reacionária. Porque eu
tenho saudade do Pari da minha infância, mas não suporto o Pari dos
velhos bairristas, malufistas ou tucanos, todos eles uns chatos; o
Pari dos senhores que xingam o Haddad porque não querem conviver com
os refugiados haitianos ou com os imigrantes bolivianos, por exemplo.
Tenho amor pelo Pari dos meus dias juvenis, dos meus tempos de
adolescente, quando ia com os amigos comer os lanches gordurosos da
Balneária. (Agora eu sou um rapaz mais saudável, garanto).
Uma vez, voltando do Rei das Esfihas com três amigos, levei uma batida
da policia, memorável de tão engraçada. Eu estava com um rosário no
bolso. O policial, na hora da revista, tateou-o e perguntou do que se
tratava. Falei que era um rosário. O soldado puxou aquele rosário
enorme e o meu amigo Edu caiu na risada. O Edu era chamado de Soneca
também. Tinha as pálpebras meio caídas, era cabeludo e muito magro.
Quase apanhou da PM nesse dia…
Quando chegamos à casa do Ricardo, não sabíamos do que riamos mais; do
incidente com a policia ou de um acontecimento anterior no
restaurante. Acontece que naquela época o Rei das Esfihas era menor e
tínhamos que esperar vagas de mesas. Umas meninas bonitinhas
desocuparam uma, e, antes que o Tadeu, lendário garcon pariense,
limpasse a mesa, nos sentamos e eu comi uma coxinha que fora deixada
ali quase intocada, com apenas uma mordida.O pessoal me chamou de
nojento, tirou o maior barato. Eu não tava nem ai… Ah os jovens…meu Deus… É deste Pari que tenho saudades.                                                   
  

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Flor clara de Agosto

poema

Flor clara de Agosto,
Primorosa amiga minha,
És forte
Vigorosa
E doce...
Encantadora criaturinha
Merecedora das mais ternas
            [ e poéticas definições
És um elo com o sublime
És meiga  na dose correta
E firme...
Admiravelmente assentada na graça
Ah, flor clara de Agosto,
Presente raro do inverno dessa terra,
Tua beleza e autenticidade
Pervadem meu peito
Em sorrisos e lágrimas ardentes

És lívida, porém marcante
És clara
Vivíssimo e transparente ser
És a flor mais bela desse Agosto
Presente do sumo bem
Vocacionada da claridade


Auditar a dívida, romper com os sanguessugas!


                                                                                     por Mário Medina


A diferença de renda entre ricos e pobres sempre foi alarmante no Brasil. Todo mundo sabe disto. Não é novidade pra ninguém. A despeito dos discursos dos petistas que bradam terem eliminado a miséria no país, o Brasil continua a ostentar um dos maiores índices de concentração de renda do mundo. Nesse mês a Receita Federal divulgou tabela que revela bem essa realidade. Segundo a própria receita, menos de 1% dos brasileiros detém cerca de 30% da riqueza declarada.
Os dados estão no site da receita para que qualquer um tenha acesso. Segundo os dados, 71 mil brasileiros concentram 22% de toda riqueza. Essa elite representa 0,3% dos declarantes do imposto de renda em 2013. A concentração da renda no Brasil é de espantar qualquer um. 
Outra coisa que espanta é notar que os mais ricos pagam menos impostos, enquanto a fatia mais pobre da população paga mais. A receita aponta que os 72 mil brasileiros mais ricos são tributados em até 66% de sua renda, enquanto os cidadãos que ganham até cinco salários mínimos são tributados em 95% de seus ganhos.
Essa desproporção toda poderia ser corrigida caso houvesse vontade política para taxar as grandes fortunas. Se o Brasil tributasse lucros e dividendos de sócios e acionistas de empresas, por exemplo, coisa que acontecia até o ano de 1995, o país voltaria a arrecadar uma quantia de cerca de 50 bilhões, quase a mesma quantia que Dilma cortou no atual ajuste fiscal.
Na campanha presidencial do ano passado, nos acalorados debates de tv, os principais candidatos ao planalto sequer tocaram no tema. Com exceção dos presidenciáveis da chamada ultra-esquerda, PSOL, PSTU, PCB e PCO.
Luciana Genro, única candidata da esquerda a participar dos debates, propunha taxar em 5% as fortunas que ultrapassam 50 milhões de reais, o que uma parcela da esquerda julga pouco, mas que já faria uma diferença substancial na receita da união.
A queda da popularidade de Dilma tem tudo a ver com isso. Em tempos de crise, Dilma foi ao horário de propaganda e aos debates de tv assegurar que em seu segundo mandato asseguraria direitos, que não cortaria investimentos e que não elevaria os juros, entre outras propostas. 
Na mesma semana de sua vitória eleitoral deu ordens de elevar os juros, e em pouco tempo sua popularidade foi caindo conforme despejava o ônus da crise sobre os ombros dos trabalhadores.
O PT não tem vontade política de romper com os banqueiros e rentistas. Pelo contrário, faz de tudo para garantir as gordas fatias de lucros sobre juros. A dívida brasileira só faz crescer e Dilma, que tanto acusou os tucanos de plantar inflação pra colher juros, faz o mesmo jogo da direita agora que é governo. 
Aliás, Dilma só está no governo porque continua sendo funcional aos desejos da elite financeira do país. Verdade que uma ampla parcela desta elite prefere a gerência tucana, mas dificilmente haverá impeachment se Dilma continuar se dispondo a aplicar a linha política da direita. Como a direita vai batalhar pra derrubar um governo tão submisso, que abaixa a cabeça e faz todas as suas vontades? Repito, tem a direita que quer a cabeça de Dilma agora, mas a tendência é sangrarem o PT pra garantirem seu retorno via eleições de 2018.
Aos trabalhadores só resta romper definitivamente com o governismo do pelego PT e viabilizar alternativas de poder popular, com uma auditoria popular da dívida. Uma auditoria como esta poria a claro que não devemos mas que somos credores da burguesia sanguessuga.

domingo, 19 de julho de 2015

Cavalo grego

                                                                                         por Mário Medina

Os ânimos estão exaltados na Grécia, e não é para menos. Dez dias depois do referendo em que cerca de 60% dos votantes rejeitou ceder às negociações com a troika, o parlamento grego votou acordo com países da União Européia pela liberação de um pacote de 85 bilhões de empréstimo, a ser recebido ao longo de três anos, com a condição de que o governo grego enxugue gastos com previdência, aumente impostos e privatize estatais que andam no vermelho.

O caminho da capitulação
Após demonstrar vacilação nos primeiros momentos como governo, onde abriu diversas concessões aos credores, o primeiro-ministro Alexis Tsipras recorreu a um referendo para que a população endossasse seu posicionamento de não abrir mais concessões nas negociações. Tsipras fez aberta propaganda pelo ``Não`` e deixou entender que se o ``Sim`` ganhasse renunciaria, pois se negaria  a gerenciar a austeridade proposta pelo imperialismo europeu.
Essa movimentação de Tsipras fez com que muitos encarassem a manobra com estranheza. Afinal, para que um referendo se o Syriza saiu vencedor das eleições? A população decidira nas urnas, na eleição para o parlamento, a linha política contrária às medidas de austeridade que vinham sendo implementadas por governos anteriores. Outros encararam o chamado ao referendo com bons olhos. Raciocinavam que Tsipras convocava a população para apoiar o governo diante da ofensiva da troyca.
Nós estamos entre os primeiros. Pensamos que o Syriza ganhou nas eleições e que não precisaria submeter a voto uma política de recusa aos achaques imperialistas. Seria o caso de convocar a população não às urnas, mas às ruas, para mostrar aos vizinhos europeus a disposição de enfrentamento do povo grego e deixar bem claro que o país não se curvaria perante a política hegemônica de austeridade.
Nesse caso, a esmagadora maioria do povo grego apoiaria seu governo, porque as pessoas sabem da desgraça social que abateu o país nesses anos de crise, e não estão dispostas a abrir mão de mais direitos e se verem ainda mais pobres.
Rejeitar o acordo com a troyca traria duros desafios à Grécia. Mas seria muito mais honroso para o Syriza, que se elegeu pelo voto popular com um discurso de esquerda. Não há dúvida que Tsipras e sua equipe traíram a confiança de seus eleitores.
Agora o Syriza votou rachado no parlamento e o governo se viu obrigado a contar com votos da oposição para aprovar o novo plano. O imperialismo europeu humilhou Tsipras. Este fica agora completamente desmoralizado diante de seu povo e completamente refém dos credores.
Aurora Dourada, o partido da extrema direita, pode ser o próximo fenômeno político daquele país, já que a frente popular grega caminha a passos largos para sua completa desgraça. Revoltados com a traição de Tsipras, manifestantes começaram a tomar as ruas em frente ao parlamento, criaram barricadas e incendiaram automóveis. A polícia reprimiu e houve confrontos de rua.

Crise social 
O governo decretou feriado bancário no fim de Junho e o máximo a ser sacado nos caixas eletrônicos são míseros 60 euros. Os aposentados são os mais desesperados e o povo está revoltado com muita razão. Resumo da ópera: Tsipras ridicularizou a esquerda e deu um empurrãozinho na direita.
É forçoso concluir que não podemos depositar esperanças em soluções reformistas de cunho eleitoral, mas combater pela revolução socialista. Mais uma vez a história dá razão ao marxismo.
Adoraríamos apoiar um legitimo governo progressista na Grécia. Defenderíamos tal governo dos ataques da burguesia e do imperialismo e propagandearíamos seus feitos. Nos resta denunciar o engodo que o governo Syriza se tornou e apontar o caminho da ruptura revolucionária com o atual sistema.


sábado, 4 de julho de 2015

Bichos urbanos

Bichos urbanos
Bicharada da metrópole excitada
Uns passeiam elegantes pelas vitrines
Outros se esbarram na pressa cotidiana
Bichos vistosos de Higienópolis
Bichos raquíticos de sei lá onde
Em comum?
Bichos urbanos, apenas
Bichos urbanos em tudo
Bichos da luta de classes

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Brigas pelo poder...

  publicado em http://tendenciarevolucionaria.blogspot.com.br/


A popularidade de Dilma cai cada vez mais. E não poderia deixar de ser assim. Pressionada pelo fantasma do impeachment, Dilma se entregou totalmente aos achaques peemedebistas. Entregou de bandeja a articulação política ao vice Michel Temer e promete não tardar em ceder emendas parlamentares aos sanguessugas do congresso.

O interesse dos golpistas era derrubar Dilma pra abrir ainda mais espaço à direita na gestão presidencial. Mas Dilma aceitou endireitar em troca de continuar presidente. Por isso o golpe foi protelado. Tudo indica que a estratégia da direita agora é sangrar o PT e sua imagem com os trabalhadores para, em 2018, vencer o PT nas urnas.

Mesmo assim resta um impasse aos direitosos, a saber, se livrar do espectro populista de Lula. Curioso que Lula começa a criticar a gestão dilmista com o intuito de se descolar de sua impopularidade e pavimentar seu retorno em 2018, a despeito da política entreguista e reacionária das sucessivas gestões petistas.

Ora, de qual expediente a direita se valera então? Do expediente judicial. A tática agora é criminalizar Luis Inácio. O ministério público e a polícia federal já parecem bem próximos de colocar as mãos em Lula. Marcelo Odebrecht, o filho, caiu semana passada. Odebrecht pai se ressentiu e afirmou que se o filho ficasse detido, teriam que construir três novas celas: uma pra ele, uma pra Lula e uma pra Dilma.

O cerco está fechando pro lado de Lula. A policia federal é bem capaz de pegá-lo. A essa altura do campeonato só os petistas mais ingênuos podem acreditar na lisura de caráter do ex-presidente. Lula dá indícios de estar morrendo de medo e reclama aos mais íntimos de estar vulnerável às investidas da justiça agora que não conta mais com foro privilegiado.

Pra usar um português bem claro: Lula está encrencado! Se for preso e indiciado por corrupção, terá que dar adeus à credibilidade política com suas bases e à possibilidade de um terceiro mandato em 2018. Conforme o tempo passa, as possibilidades de uma reviravolta petista vão se esgotando, e a volta da direita tradicional à presidência fica cada vez mais provável.

Toda essa movimentação política, acompanhada de um notório avanço conservador da opinião pública, leia-se grande mídia e classe media alta reacionária, prejudica em muito os interesses dos mais pobres.

Por exemplo, as investidas da direita contra Dilma fizeram com que esta se apressasse em lançar mão de uma agenda abertamente neoliberal, de ajuste fiscal e austeridades, cortando direitos trabalhistas e tirando verba de setores essenciais do serviço público.

Não quero dizer que Dilma não tenha culpa, que só fez tudo isso por estar pressionada. Não é esse o caso. Há treze anos que o PT vem implementando políticas antipopulares. Mas há setores da burguesia que desejam um governo ainda mais a direita, e Dilma e o PT estão se ajustando a essa demanda da elite. Caso contrário, haveria impeachment. Ou seja, Dilma e o PT estão abrindo concessões à direita para permanecer no poder.

Outra questão. Dilma se posicionou contra o aumento da maioridade penal. Será que Aécio como presidente seria contrario a PEC 171, tão propalada pelos congressistas picaretas liderados por Eduardo Cunha? Ou, será que outro presidente ameaçaria vetar a PL 4330, que regulamenta a terceirização?

Não ha duvidas de que o PT hoje seja um partido de direita, ou centro-direita. Mas devemos ser honestos e apontar diferenças entre uma direita e outra, entre PT-PP-PL, etc... e PSDB-DEM-PPS. Ambas coligações defendem interesses de poderosos, mas devemos dizer que a burguesia não é um monobloco. Há distintas frações, com interesses variados. Lula mesmo subiu ao poder apadrinhado por José Alencar, representante  de capitalistas brasileiros que desejavam mais espaço e benesses, em contraposição aos sucessivos governos mais alinhados ao capital financeiro.

Mais uma vez: não há dúvida de que quem mais sofre com tudo isso seja o povo pobre. O país mergulha na recessão e o desemprego chega a níveis alarmantes, 8,5%, bem como a inflação, que tem tudo pra chegar aos 9%.

A depender da velha direita e do PT, tudo continuará a mesmíssima coisa. Enquanto eles travam batalha por postos no alto- escalão da república, os trabalhadores perdem poder de compra, pagam quantias absurdas de energia elétrica e impostos e se vêem sem alternativa diante da precariedade dos serviços públicos.

O momento pede radicalidade. A classe trabalhadora e os sindicatos precisam lançar mão de greves gerais que sacudam esse país. Não podemos depositar nenhuma esperança no degenerado PT.  Que a crise do PT nos sirva de lição e exemplo, para recusarmos as soluções reformistas, as alianças espúrias, o messianismo político cego e acrítico. Para revolucionar esse país necessitamos romper com os velhos vícios da pelegagem e vislumbrar o poder popular.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Soneto do Desabafo


                                                                                       soneto


Te mandei ate poema do Neruda
Te mandei flores, bolos e doces 
Mas não dei conta de que és cabeçuda
Meu lirismo seria útil se sensível fosses


Tua sensibilidade habita outros cantos
Disso eu deveria estar ciente
Menores seriam os meus espantos,
Maior a orgia, e a tristeza ausente


Entre tuas delgadas pernas
Eu fui só um objeto fálico,
Ingênuo, pensando coisas ternas


Toma teu trago, teu vinho e papoula
Eu já deveria ter me tocado
Poema de cú e rôla

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Um vácuo à esquerda


                                                    por Mário Medina
Todas as medidas do chamado ajuste fiscal de Dilma/ Levy, como o mega-corte de cerca de 70 bilhões no orçamento da União, com vultosíssimas quantias retiradas de áreas notadamente em crise, como educação e saúde; o endurecimento nas regras de benefícios como seguro desemprego e pensões por morte; tudo em função de garantir o pagamento religioso dos juros da divida pública, fazem do Governo Dilma um governo cada dia mais impopular, e do PT, um partido cada vez mais rejeitado.
Os discursos de campanha fizeram com que milhões de brasileiros acreditassem no PT e depositassem suas esperanças no voto em Dilma. Diante da ameaça do retorno tucano, outros milhões optaram pelo voto útil em Dilma pra barrar um eventual ascenso da direita. Pois bem, agora esses milhões de brasileiros amargam a crise recessiva com um governo que, a despeito de se reivindicar do Partido dos Trabalhadores, governa como árduo defensor dos interesses da elite, cortando na carne direitos históricos da população, fazendo com que os mais pobres paguem pela crise.
A contradição do PT é tão grande que uma ala de parlamentares se recusam a votar nas medidas 664 e 665 e já falam em abandonar o partido. Tudo isso porque Dilma e o PT se apegaram tanto ao poder que preferem continuar administrando o estado brasileiro ainda que seja pra manter a pose. As pessoas mais razoáveis a uma hora destas já notaram que o PT não manda mais em nada.
O PT virou completo refém da máquina, um mero boneco de ventríloquo nas mãos do PMDB e da alta burguesia brasileira. O PT caminha por uma degeneração sem volta; e caminha mesmo para desfiliações em massa e rachas incontáveis. Uns pela direita, como Marta que abandonou o barco e optou pelo PSB como destino; mas também com dissindências de parlamentares e figuras públicas mais progressistas que recusam em centralizar-se diante dos ataques desferidos ao conjunto dos trabalhadores.
O Brasil assiste a queda do mais importante partido da volta à democracia, um partido que por anos, talvez, décadas, serviu de referência aos trabalhadores e jovens que ansiavam por um país livre do poder das oligarquias e de seus caciques; partido que capitalizou os sonhos libertários de toda uma geração de lutadores, mas que agora chega à sua ruína, e, em seu afã pelo poder, distribui maldades a torto e a direito.
Oxalá os partidos da esquerda revolucionaria filiem essa camada de petistas honestos e descontentes e consigam diferenciar-se do PT em suas trajetórias. A historia se repete primeiro como tragédia, depois como farsa. Estaremos aqui lutando para construir uma oposição operária e comunista. A tarefa agora é construir um partido operário e revolucionário pra reagrupar lutadores e militantes, e servir de referência em tempos de tanta crise de referência.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Difícil ser pobre



                                                         Crônicas do mundo micro

A ideia é contrapor fatos do cotidiano à notícias do dia veiculadas pela grande mídia.


A vida no Brasil anda cara. Todo mundo sabe disso. Tendo que viajar ao interior de São Paulo, pra região de Ribeirão Preto, optei por uma alternativa mais econômica, e ao invés de viajar em linha convencional de ônibus, me meti numa semi-aventura com uma companhia que transporta sacoleiros do interior que fazem bate e volta no Brás.
Pra ser sincero, devo dizer que essa opção não é minha preferida. O ônibus sai com atraso, o serviço é ruim, o veículo vai abarrotado de sacolas e sacoleiros, todos misturados por falta de espaço no bagageiro, etc...
Ao entrar no ônibus, tendo me acomodado com alguma dificuldade no assento que me tinham reservado, desabafei com a senhora da poltrona ao lado:
- Difícil ser pobre, hein...
Ela confirmou meu comentário com um sorriso simpático.
E, como a desconhecidos o assunto de conversas como essas sempre seja ocupado por observações climáticas, principiamos a falar da garoa e do tempo ligeiramente frio daquele fim de tarde paulistano.
A senhora falava do clima em Franca, seu destino, e dizia que por lá o tempo era propício à colheita do café.
- A senhora colhe café?
- Colho.
Foi então que minha curiosidade falou mais alto e quis saber do cotidiano dos cafezais, dos horários de colheita, etc.
A senhora se apresentou. Dona Josefina, 49 anos. Se me dissesse ter 60, eu acreditaria com naturalidade. Tomara que ela não tenha notado espanto no meu olhar. Tinha feição de mulher sofrida, rosto enrugado e queimado do sol, cabelos compridos e o bonito sorriso de uma providencial dentadura.
Dona Josefina me contou ser de Minas Gerais. Viera passar uma temporada na casa de um dos seis filhos, com o intuito de colher café por uns meses, pra ocupar o tempo ocioso do desemprego advindo de uma safra não muito promissora em sua cidade.
Voltava da casa de outro filho, que agora constrói uma casa em Francisco Morato, região da grande São Paulo, e ao chegar em Franca, se encontraria com seu caçula, sua única companhia depois da viuvez que veio três anos atrás.
O ônibus saiu da cidade e tomou a rodovia. Dona Josefina cochilou e eu fiquei contemplando um lindo pôr do sol detrás da paisagem de montanhas verdes. Fiquei imaginando as pessoas que nessa hora voltam dos cafezais pra suas casas, do pouco tempo que tem pra aproveitar a companhia da família antes de dormirem e levantarem lá pelas quatro da manhã, tendo de fazer tudo de novo no dia seguinte.
De manhã, pela TV, havia visto Dilma receber o primeiro-ministro chinês em reunião solene de acordos bilaterais.
Agora eu via o céu alaranjado por cima da estrada, de dentro de um ônibus cheio de gente, ao lado da minha nova amiga agricultora...
Ser pobre é difícil. Mas dignidade não se compra. Melhor ser pobre e passar despercebido do que ser presidente de uma semi-colônia e fechar os olhos diante da miséria alheia.
Ou... melhor ser pobre e passar despercebido do que ser burocrata de um governo que se diz comunista e que esfola sua gigante população pra se manter no primeiro lugar da economia mundial.
Na esfera macro dos acontecimentos há muita pompa e negociatas. Já imaginaram dona Dilma pegando no pesado e viajando cinco horas num ônibus apertado?

quinta-feira, 14 de maio de 2015

O país de uma meia duzia...

                                                                                                              por Mário Medina

Como diz o ditado: Não existe almoço de graça. Alguém sempre tem de pagar a conta. No Brasil, quem paga a conta da farra dos especuladores, banqueiros e grandes capitalistas é o trabalhador. Via de regra, por aqui os lucros são privatizados e os prejuízos, socializados. Não é que o Brasil seja um pais de ninguém; o Brasil é o pais de uma meia dúzia. Sempre foi assim, e, a depender da pequena elite que gere os negócios por aqui, tudo deve continuar a mesmíssima coisa.
Só mesmo a revolução socialista para livrar o Brasil da barbárie capitalista. Não é exagero algum afirmar isso. O discurso de tom conciliador do PT, essa ilusão reformista difundida por uma outra meia dúzia, só que esta travestida de intelectualidade universitária progressista, evidencia seu fracasso, sua saturação, e pede passagem para alternativas radicais.
Não é qualquer governo que está desferindo duros golpes contra os direitos da população trabalhadora. Estamos tratando de um governo que se diz dos trabalhadores, defendido e tido por velhos pelegos como um governo democrático e popular, orgulho da nação. Contradição maior não poderia haver. Esse governo que está aí é composto por quadros políticos que ha décadas atrás eram a esperança das cabeças mais progressistas.
Pois bem, foi esse governo que passou as MP`s 664 e 665 no congresso. Ou seja, de um governo que se esperava a defesa intransigente dos direitos trabalhista é que saiu o maior dos ataques dos últimos tempos. Dilma só não sofreu impeachment da extrema direita porque continua sendo a opção mais funcional à maioria do conjunto da direita e dos capitalistas.
Talvez FHC não fosse tão eficiente, capaz de tal proeza direitista. Marina e Aécio igualmente. As tendências golpistas dentro da atual gestão refluem à medida que Dilma abre mão de seu programa de campanha em favor dos interesses da meia dúzia patronal brasileira.
Já afirmávamos que Dilma dava os aneis pra não perder os dedos. E vai continuar assim. Esse governo vai ser desmoralizado e sangrado de modo que as chances de Lula em 2018 sejam minimizadas em favor da vitoria eleitoral da direita mais tradicional.
O ascenso da direita no Brasil é inquestionável. Globo e Veja dão a tônica da oposição ao governo Dilma, e, de panelaço em panelaço, uma nova geração de reacionários dorme acreditando que a culpa é só do PT, que o PT é comunista, castrista, bolivariano, etc, etc.
Ora vejam, o mesmo PT, que no dia anterior à votação do projeto que endurece a concessão ao seguro desemprego e às pensões por morte, levou ao ar um programa de TV que se opunha ao PL 4330, da terceirização. É o cumulo da cara de pau. Cinismo pouco não faz mais o estilo da cúpula petista.
No primeiro de Maio da CUT, em São Paulo, Lula subiu ao palco ovacionado pelos capas-pretas da maior e mais representativa central sindical do país, e dirigiu à multidão que ali se encontrava o seu discurso mais à esquerda dos últimos tempos. Natural que ele agora assuma um discurso radicalizado. Acuado pela direita, e até numa tentativa de se descolar da figura mal avaliada de Dilma, Luta tenta tirar o seu da reta. Ele, mais do que ninguém, devia ter ciência do que são capazes os ricaços brasileiros.
Ironia do destino ver Lula dizer agora que a elite brasileira é mal agradecida, que ele cooperou com vultosas quantias via BNDES para que os capitalistas brasileiros se desenvolvessem e batessem recordes de lucros num momento mais favorável da economia mundial. Lula entrou no jogo da democracia burguesa, e agora terá de se ver com as conseqüências cíclicas do sistema. A queda na taxa de lucro dos capitalistas chegou pra levar direitos trabalhistas consigo, e, com Dilma ou sem Dilma, com PT ou sem PT, o ajuste será cobrado pelos abutres. Pobre do povo brasileiro, que agora tem de amargar o desemprego na casa dos 7%, os juros em escalada, os aumentos abusivos nas contas de energia elétrica, a inflação corroendo os defasados salários, etc.
Os tempos são maus, e exigem soluções drásticas. Greve geral já! É hora dos trabalhadores tomarem as ruas contra as barbáries do sistema, com palavras de ordem de transição ao socialismo, com ação direta e protagonismo operário. Ou é isso ou então o Brasil continuará sendo o país de uma meia dúzia.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

A rua é do povo!!!

Crônica de um ato
                                                                     por Mário Medina
Aqui ninguém posa pra selfie com quem massacra nosso povo- dizia o cartaz de uma moça.
Ué, a Globo News não tá transmitindo nosso ato ao vivo? Como assim, Rede Globo?- ironizava Boulos do alto do imenso carro de som.
Garoava, uma garoa ora fraca ora forte. Quando aumentava, parte da multidão se abrigava debaixo dos poucos toldos às margens do Largo da Batata. Muita gente, muita gente mesmo, cerca de 40 mil pessoas, várias centrais sindicais, vários partidos da esquerda, até o PSTU tava lá... Muitos jornais circulavam, várias baterias animavam os manifestantes. No carro de som se revezavam representantes de todas as matizes da esquerda, presidentes de centrais e grandes sindicatos, políticos, figuras públicas, etc... Greve geral e unidade da esquerda eram consenso entre os oradores.
A passeata saiu debaixo de chuva.. Tomou a Faria Lima e entrou à esquerda na Rebouças.
Canta, canta, minha gente, deixa a tristeza pra lá, canta forte, canta alto, que a vida vai melhorar- cantava a massa de manifestantes do MTST. Atrás vinha uma interminável sequência de fileiras partidárias.
Hey, coxinha, vai bater panela!!!- gritava a multidão. A chuva foi apertando gradativamente. Na metade da Rebouças uma chuva torrencial me fez buscar abrigo na entrada de um estacionamento. Outros companheiros tiveram a mesma ideia e em pouco tempo havia dezenas de pessoas amontoadas ali.

-Você é do MTST?- perguntei a um homem do meu lado
 - Sim, assentamento tal.
- E onde fica esse lugar, cara?
- Pra lá do Jardim Ângela.
- Porra, é longe hein, camarada.
- Mais de duas horas pra chegar lá.
- Me diz uma coisa: como é o assentamento lá, companheiro? Vocês tão construindo lá?
- Não, é tudo barraco de lona.
- Ah é, sem piso, sem nada?
- Não, a gente faz um piso de cimento queimado.
- Hum... entendi.
A chuva parou e eu retomei a marcha Rebouças acima, na retaguarda da multidão. E, pra minha surpresa, o ato saia da Rebouças pra pegar um caminho alternativo pelas ruas do Jardim América, reduto elitista da região. De dentro das lojas de grife e dos cafés elegantes, burgueses atônitos olhavam o povão tomar as ruas. Um povo sofrido, judiado pela vida, alguns não muito bem vestidos, outros desdentados, crianças meio desgrenhadas, bichos grilos como eu, de chinelo de do, etc, mas um povo de luta, combativo, em movimento constante pra se desgarrar das amarras impostas pelo capital.
pl terceirização 15 de abrilEsse povo subiu triunfante a rua Augusta. Verdade que algumas senhoras idosas tiveram que parar pra respirar e assim transpor a cansativa ladeira que dava na Avenida Paulista. A passeata ainda passou pelo MASP e foi acabar na frente do prédio da FIESP, diga-se de passagem, muito bem protegido por dezenas de policiais.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Por teu colo

poema

Sob os auspícios da verve
Imerso nos domínios do onírico
Eu adentro a ordem dos lepdópteros
Assumo tal natureza
Ruflando desbaratinado
Pelas quedas d’água
Num vale que me pertence
Por la eu voo a tua espera
Rodopio de alegria ao te ver
Miro os teus cabelos longos
E me aproximo do teu sorriso aberto
Flerto com teus adornos rústicos
Admirando teu estilo despojado
Pouso sobre tuas coxas brancas
E nelas sacio meus desejos
De proximidade e intimidade
É bem verdade que na tua presença
   [ eu posso observar feitos mágicos
Tais como libélulas assentadas e ordenadas
                                                     [ sobre um zíper
Ou copulando trepadas sobre a cabeça
                                              [de um duende
Mas o que me regozija o espírito
É a possibilidade de teu colo
Todos os pretextos do mundo por teu colo


 

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Unificar a esquerda e ganhar as ruas!!!

por Mário Medina


Complicado ser militante da  esquerda revolucionária no Brasil. Os coxinhas e os ultraesquerdistas nos acusam de governistas. Os governistas, os petistas, etc, nos acusam de conspirar com a direita, ou nos chamam de extremados, de utópicos.
Mas pra fazer política revolucionária importa analisar com frieza a conjuntura e optar pelo caminho mais favorável à classe trabalhadora. E muita gente que se diz de esquerda parece bem mais preocupada com a impressão alheia do que com qualquer outra coisa.
Mas, verdade seja dita, a despeito da confusão geral, a esquerda continua extremamente fracionada e a crise de direção é cada vez mais patente no seio da nossa classe.
Nós, da RPR, por exemplo, somos filiados ao Psol, que é composto por um grande número de correntes, que, em comum, só tem mesmo a legenda partidária, porque cada uma é filiada à uma central sindical diferente. Todas elas encasteladas em seus aparelhos sindicais, bem como PSTU, PCB, PCO, etc.
Os fascistas avançam nas ruas e no parlamento, cooptam o governo cada vez mais, que por sua vez esfola o povo com mais austeridade... e o que a esquerda tem feito? Muito pouco.
É preciso fazer uma autocrítica aqui, aparar arestas e compor unidade pra frear o ascenso da direita. Ou a classe trabalhadora terá de amargar ainda mais retrocessos. É por isso que reiteramos o chamado do Comitê Paritário à uma frente única antigolpista e antifascista; é por isso que endossamos a necessidade de um ato de unidade da esquerda no próximo dia 15, pra fazer frente aos golpistas, ao mesmo tempo que rechaçamos esse governo entreguista e submisso de Dilma e PT.
Não se trata de defender Dilma do impeachment, mas de pontuar que esse impeachment do PSDB-PMDB, defendido veementemente pela elite branca desse país, não nos contempla, que esse impeachment abriria precedentes ao golpismo.
É preciso sair às ruas, pintar às ruas de vermelho, construir alternativas de poder popular, ganhar a consciência das massas e barrar todos os ataques dos traidores do PT.
Se é pra chamar Fora Dilma, então que haja Fora Alckmin em São Paulo; Fora Pezão no Rio, Fora Richa no Paraná, etc, etc.
Não queremos Dilma, mas também não queremos Michel Temer presidente, não queremos a oposição de direita empoderada. Isso é tão lógico, meu Deus. Por que não existe essa clareza?
Ninguém aqui está conformado com tarifaços, retirada de recursos da educação e da saúde, retirada de direitos trabalhistas. Queremos e vamos pra cima do PT e do governo, mas não são só as cabeças petistas que tem de rolar. É preciso ganhar a massa na rua e varrer o Brasil da politicagem burguesa.