sábado, 15 de agosto de 2015

Nostalgia

                crônica
Há pouco mais de 15 dias perdi minha vó paterna, Dona Leonor. Minha vó
era filha de espanhóis que chegaram ao Brasil no inicio do século passado. De família numerosa, ao modo habitual daquela época, estudou pouco e começou a trabalhar cedo. Também casou cedo e ficou viúva aos
28 anos, tendo que criar sozinha seus três filhos, sendo o meu pai, o mais novo, um bebê de apenas um ano e meio.
Mas não pense o leitor que esse artigo se trata de uma nota de
falecimento. Só achei por bem começar o texto falando da trajetória de
minha avó pois foi pensando nela que me peguei relembrando passagens
da minha infância, memórias dos dias que passava em sua casa, no Pari,
bairro no qual, embora eu não tenha nascido, vivi dos dois anos em
diante.
Minha vó vivia numa casa térrea e pequena, ao fundo de uma comprida
vila de casas na rua Olarias. Vez ou outra passava o dia com ela.
Ficava vendo televisão enquanto ela passava a maior parte do dia
sentada diante de uma máquina de costura. Minha vó era costureira de
cortinas.
Agora que perdi minha vó há tão poucos dias, sou tomado por uma
natural nostalgia daqueles tempos. Lembro do forte cheiro adocicado da
fábrica de biscoitos que havia no quarteirão de trás. Naquele tempo o
Pari era um bairro mais ameno, um bairro residencial, com muitas casas
de muro baixo com jardins a frente.
Agora o Pari é uma continuação mal acabada do que o Brás foi por muito
tempo seguido, ou seja, uma região de comércio pujante, com escassos
moradores; lugar de muita movimentação durante o dia e de ruas quase
desertas no período da noite.
Natural que as coisas mudem com o tempo, e mais natural ainda que eu
tenha nostalgia do Pari da minha infância, o Pari antigo, dos campos
de várzea, das praças apinhadas de crianças, dos botecos de esquina
onde a gente parava pra pedir água… (naquela época a gente bebia
água da torneira mesmo, não me lembro de comprar água mineral).
Por quase uma década vivi com minha família numa casa razoavelmente
grande na rua Padre Lima. Lá a gente brincava nas ruas com alguma
tranqüilidade; as famílias sentavam a frente das casas enquanto as
crianças jogavam bola ou andavam de bicicleta. Lá eu interagia com
meninos que moravam num cortiço do outro lado da rua. De lá, por
exemplo, me lembro de uma família de onze filhos, todos com nomes que
começavam com a letra M. Depois morei na rua Madeira. E, depois, na
Monsenhor Andrade.
Mas o Pari das minhas memórias infantis nao é tão curioso quanto o
Pari das histórias inusitadas. Uma das minhas tias, durante o velório
da mãe, em meio a uma mórbida conversa, dizia que não desejaria ser
cremada depois de morta, e, como argumentação, evocava a memória da
historia de um conhecido que morava na rua Rodrigues dos Santos e que
quase fora enterrado vivo.
No tempo da febre amarela, o homem, internado no hospital da Santa
Casa, depois de tido como morto, foi colocado numa sala com muitos
corpos que seriam enterrados no dia seguinte. No meio da noite o
sujeito despertou, pulou o muro do hospital e foi pra casa. Bateu na
porta mas a mulher, apavorada, não abria. A mulher, desesperada e aos
prantos, gritava ao marido que voltasse ao mundo dos mortos, que ele
não estava mais vivo, que fosse embora dali. A filha teve que acalmar
a mãe e abrir a porta ao pai. Minha tia conta que o homem ainda viveu
muito depois do incidente, que morreu depois da mulher, inclusive.
Hoje tendo a ver o Pari de forma mais amarga, e me ressinto
sobremaneira de ver que com o tempo não veio a virtude. É duro ver que
o bairro abriga uma classe média rancorosa e reacionária. Porque eu
tenho saudade do Pari da minha infância, mas não suporto o Pari dos
velhos bairristas, malufistas ou tucanos, todos eles uns chatos; o
Pari dos senhores que xingam o Haddad porque não querem conviver com
os refugiados haitianos ou com os imigrantes bolivianos, por exemplo.
Tenho amor pelo Pari dos meus dias juvenis, dos meus tempos de
adolescente, quando ia com os amigos comer os lanches gordurosos da
Balneária. (Agora eu sou um rapaz mais saudável, garanto).
Uma vez, voltando do Rei das Esfihas com três amigos, levei uma batida
da policia, memorável de tão engraçada. Eu estava com um rosário no
bolso. O policial, na hora da revista, tateou-o e perguntou do que se
tratava. Falei que era um rosário. O soldado puxou aquele rosário
enorme e o meu amigo Edu caiu na risada. O Edu era chamado de Soneca
também. Tinha as pálpebras meio caídas, era cabeludo e muito magro.
Quase apanhou da PM nesse dia…
Quando chegamos à casa do Ricardo, não sabíamos do que riamos mais; do
incidente com a policia ou de um acontecimento anterior no
restaurante. Acontece que naquela época o Rei das Esfihas era menor e
tínhamos que esperar vagas de mesas. Umas meninas bonitinhas
desocuparam uma, e, antes que o Tadeu, lendário garcon pariense,
limpasse a mesa, nos sentamos e eu comi uma coxinha que fora deixada
ali quase intocada, com apenas uma mordida.O pessoal me chamou de
nojento, tirou o maior barato. Eu não tava nem ai… Ah os jovens…meu Deus… É deste Pari que tenho saudades.                                                   
  

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Flor clara de Agosto

poema

Flor clara de Agosto,
Primorosa amiga minha,
És forte
Vigorosa
E doce...
Encantadora criaturinha
Merecedora das mais ternas
            [ e poéticas definições
És um elo com o sublime
És meiga  na dose correta
E firme...
Admiravelmente assentada na graça
Ah, flor clara de Agosto,
Presente raro do inverno dessa terra,
Tua beleza e autenticidade
Pervadem meu peito
Em sorrisos e lágrimas ardentes

És lívida, porém marcante
És clara
Vivíssimo e transparente ser
És a flor mais bela desse Agosto
Presente do sumo bem
Vocacionada da claridade


Auditar a dívida, romper com os sanguessugas!


                                                                                     por Mário Medina


A diferença de renda entre ricos e pobres sempre foi alarmante no Brasil. Todo mundo sabe disto. Não é novidade pra ninguém. A despeito dos discursos dos petistas que bradam terem eliminado a miséria no país, o Brasil continua a ostentar um dos maiores índices de concentração de renda do mundo. Nesse mês a Receita Federal divulgou tabela que revela bem essa realidade. Segundo a própria receita, menos de 1% dos brasileiros detém cerca de 30% da riqueza declarada.
Os dados estão no site da receita para que qualquer um tenha acesso. Segundo os dados, 71 mil brasileiros concentram 22% de toda riqueza. Essa elite representa 0,3% dos declarantes do imposto de renda em 2013. A concentração da renda no Brasil é de espantar qualquer um. 
Outra coisa que espanta é notar que os mais ricos pagam menos impostos, enquanto a fatia mais pobre da população paga mais. A receita aponta que os 72 mil brasileiros mais ricos são tributados em até 66% de sua renda, enquanto os cidadãos que ganham até cinco salários mínimos são tributados em 95% de seus ganhos.
Essa desproporção toda poderia ser corrigida caso houvesse vontade política para taxar as grandes fortunas. Se o Brasil tributasse lucros e dividendos de sócios e acionistas de empresas, por exemplo, coisa que acontecia até o ano de 1995, o país voltaria a arrecadar uma quantia de cerca de 50 bilhões, quase a mesma quantia que Dilma cortou no atual ajuste fiscal.
Na campanha presidencial do ano passado, nos acalorados debates de tv, os principais candidatos ao planalto sequer tocaram no tema. Com exceção dos presidenciáveis da chamada ultra-esquerda, PSOL, PSTU, PCB e PCO.
Luciana Genro, única candidata da esquerda a participar dos debates, propunha taxar em 5% as fortunas que ultrapassam 50 milhões de reais, o que uma parcela da esquerda julga pouco, mas que já faria uma diferença substancial na receita da união.
A queda da popularidade de Dilma tem tudo a ver com isso. Em tempos de crise, Dilma foi ao horário de propaganda e aos debates de tv assegurar que em seu segundo mandato asseguraria direitos, que não cortaria investimentos e que não elevaria os juros, entre outras propostas. 
Na mesma semana de sua vitória eleitoral deu ordens de elevar os juros, e em pouco tempo sua popularidade foi caindo conforme despejava o ônus da crise sobre os ombros dos trabalhadores.
O PT não tem vontade política de romper com os banqueiros e rentistas. Pelo contrário, faz de tudo para garantir as gordas fatias de lucros sobre juros. A dívida brasileira só faz crescer e Dilma, que tanto acusou os tucanos de plantar inflação pra colher juros, faz o mesmo jogo da direita agora que é governo. 
Aliás, Dilma só está no governo porque continua sendo funcional aos desejos da elite financeira do país. Verdade que uma ampla parcela desta elite prefere a gerência tucana, mas dificilmente haverá impeachment se Dilma continuar se dispondo a aplicar a linha política da direita. Como a direita vai batalhar pra derrubar um governo tão submisso, que abaixa a cabeça e faz todas as suas vontades? Repito, tem a direita que quer a cabeça de Dilma agora, mas a tendência é sangrarem o PT pra garantirem seu retorno via eleições de 2018.
Aos trabalhadores só resta romper definitivamente com o governismo do pelego PT e viabilizar alternativas de poder popular, com uma auditoria popular da dívida. Uma auditoria como esta poria a claro que não devemos mas que somos credores da burguesia sanguessuga.