sexta-feira, 25 de março de 2016

Tempo

Ontem, dia 24, quinta feira santa, fui ao ato em defesa da democracia convocado pelo MTST. O ato saiu do Largo da Batata, na Faria Lima, em direção ao prédio da Globo, na Berrini.
Tava eu lá.no meio do ato quando me deparo com um amigo de 15 anos atrás. Encontrei-o com a barba ligeiramente maior, esse modismo da atualidade pega muita gente, e pelo menos uns 30 quilos mais gordo. Talvez mais. Fazia uns anos que não o via. Encontrara-o pela última vez no Museu da Resistência, que, aliás, recomendo a todo mundo. Lugar incrível.
Mas, como dizia, encontrei meu amigo. Barbudo, gordo e casado. A esposa tava do lado; uma moça bonita e simpática. Caminhamos juntos os três pelo resto da passeata, relembrando nosso tempo de adolescentes de igreja. Ele, líder de uma banda católica e eu um jovenzinho que os acompanhava pra todo canto.
Fomos andando na passeata e eu lhe perguntando se tinha notícias de uns e outros.
- E fulano, casou?
- Casou...
- Ah é? Que legal....
Nem terminei de falar e ele completou:
- Casou e separou, teve um filho
- Puxa... E Beltrano?
- Ah, o beltrano foi no meu casamento ano passado. Tá gordo também; não muito.
Lembrei que tinha perdido o horário da missa e ele retrucou:
- Tá nessa ainda?
- Ué, você não vai na missa?
- Não acredito mais. Virei ateu.
Fiquei sem reação.
Lembramos de um grande amigo daqueles tempos e ele disse que tinha até excluído o cara do facebook. Virou reacionário, reacionário chato de facebook. Mas eu não o exclui. Sou do tipo de pessoa que prefere ter um amigo idiota a desfazer uma amizade. Quando é assim, melhor a gente se lembrar da pessoa como era a pensar no que se tornou.
Nossa, lembramos de muita gente. A maioria, notem que curioso, virou professor, profissão ingrata.
Comunista só eu me tornei. A  amiga daquela época que eu mais acompanho por facebook é petista de carteirinha e virou vegana radical. Esse amigo mesmo, embora seja de esquerda, está muito mais pra um tipo social democrata que vota no PT do que pra um militante revolucionário como eu.
Um milhão de coisas me passaram pela cabeça de ontem pra hoje. Quinze anos é uma vida. Quero ver daqui outros quinze anos o que nos espera. Quando chegar lá, sento e escrevo outros apontamentos. Mas tenho medo do que pode vir por aí. Sim, eu tenho medo.
Acabei de descer a rua Augusta. Entrei numa lan house e escrevi isto. Como diz o slogan da rádio: em vinte minutos, tudo pode mudar. Nem precisa esperar quinze anos pra ver o que poucos minutos podem nos trazer.
Agora vou pra casa do meu pai, que me ligou dizendo ter me comprado um canole de creme. Quem é da Móoca e adjacências sabe do que tô falando. Hoje a sexta feira é santa mas parece que vou dormir na terça feira gorda.
Daqui 15 anos faço uma bariátrica. Até lá aproveito e penso mais nas agruras do tempo