quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Histórias de busão

Entrei no coletivo e sentei na frente mesmo. O ônibus ia quase vazio e eu tinha que esperar uns minutos pro bilhete liberar outra viagem. Num banco a poucos metros do meu se sentou um rapaz cheio de tatuagens e pulseiras no braço, um tipo malandro, cabelo descolorido e óculos escuros pendurado na altura de um topete em riste que era puro gel. Além de chamar atenção pelo visual excêntrico, o rapaz cantarolava:
_ Tira a calça jeans, soca o fio dental, morena, você é tão sensual...
O refrão nem chegara ao final e o motorista interrompeu:
_ Ô, campeão! Não é ''soca o fio dental'', corrigiu. _ É ''bota o fio dental''. E concluiu: _ Assim você me quebra, campeão! Tem senhora, criança aqui. Não pega bem esse negócio de '' socar o fio dental''. Não é mesmo, alemão?! - indagou olhando na minha direção.
Fiz questão de não responder nada. Odeio quando me chamam de alemão.
O ''cantor'' fez uma cara enfezada e desistiu de sua música. Estava constrangido.
A viagem seguiu seu rumo e eu passei pro lado de trás. Perto do meu lugar se sentaram duas moças. Estavam ouvindo música numa caixinha de som dessas portáteis. Escutavam o hit do verão ''Meu pau te ama''. Uma periguete rodou a catraca e se dirigiu às moças.
_ Oi! Onde é que vocês descolaram essa versão? Só tô encontrando a do ''papai te ama''. Papai é uma porra, nóis qué ouvir o som que dá a letra certa né, mano!
Eu não estava com sorte naquele dia. Mas depois lembrei que fazia dez dias que não via ninguém escutando música com referência à genitálias. Naquela semana eu tinha visto uma senhora crente ouvindo música gospel. O resto do povo ouvia suas músicas com fones de ouvido.
Saltei no meu ponto decidido a fazer as viagens com fone de ouvido e olhos fechados dali em diante. Estava vendo e ouvindo muitas coisas ultimamente.


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