sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

O louco amor de Jesus por nós


Santo Agostinho, falando sobre as provocações dos algozes de Jesus aos pés da cruz, diz que sua grandeza foi ter se eximido de sua condição divina e ter se entregue a nós por amor. Os soldados romanos zombavam de Jesus dizendo: "Se você é realmente o filho de Deus, então desce da cruz, e nós acreditaremos". Não sabiam, porém, que a grandeza de Jesus era justamente a de ser homem entre os homens, e padecer toda aquela dor por amor aos homens. Jesus poderia ter descido espetacularmente da cruz, num ato miraculoso. Tinha poder para tanto. Mas a grandeza de Jesus foi justamente a de abdicar do poder em função do amor. Era Deus se fazendo homem e se submetendo às condições mais ultrajantes por amor à humanidade. Deus que se fez pobre, que nasceu e viveu entre os pobres, peregrino por caminhos acidentados, que morreu torturado, como um renegado, um bandido, um louco. Passou por tudo aquilo, sendo Deus. Depois ressuscitou e mostrou seu poder. Mas só depois. Na cruz viveu plenamente sua entrega por amor aos homens. O ápice doloroso de uma vida inteira entre nós, na nossa condição humana.


" (...) não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos.
Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum".
                                                                              
                                                                                             Isaías 53:2,3

Resultado de imagem para Cruz. imagens

Nada mudou



É, pois é. Parece que o golpismo não vai querer liberar o Lula. Lula preso virou questão de honra pro populismo de direita. Lula preso faz parte do plano orquestrado pra ludibriar o pessoal que tem a cabeça feita pela mídia, que comprou a idéia do combate à corrupção, da santidade de Moro, da lisura da Lava Jato, todo esse recente conto da carochinha. 
Por outro lado, o PT capitulou completamente à encenação jurídica. Ninguém foi pra rua. Os grandes sindicatos não mobilizaram suas bases. Muito provavelmente Lula fica preso, e por muito tempo, porque vai começar a acumular outras condenações. 
Marco Aurélio de Melo corre o sério risco de ser calado por vias violentas e ter um fim como o do Teori, o cara do avião. 
O certo seria o Lula estar solto. Não só o Lula, mas cerca de 170 mil detentos que não tem o processo transitado em julgado. É cláusula pétrea da constituição. Acontece que há toda uma manobra política no TSE para que a lei não seja aplicada. 
Ou seja, o alto judiciário brasileiro é ponta de lança do golpe, agora junto das Forças Armadas, que logo logo vão ter que rifar o Bolsonaro. Vai ser golpe dentro do golpe, que surgiu de onde?! De outro golpe, claro. Uma sequência de golpes. Ou um golpe só com várias fases. 
E tudo isso pra gente perder direitos trabalhistas e sociais. O patrão fica rico. A gente fica fudido. Não muda nada, né.

                             


Resultado de imagem para Lula. imagens

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Sobre o caso da ministra Damares

Reuni abaixo algumas considerações que fiz nas redes sociais sobre o caso da recém nomeada ministra dos direitos humanos no governo Bolsonaro. Após a polêmica que surgiu ao dizer que teria visto Jesus no pé de goiaba.

                  Observação 1

Ela diz ter sido violentamente abusada quando tinha 6 anos. É uma história muito triste.
O episódio da goiabeira seria uma tentativa de suicídio.

De todo modo, ela se vale da história para engabelar incautos. Causa um choque na platéia e depois entra com a lavagem cerebral. Técnica clássica. Os gregos já faziam isso. Chama catarse. Desperta terror e piedade no sujeito que acompanha.

No caso da ministra, converge essa emoção pra um discurso de intolerância religiosa, ultra-conservador, alinhado à direita, a interesses de aparelhamento político do estado. É o evangelistão. Por sinal, de braços dados com uma camarilha de políticos picaretas a serviço da entrega do patrimônio público aos rentistas e ao grande capital norte-americano.

A gente tem que tomar muito cuidado. Esses caras são ardilosos.

                   Observação 2

Eu não tenho dúvida de que Jesus seria capaz de subir num pé de goiaba por alguém.
Eu acredito em Jesus.
É na picareta da Damares que eu não acredito.

Uma pessoa que encontrou Jesus não faria o tipo de discurso que ela faz, não andaria com as pessoas que ela anda.
Simples assim.




Obs: Pode até ser que ela viu Jesus. Poderia ter visto uma porção de coisas. Ela até que tem pinta de psicótica mesmo.



                  Observação 3

          O nosso Jesus frequenta outras goiabeiras....

                          Amém?!


Resultado de imagem para ministra Damares. imagens
                               

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Conheço o meu lugar / Parte 2

Vamos seguir com a análise da canção Conheço o Meu Lugar, do grande Belchior

Paramos, no texto anterior, na quarta estrofe da letra. Vamos partir agora pra estrofe seguinte.

''Fique você com a mente positiva
Que eu quero é a voz ativa (ela é que é uma boa!)''. É assim que Belchior inicia a quinta estrofe da canção, fazendo referência ao pensamento positivo, que critica como filosofia fajuta. É sempre bom lembrar, Belchior lança esse disco em 1979, tempo de decadência do movimento hippie. O movimento hippie foi uma tendência de contracultura muito importante na década de 60, mas que não durou muito tempo como alternativa anti-sistema, fracassando e caindo em descrédito. Belchior viveu tudo isso; era jovem, observou os movimentos políticos de sua época, como jovem intelectualizado, universitário, concluindo primeiro a faculdade de filosofia para depois ingressar em medicina, que, como dissemos anteriormente, abandonou no terceiro ano para seguir carreira musical.
Imagem relacionada

Em outras letras Belchior já havia pontuado o fim do sonho hippie, estabelecendo contundentes críticas a sua geração, como é o caso das emblemáticas Velha Roupa Colorida e Como Nossos Pais, ambas gravadas por Elis Regina. Essas duas canções integraram o álbum Alucinação, obra prima do cantor a qual já fizemos referência aqui. É importante frisar que esse disco é uma pancada. Do início ao fim um disco recheado de belíssima poesia e categórica crítica à contemporaneidade.

Belchior conclui a estrofe com outra bela sequência de frases, dizendo:"Eu sou pessoa!
A palavra pessoa hoje não soa bem.
Pouco me importa!" Tá aí mais uma sequência de críticas ao sistema social de seu tempo, ao individualismo, à banalidade das relações humanas, ao desrespeito à pessoa. Belchior intervém taxativo: ''Eu sou pessoa!'' Rebelde, insubmisso. Belchior, no bom português, pra não ficar em meias palavras, toca o ''foda-se'' com relação às expectativas de sua época. A crítica é fina, mas cortante. Por falar em cortante, outro verso famosíssimo de Belchior é o do refrão de A Palo Seco: ''Eu quero é que esse canto torto, feito faca, corte a carne de vocês''. Outra pérola da MPB registrada em Alucinação. Como diz no fim da estrofe, pouco importa o que é convenção para essa sociedade degradada pela desigualdade e pela hipocrisia. Urge constituir-se o homem novo.

Na estrofe seguinte Belchior começa falando de felicidade:  ''Não! Você não me impediu de ser feliz!''. De algum modo a felicidade é um movimento interior, que não depende só das circunstâncias exteriores, mas de uma resolução interna. É mais corrente esse pensamento com relação à paz, à paz de espírito, como deliberação do indivíduo que opta por uma disposição pacífica perante a vida. Aqui Belchior fala da felicidade como atributo de sua essência e como decisão perante a existência. É difícil ponderar a natureza específica da felicidade aqui. Pode soar como algo genérico. Mas soa como algo determinante na criação de um sentido, de um leitmotiv. Lembra o existencialismo de Sartre; a vida não tem um sentido; o homem é livre pra criar esse sentido. É um peso a responsabilidade, mas a decisão cabe ao homem.

Me perdoe o leitor o zigzag de temas. Como havíamos dito, a letra é muito rica de conteúdo e permite uma ampla gama de considerações.

A conclusão da estrofe é outra provocação muito recorrente em Belchior; a crítica à negligência com o Nordeste. Esse ponto é determinante em Belchior. Ele é nordestino, nascido em Sobral, interior do Ceará. Estudou na capital Fortaleza. E como todos os músicos de sua época, teve que vir ao sudeste para seguir carreira. A geração anterior a de Belchior, também de muita importância na música brasileira, foi a dos baianos. Caetano, Gil, Tom Zé, essa turma da tropicália, Novos Baianos, Raul Seixas, etc. E todo esse pessoal fez o mesmo percurso. Êxodo do nordeste com direção a Rio de Janeiro e São Paulo.

Belchior surge em meio a uma turma muito talentosa, conhecida como pessoal do Ceará. Fagner, Ednardo, Amelinha. Uma turma da pesada também. Espaço aqui pra aspas: que extraordinária a riqueza da música popular brasileira dessa época! Em Minas a turma do clube da esquina, em São Paulo Mutantes, Arnaldo Batista. Da década de 70 também Secos e Molhados e uma gama enorme de gente muito talentosa que poderíamos ficar aqui citando.

Mas como a gente dizia, Belchior cantou a beleza da cultura e visão de mundo nordestina, mas não deixou de dar voz à tragicidade do nordeste esquecido e relegado a último plano.

E conclui a letra Belchior: "Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos!
Não sou da nação dos condenados!
Não sou do sertão dos ofendidos!
Você sabe bem: Conheço o meu lugar!"

Belchior, mais do que a esmagadora maioria das pessoas, conhecia seu lugar. Sua origem geográfica, mas acima de tudo sua nostalgia, sua inquietação, sua identidade e sensibilidade.

Belchior foi e é um dos maiores letristas desse país, coisa que não é simples diante de tamanha riqueza de acervo musical.

Resultado de imagem para belchior. imagens

sábado, 24 de novembro de 2018

Idioma Desconhecido / documentário

Ótimo documentário, Idioma Desconhecido é um filme sobre armadilhas ao inconsciente. Sobre como o inconsciente coletivo é manipulado.
A grande mídia é criminosa, a indústria cultural é criminosa. O neoliberalismo é uma máquina de moer gente. E usa da guerra ideológica pra introjetar a visão de mundo que o beneficia.
Resultado de imagem para idioma desconhecido. documentário.  imagensÉ preciso romper a lógica estabelecida, através do pensamento crítico, através da solidariedade, do afeto. É preciso renunciar à sociedade do descarte e ressignificar a existência; imprimir significado à vida, combater a lógica do mercado e do trabalho alienado, do consumismo, do individualismo, etc, todas essas desgraças do mundo contemporâneo.



https://youtu.be/6CULrgHuhRE


Resultado de imagem para idioma desconhecido. documentário.  imagens

sábado, 10 de novembro de 2018

Conheço o meu lugar


Um mergulho em Belchior


"O que é que pode fazer um homem comum neste presente instante senão sangrar?" É com essa frase, forte e cortante, que Belchior inicia sua canção "Conheço o meu lugar". Uma música lindíssima. Tava com essa música na cabeça esses dias. Resolvi pesquisar pra ver se encontrava algo sobre ela. Encontrei pouca coisa. Imaginei que fosse achar muito mais. Porque é uma letra realmente muito rica.

Queria tecer algumas reflexões em cima, tendo em perspectiva a obra de Belchior como um todo. Mas bora voltar à letra.

Resultado de imagem para Belchior. imagensApós essa primeira frase, Belchior conclui o verso dizendo o seguinte: "Tentar inaugurar a vida comovida, inteiramente livre e triunfante". Puta que pariu! Que verso maravilhoso! E tem tudo a ver com o nosso tempo, período de turbulências, de crises de todo tipo. Essa música Belchior lançou num tempo em que a crise não era muito diferente. Gravou-a em 1979, 6 anos antes do fim da ditadura militar no Brasil.

Mais pra frente a gente vai ver que Belchior fará referências ao regime político de então.

Também hoje não há muito mais a fazer senão sangrar. Estamos diante de uma conjuntura de sangramentos. Socialmente falando, psicologicamente, filosoficamente. A contemporaneidade, o mundo do pós Guerra Fria, do neoliberalismo, das fraturas sociais, do fim das utopias, enfim, o mundo, tal como se encontra, só nos rende mais e mais sofrimentos. Sofrimentos existenciais, de crises de perspectiva, depressão, uma série de patologias do sofrimento subjetivo; isso tudo em estreita correlação com as crises sociais de uma sociedade de classes em frangalhos, em profunda crise, atolada num pântano de capitalismo financeirizado e moribundo. Motivos não faltam para sangrar. Somos uma sociedade dessangrada.

Mas o que podemos fazer? Belchior diz que "Tentar inaugurar a vida comovida". Aqui estamos diante de um tema muito recorrente em Belchior. Sua poesia é de uma sensibilidade ímpar, de chamamento à  ternura, de apelo ao humanismo. Belchior era um sujeito introspectivo, sensível. Muito inteligente, crítico, mas sempre com essa perspectiva altruísta. Defendia justamente isso, uma vida comovida, "inteiramente livre e triunfante". Aqui a filosofia política de Belchior. O cara era de esquerda mesmo, um libertário.

Belchior era um camarada idealista. Não filosoficamente falando, porque Belchior tinha um pensamento materialista, e isso  apesar dos laivos religiosos expressos ao longo de sua obra. Mas era um camarada de grandes ideais. E isso permeia sua obra.

Durante muito tempo foi tido como só mais um cantor romântico, porque de fato sua obra carrega esse traço de romantismo. Mas é muito mais que isso. A poesia de Belchior traz em si significados muito mais abrangentes, de engajamento político, de contestação da ordem e da cultura estabelecidas. Belchior critica a hipocrisia, a superficialidade, a perversidade, enfim, Belchior é defensor do homem novo, da revolução não apenas social, mas da abertura ao outro, da fraternidade universal.

                 Coisas do porão


Na segunda estrofe da canção Belchior fala da juventude. É uma estrofe bonita também, mas vamos à próxima, a terceira estrofe. A letra diz o seguinte: "O que é que eu posso fazer, um simples cantador das coisas do porão?" Aqui a referência à ditadura militar. Cantador das coisas do porão porque foi aos porões que a ditadura relegou uma geração de músicos, artistas, intelectuais e opositores do regime. Porão que também é referência aos "porões da ditadura", onde milhares foram submetidos à tortura. Foi em meio a esse contexto nebuloso que Belchior abandonou a faculdade de medicina pra se dedicar à música.

Em 1976 lançou o álbum Alucinação, sua obra prima, um LP repleto de clássicos, certamente uma pérola da música popular brasileira, apesar de ser um disco de arranjos simples, que foi lançado às pressas pela gravadora após o sucesso de músicas de Belchior na voz de Elis Regina.

               Botas de sangue


Na terceira estrofe Belchior faz outra referência à sublevação diante de um regime ditadorial. Belchior faz referência ao poeta Federico Garcia Lorca, executado a tiros por tropas franquistas na guerra civil espanhola. A música diz: "Botas de sangue nas roupas de Lorca", fazendo referência ao sangue do poeta, que morreu declamando seu último poema.

                                Olho de frente a cara do presente...

"Olho de frente a cara do presente e sei que vou ouvir a mesma história porca", continua a letra. A mesma história porca porque Belchior escreve essa letra, como já mencionamos, no ano de 79, ano da anistia. Belchior prenunciava que, assim como os assassinos de Lorca não foram penalizados por sua morte, assim também ficariam impunes os carrascos da ditadura brasileira. E de fato não houve responsabilização direta dos torturadores, bem como responsabilização por assassinatos, omissão de cadáveres, etc. Indenizações foram efetuadas, o estado brasileiro foi obrigado a reconhecer seus crimes, mas nenhum torturador foi levado à prisão.

Resultado de imagem para Belchior. imagens




* A segunda parte da música será analisada num segundo artigo.

                           

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

A história se repete

Para aqueles que ainda vêem o mundo tal como ele é, que não se fazem de sonsos, que não se escondem detrás do fascismo da vulgaridade e do habitual cinismo burguês, com vocês e entre vocês desejo traçar breve síntese do que estamos vendo nesses dias que se passam, diante da situação periclitante, das sucessivas surpresas da conjuntura sócio-política. Primeiro passo, não se deixar impressionar sem antes fazer uma análise fria e racional da realidade. Do que se trata tudo isso? Vamos lá.

Efeitos do acirramento da luta de classes.


Esse ódio de classe, assimilado ideologicamente pelo "pobre de direita", a classe média falida e reacionária, estava oculto, recalcado. A situação de aberta crise econômica e política está deixando tudo às claras agora. Esse fenômeno fascistoide é típico de conjunturas de extrema crise social. Assusta. Pelo teor da violência, pelo teor vulgar do ódio, aberto, declarado, sem máscaras. Mas esse ódio sempre esteve aí. E quem tem um conhecimento mínimo de história sabe do que se trata e aonde pode levar.
Existe ignorância, ingenuidade, uma porção de coisas nesse enorme bolo de partidários da besta, mas existe também muita maldade, doses colossais de reacionarismo do pior tipo, do mais ignóbil. Como alguns tem dito: Nem todo eleitor do Bolsonaro é fascista, mas os fascistas tupiniquins abraçaram Bolsonaro.
O grande capital, com o frio e calculado interesse de manter a normalidade de sua acumulação, já está acalmando os ânimos de cachorro louco do capitãozinho, mas isso não é exatamente suficiente para eliminar o risco de uma caça às bruxas por parte do setor mais ensandecido do movimento por ele "liderado". Por trás tem Paulo Guedes, tem os generais, tem toda uma gama de interesses. Um governo é muito mais do que aparenta ser. As contradições pululam, as frações se debatem, os lobbys correm soltos. Não dá pra fazer um prognóstico raso, não dá pra precisar uma imagem definitiva. O que dá, no caso, é apontar tendências problemáticas, indicativos de instabilidade.
Estão confiando o aparato estatal brasileiro a uma camarilha mista de lunáticos e aventureiros da extrema direita. E é gente muito poderosa que está afiançando isso, como os poderosos industriais alemães afiançaram Hitler, e deu no que deu. E um povo inteiro foi levado a cometer a maior barbaridade do século XX. O capitalismo engendra as maiores barbaridades na psique humana; os resultados são pavorosos. As ideologias financiadas por esses senhores, escondidos em seus institutos "liberais", são como um feitiço que foge ao controle do feiticeiro. Pode não ser o fim do mundo ainda, mas vai se encaminhando nesse sentido. Capitalismo é sinônimo de barbárie.

Resultado de imagem para Bolsonaro. imagens
                               

sábado, 6 de outubro de 2018

Daciolo é coisa nossa!

O Daciolo é um cara confuso. Mas não é má pessoa.
Ele é um híbrido de pautas progressistas na economia com conservadorismo no campo da moral e dos costumes. É um fanático, um cara meio obtuso nesse sentido.
Mas, repito, ele tem posicionamentos nacionalistas e trabalhistas.
Resultado de imagem para Daciolo. imagens
O entendimento de moral e costumes dele reflete o moralismo religioso das periferias. No Brasil inteiro existe esse fenômeno atrelado às igrejas pentecostais.
E a despeito de tudo isso, o cara evoluiu pra um posicionamento nacionalista, de soberania nacional e de direitos trabalhistas.
O cara votou contra todas as reformas do Temer.
Votou a favor do golpe, é verdade. Um ponto a menos pra ele.
Mas denuncia o pagamento da dívida pública, defende auditoria, fala em defesa das estatais, contra a drenagem de recursos públicos aos monopólios e aos banqueiros, etc.
Ah, mas, Mário, ele é homofóbico!
A reserva do Daciolo com a comunidade gay é completamente de cunho moralista. Muito diferente do Bolsonaro e do fascismo comum alastrado por aí. O Daciolo não faz discurso de ódio. Prestem atenção nisso. É curioso que ele até fala de amor...
Daciolo é um cara ingênuo. Vide o discurso de teorias da conspiração, o anti-comunismo pueril, típico desse meio evangélico. Eu não consigo olhar pro Daciolo e sentir raiva. O Daciolo é coisa nossa! Eu prefiro muito mais ter um cara desse ao meu lado. É um cara sem maldade. Um maluco. E, desculpem, eu gosto dos malucos. Às vezes vejo muito mais sensatez e humanidade neles.



Resultado de imagem para Cabo Daciolo. imagens

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Jogo de cartas marcadas / Perdedores afiançando a roubalheira

                           
Vai ser uma instigante saga essa candidatura do PT. Os caras vão ter que correr contra o tempo pra transferir os votos do Lula pro Haddad. Com menos tempo de tv, a campanha fica meio comprometida. E vão ter que tentar encaixar o Haddad nos debates. Além de fazer a campanha toda com Lula preso e impedido de gravar programas. Tem que ver se eles vão conseguir transparecer toda essa maracutaia midiática de perseguição ao partido. Aí pode ser que consigam ir ao segundo turno.
O cerco tá bem fechado pro PT. Mas os caras insistem nos recursos judiciais, nas dobradinhas com as oligarquias golpistas, nas alianças com as figuras mais que oportunistas do centrão, etc. Uma estratégia eleitoreira falida em meio à  circunstâncias as mais hostis. Tudo pra manter seu filão no parlamento ultra-degradado da política institucional brasileira. O PT não cansa de lutar contra a realidade.
Quem perde com isso é o povo, ludibriado pra acreditar numa política que não tem mais espaço dentro do contexto de crise sistêmica do capital. As elites seguirão impiedosas na aplicação das austeridades. O povo que se vire sem emprego, sem renda, nas desventuras da informalidade, comendo o pão que o diabo amassou dentro das novas regras trabalhistas impostas pelo golpismo, na inadimplência, na miséria, com tarifas insustentáveis, salário mínimo estagnado, etc. O Brasil foi entregue aos abutres. Virou plataforma de mão de obra barata para os patrões e lucros fáceis àqueles que vivem de juros e rentismo. Os magnatas tem a grande imprensa à sua disposição, judiciário servil e forças armadas dispostas a intervir sempre que necessário.
O jogo tá armado, o pessoal tá em campo, mas o resultado já foi decidido pelos donos do poder. E eles não permitirão nada fora de uma margem previamente estabelecida para o ganho da banca.
O PT tá disponível aos senhores da situação se assim for do agrado destes. O PT, a despeito de ser rejeitado para a gestão de turno do capital, tá numa situação cômoda à medida que mantém a hegemonia do aparato burocrático dos sindicatos e segue elegendo bancadas parlamentares Brasil afora. O PT tá cumprindo seu velho papel de esquerda do regime burguês estabelecido. É um papel necessário ao habitual andamento do regime, pra contrabalançar com as direitas na polarização político-ideológica aceita pelo sistema.
Como dito no início do artigo, é um jogo político que pode ser ou parecer instigante, mas que já tem seus horizontes bem delimitados. Por isso a opção dos comunistas em não se envolver com o circo armado mas, pelo contrário, apontar aos trabalhadores as saídas extra-institucionais, que são as saídas determinantes na luta de classes. Nem a candidatura do PSTU, que fala em revolução socialista, tá a serviço da emancipação política dos trabalhadores. Aliás, o PSTU ao longo dos anos já deu mostras suficientes do lado que está. Diante do golpe e da avacalhação que se tornou essa eleição, pra presidente a gente vai de voto nulo.

         Resultado de imagem para haddad imagens

sábado, 7 de julho de 2018

Chuta pro gol, filho da puta!

               
O futebol brasileiro carece de objetividade, né. Fato. Não adianta ter um futebol habilidoso, bonito, envolvente, se na hora da finalização não se acerta o gol. Em geral, pra fazer gol, o jogador precisa bater a bola com força e no canto do goleiro, como o atacante belga De Bruyne fez no segundo gol contra o time do Brasil.
Neymar e Coutinho tem uma boa técnica pro arremate de fora da área, mas não chutavam pro gol. Coutinho chegou a acertar uma pancada no meio do gol, defesa fácil pra Courtois. No final do jogo Neymar finalizou bem de fora da área, e com um pouco mais de esforço o goleiro dos caras foi buscar. William, que também acerta bons chutes a meia distância, não entrou muito inspirado e teve que sair pra substituição.
Aliás, por falar em substituição, Tite não teve a felicidade de trocar as peças certas. Meteu em campo pra jogar desde o início um cara como o Fernandinho, remanescente dos 7 x 1, e foi previsível e nada criativo na hora em que precisava virar o placar pra continuar na copa.
O time do cara é bom, o esquema não é retranqueiro, tirando um ou outro o nível técnico é altíssimo, etc, mas, porra, por que não manda os caras chutarem com força pro gol? Por que não manda os caras arrematarem logo ao invés de ficarem tentando furar a retranca adversária enquanto corre o tempo pra eliminação? Será que esses caras não treinam finalização?! Não é possível!
O futebol brasileiro é muito bonito de se ver, é admirável, no melhor estilo sul-americano de criação no meio de campo, com dribles, ginga, elegância de movimentos. Só precisa de um mínimo de disciplina tática e de objetividade. Se não for assim, aí a gente vai ter que se acostumar a perder pra times europeus de muito menor expressão mas que jogam com inteligência e razão. Nosso estilo de jogo expressa uma filosofia, uma estética, faz parte da nossa singularidade e encanta o mundo todo porque realmente é de uma beleza incrível; mas precisa ser mais assertivo pra sobreviver a tempos pragmáticos. Tem horas em que é preciso bater pro gol, tem horas em que é preciso bater forte, bater no canto. Nosso problema, além da falta de pulso e visão de Tite, é não ter atacantes do calibre de outrora. Romário e Ronaldo fazem falta nessas horas. Outras seleções, com elencos limitados e muito inferiores a esse de agora, tinham centroavantes que metiam gol porque desbravavam as defesas adversárias de modo arrojado, porque não temiam enfiar um bico na hora de fazer um gol. Poderia ficar aqui citando vários jogadores.
O Gabriel Jesus precisa alisar menos a bola e acertar mais o gol. O menino é brilhante, corre, se esforça, mas tem que chutar pro gol, porra! Com esse Jesus aí a gente fica sem salvação.
Vamos ver se agora o pessoal fica mais esperto com o desmonte que os golpistas estão nos impondo. Em política a gente anda alisando muito a bola também. Tem que entrar duro metendo a bicuda na canela, com greve geral e os caraio! Me perdoem as palavras pouco amenas e um tantinho virulentas. A luta de classes está comendo solta. É preciso agir como um operário de fábrica nessas horas. Sem firúlas, mas com firmeza.


Resultado de imagem para seleção brasileira imagens
               

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Sonhos

Sonhos                    

Tudo muda
De todas as formas possíveis
Meus sonhos que são invisíveis
Invencíveis...

Tremo tanto
E não posso conter o espanto
Na hora em que eu te abraço
O que eu faço?

Quero agora
O sonho vem fora de hora.
Ora, mas sonhos são sempre sonhos
Meus sonhos são pidonhos

Digo mais
Leva o meu coração
Eu nem olho pra trás
Os sonhos tem sempre razão

Tudo muda
De todas as formas possíveis
Meus sonhos que são invisíveis
Invencíveis...



Resultado de imagem para Cranberries. imagens


*Adaptação que fiz pra música Dreams, do Cramberries.Tem que gravar agora. Adoro essa música

terça-feira, 29 de maio de 2018

O Processo

                         
Ontem fui no cinema ver o filme do golpe. "O Processo" , da Maria Augusta Ramos. O nome não é à toa. Faz referência ao célebre romance do Kafka. O impeachment da Dilma foi praticamente uma peça kafkiana, e isso o documentário aponta com sobriedade. Não é um filme imparcial; não é um filme pra coxinhas. É um filme pra mostrar mesmo toda a sacanagem que foi o processo. A diretora focou seu trabalho no acompanhamento da bancada petista do senado, enquanto tramitava ali o indecoroso pedido de impeachment defendido pela advogada Janaina Pascoal. Aliás, esta senhora também foi filmada em sua estada pelos corredores do senado federal ao longo das arguições. A diretora Maria Augusta Ramos optou por esse enfoque: bancada petista versus Janaina Pascoal na votação do impeachment no senado. O filme só foge disso pra contextualizar em forma de legenda algumas movimentações vindas da câmara e pra mostrar a reação de manifestantes pró e contra golpe na esplanada dos ministérios; além do início do filme, que é  um resumo de imagens da famosa tarde de votação do impeachment na câmara, comandada pelo bandido Eduardo Cunha. O filme começa assim: uma espécie de panorâmica da esplanada e logo em seguida o referido show de horrores no congresso. Evidente que, como assinalei acima, o filme não é imparcial. A edição do vasto material coletado converge para duas horas e meia de filme em que o telespectador é colocado diante do ardiloso plano executado por Cunha, PSDB e Janaina Pascoal para afastar ilegimamente a presidente Dilma. O filme desnuda toda essa maquinação. Fica claro o jogo de cartas marcadas no congresso, fica cristalino o cinismo de Janaina Pascoal.  Chega a ser risível de tanta hipocrisia que é exposta da parte dos que comandaram o processo do golpe.
Fiz questão de ver o filme no cinema porque queria notar a reação do público. Tá ok que o filme tende a ficar restrito a um circuito alternativo; eu mesmo fui numa sessão na avenida Paulista, em um cinema frequentado por público mais ilustrado; mas queria ver a reação das pessoas. E não deu outra, a reação é de comicidade diante de tanta patifaria e cara de pau. As cenas da advogada Janaina são de longe as mais hilariantes. O cinema veio abaixo em risadas com uma cena da advogada tomando um Toddynho. A semiótica da cena não podia ser mais pertinente. Janaina Pascoal atuou como uma criança mimada, por pura birra. Maria Augusta fez questão de mostrar a ligação de Janaina à bancada evangélica, aos interesses conservadores; mostrando suas motivações ideológicas e sua paixão partidária. Mas Janaina começou tudo, é verdade, e é importante dizer, recebendo 45 mil reais do PSDB pra elaborar a peça acusatória.
Quer dizer, o impeachment foi mesmo um golpe deslavado, um golpe jurídico-parlamentar, com apoio midiático, pra sacar do poder por motivações políticas e econômicas uma presidente que já não era mais a primeira opção do mercado. Eduardo Cunha fez questão de acelerar ao máximo todo o trâmite, em retaliação pelo PT não tê-lo salvado da comissão de ética da câmara, que posteriormente o afastaria de suas funções na condução da casa por envolvimento em corrupção pesada. Ou seja, o processo todo é uma desmoralização completa.
O filme é bom mesmo. Eu recomendo. Fica meio arrastado lá pela metade, com tantas discussões de cunho burocrático que ao telespectador realmente não faz muito sentido. Digamos que é a forma burocrática contida na coisa. O que é determinante mesmo é o conteúdo político. Mas é um registro histórico. Bom pra ver como estamos imersos em jogos de aparência.      

Obs 1: Interessante notar o brilhantismo da defesa de José Eduardo Cardoso. Praticamente impecável.          

Obs 2: A senadora Gleisi Hoffman é uma gracinha. (Comentário meramente estético. As companheiras certamente ficarão com o charme cinquentão do Zé Eduardo Cardoso...rs)

Resultado de imagem para O processo, filme

         

domingo, 27 de maio de 2018

Hospício é deus / A vida é uma pancada

Um dia desses eu estava de passagem num movimentado prédio na Paulista em visita a uma repartição pública, pra ficar a par de um dos processos que acumulei com a militância no movimento estudantil. No hall de entrada do edifício me deparo com essas estantes de livros usados que o pessoal disponibiliza pros transeuntes. Fissurado em livro que sou, me detenho ali uma meia hora pra "garimpar" alguma leitura em meio a uma porção de livros não muito interessantes.
Resultado de imagem para maura lopes cançadoPego um, pego outro, abro, folheio, fecho. Enxugo o suor do rosto, faz uma tarde quente em São Paulo. De repente me deparo com um título muito incomum, incomum demais: Hospício é deus. O título me intriga. Que porra é essa, livro espírita? O pessoal deveria parar de deixar livros espíritas pra circulação. O livro é de capa dura, uma capa muito simples, sem descrição alguma na contracapa. Mas afinal, que porra é essa?! Abro o livro e vejo uma citação do Sartre na primeira folha. Puxa, os espíritas agora deram pra citar Sartre! Pessoal invocado a sofisticado. Enxugo mais uma gota de suor que escorre pela testa. Estou cansado, as pernas ameaçam com uma inconveniente cãibra. Pego o livro e enfio na mochila. Ok, em casa eu vejo. Chego em casa e deixo o livro na estante. Devo confessar, esse livro deve ter ficado ali umas três semanas me esperando, aguardando uma outra leitura que a priori chamou mais a atenção. Mas a hora dele chega. Vou ver do que se trata, mais pela citação do Sartre no início. Tem hospício no nome. Curioso... Deixe-me ver do que se trata. E pum!, caio numa das leituras que mais me fascinou nos últimos meses. O livro não é espírita! A citação do Sartre não é desencontrada. Hospício no nome é hospício mesmo, não se trata de figura de linguagem.
Caríssimos, Hospício é deus é coisa de maluco. Mas de maluco com conteúdo e muito a dizer. A autora é Maura Lopes Cançado, escritora mineira radicada no Rio, colunista do antigo Jornal do Brasil, escritora talentosa e excêntrica que, acometida por distúrbios mentais, em uma de suas estadias num manicômio público do Rio, resolve, por sugestão de um colega da redação do JB, escrever um diário. A moça, ela era jovem, talentosíssima e lúcida, presenteada com uma Olivetti portátil, passa a narrar seus dias de interna numa instituição psiquiátrica. Isso no final da década de 50. A citação de Sartre tem tudo a ver com o contexto da época, período de ebulição do existencialismo do casal Sartre e Bevouir.
Mas, voltando ao livro, devo dizer, fiquei super impressionado, um pouco que me punindo por desconhecê -lo. Pesquisem no Google pra ver, Hospício é deus virou tema de pesquisas nas universidades, sobre a questão do escrever sobre si.
O livro é um diário. Em meio à narrativas de acontecimentos do dia, a autora recorre a digressões e conta episódios de infância, juventude, do casamento frustrado, do filho, da família, de suas saudades do pai falecido, de sua inadequação social, de sua sexualidade reprimida, de seu estranhamento do mundo. E Maura Lopes Cançado narra com sensibilidade todo o horror que observa e do qual é vítima ao mesmo tempo.
Os manicômios da década de 50 eram praticamente masmorras. As doentes eram punidas com quarto forte, as guardas corriqueiramente recorriam à violência física, o eletrochoque era coisa comum, as condições sanitárias eram precárias, a comida, intragável. Maura narra tudo com acidez cortante, criticando o sistema e a classe médica, com sarcasmo, debochando da cultura rasteira dos técnicos e médicos. Maura Lopes à época contava 24 anos, mas erudita, de uma inteligência fora do comum; jovem, muito bonita, atraente, despudorada, excêntrica. Em meio a surtos e crises depressivas, quebrava a monotonia rasgando as próprias roupas, entrando nua no escritório do diretor, pulando muros, dançando no telhado, pregando peças nas seguranças, elaborando e executando planos de fuga. Maura era o "terror" do complexo hospitalar. Uma figura. Personagem que colocaria no bolso o inusitado interno feito por Jack Nickolson em Um Estranho no Ninho, clássico do cinema que retrata cotidiano e desventuras de um pequeno hospício. Vejam, super recomendo esse livro. Tem coisas muito tristes, e a despeito da citação sartreana na primeira página, Maura Cançado estava muito mais inclinada para uma leitura nietzscheana da vida. Há niilismo de sobra, angústia; o livro alterna momentos divertidos ou de descrições afetuosas com quadros desesperadores de abandono e injustiça. Leiam esse livro. É um mergulho na condição humana, uma rica reflexão existencial. Depois tirem suas próprias conclusões.

 Resultado de imagem para Hospício é deus. imagens

terça-feira, 8 de maio de 2018

Padre Maria Alice



A menina desce da van correndo, quase atropela um velho na calçada e entra afoita em busca da mãe.
_Mãe, mãe, vem cá! Deixa eu perguntar uma coisa. Eu posso ser o que eu quiser depois que crescer, né?
_Só depois que você tirar esse tênis sujo antes de entrar na minha cozinha. Dá aqui um beijo na sua mãe.
A mulher beija a criança.
_Que foi que chegou toda serelepe?
_Mãe, quando eu crescer eu quero ser padre! - anunciou animada.
_Padre?!
_É, mãe, padre, padre de igreja, pra fazer missa!
_Maria Alice, você é menina. Eu já te expliquei que você nasceu com pepeca, menina. Esqueceu?! A gente teve esse conversa mês passado.
_Ah, mãe...mas eu quero ser padre, ficar em cima do altar com aquela roupa branca bonita, ouvir o povo se confessando, saber dos pecados, mandar eles rezarem dez ave-marias depois...
_Filha, você é menina. Você pode ser uma porção de coisas legais quando crescer, pode até casar e ter um bebê bem fofo. Ou dois bebês fofos, três, enfim...Já pensou?!- indagou a mãe esperando uma resposta afirmativa da criança.
_Não, mãe, você tá fugindo do assunto. Eu não quero saber de bebês.
A mãe desistiu de dissuadir a criança.
_ Então sobe e vai tomar o seu banho. Depois desce rápido pra almoçar.
A menina fechou a cara, arrastou com desdém a mochila pesada e entrou pelo corredor da casa, subiu emburrada pelas escadas. O assunto ficaria pra depois. Contrariada a menina ficou reflexiva. E da escada ouviu a mãe falar sozinha:
_Daqui a pouco chega o João Lucas falando de ser freira...
De noite a mulher recebe o marido.
_Amor, você não vai acreditar no que a Maria Alice inventou hoje.
_Hum, me fala.- perguntou o pai demonstrando interesse.
A mulher esboçou um sorriso e contou.
_Ela disse que quer ser padre-
O pai gargalhou.
_Ah, não. Era só o que faltava. Padre?! Você sabia que eu venho de família anticlerical, Vera?
_Anti o que? – perguntou a esposa fazendo cara de que não havia entendido.
_Anticlerical, que tem bronca de padre. Meu vô detestava igreja, padre, qualquer coisa do tipo. Não deixou a mulher batizar os filhos, proibia tudo que fosse relacionado à igreja.
_Puxa vida, esse seu vô era uma figura.
_Mas olha... pelo menos a Maria Alice quer ser padre. Nada dessa coisa carola de ser freira, de véu, saia arrastando...Tem visão ela.
Parou um pouco de falar, pra morder um lanche assim que sentara no sofá. Encostou as costas, esticou as pernas. Pensou um segundo e retomou o raciocínio.
_A menina tem personalidade! Padre...- continuou rindo. _Ela é espirituosa. Essa menina deve ter um QI de 150. Tinha que ser minha filha- gabou-se o pai enquanto mastigava.
Enquanto isso Maria Alice descia as escadas com pressa.
_Pai!
Se atirou do colo do pai e o abraçou com força.
_Pai, a mãe te falou que eu vou ser padre quando crescer?!
_Ah sim, falou. Tava falando agora. Tem certeza? É uma vida que exige muita dedicação?
_Sei – respondeu a filha sem ligar pra ponderação do pai.
_ Você só tem nove anos, até lá dá pra pensar melhor, né. Tem que estudar. Aí você vira o que você quiser.
_Tá bom, pai.
_Mas agora vamos jantar, minha filha, que por enquanto eu já te mostro como é comer como um padre, tá certo?!
E foi a família pra mesa.

 Resultado de imagem para padre, desenhos

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Todo dia um casal diferente passando vergonha



Toda semana eu corro num bosque aqui perto de casa. Às vezes eu corro até duas vezes na semana. Costumo correr à noite, sem sol, com o clima mais fresco. E, acreditem, num parque público à noite é possível ver de tudo. Casais se pegando no mato é o que mais tem. Eu já flagrei de tudo ali: punheta, siririca, boquete, enfim, o trivial das preliminares...
Mas ontem eu vinha correndo e não acreditei com o que me deparei. Um casal tava metendo mesmo. Imagina a situação; nove e meia da noite, o casalzinho isolado numa área do parque em que pouca gente circula, o amasso devia estar bom. Porque eu vinha correndo, distraído, os caras tomaram um puta de um susto.
Era um grandalhão marombado e uma mocinha magra e baixinha. O cara dava uns três da menina, ela toda mignonzinho. O cara sentado num desses bancos de cimento e a minazinha de costas pra ele, quicando lindamente. Imagina o susto do cara quando passa um careca ofegante correndo feito um maluco e vê a cena!! Hilariante. Mas fingi que não tinha visto nada e segui no meu caminho, correndo feito um maluco pra ver se mantenho o corpinho.
Mas pelo jeito é dos marombados que elas gostam mais. E, verdade seja dita, apesar da comicidade da situação (um casal assim flagrado em pleno ato de meteção por um ilustre corredor desconhecido) até fiquei pensando que nada paga uma trepadinha no meio do mato uma vez na vida, no meio das árvores, em pleno contato com a natureza.... Olha que bonito. O sexo é bonito. Dizem que o amor é lindo, e é lindo mesmo, mas o sexo não fica muito atrás não.
Esse mundo anda uma loucura, mas ainda bem que tem gente que ainda aproveita a vida; sorte dos casais que ainda dão uma tratorada no mato, né?! Só pra constar, eu não comi ninguém. Não naquele mato, não ontem. Mas todo dia tem casalzinho na pegação ali. Qualquer hora chamo a crush pra correr comigo...rs


Resultado de imagem para casais indecentes

segunda-feira, 26 de março de 2018

O Rei da Vela / Um retrato social intenso

Esse fim de semana fui ver uma montagem da peça O Rei da Vela, texto coletivo do grupo Cia Mixórdia e direção de Carolina Angrisani, baseada na obra de Oswald Andrade, peça que recentemente teve outra adaptação de Zé Celso. Saí de lá impressionado com a lucidez política dos caras. Traçaram um perfil cortante do coxinha brasileiro, o paneleiro, o CBF, o brasileiro médio reacionário. A peça é um tapa na cara da coxinhada.
A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e texto . 

Como o Zé Simão costuma falar, o Brasil é o país da piada pronta. A política aqui é tão desmoralizada, a situação toda é tão patética, que até fica fácil fazer graça, é verdade. Mas a peça pinta com maestria o quadro político nacional; não é vulgar, não é rasteira; pelo contrário, hiperboliza o perfil falso-moralista e cínico dos golpistas, mas de modo a revelar os desejos latentes por trás da intolerância e do reacionarismo dos caras. Pra isso foram buscar na antropofagia de Oswald um elo histórico que mostrasse o complexo vira-lata do brasileiro, subserviente aos desmandos do imperialismo.

A peça retrata um industrial fabricante de velas em ruína financeira que se vê refém do capital americano. Um personagem que retrata bem o burguês brasileiro, lambe-botas, sem personalidade, que aceita passivamente a ingerência imperialista, que se resigna em viver de pedir as bênçãos do Tio Sam. Aliás, este é um dos personagens, excursionando ao Brasil pra "fazer a limpa". Com muita tranquilidade, sem resistências ou oposições patrióticas.

A gente sabe que a história do Brasil é uma história de lutas sociais e muitas resistências. Mas a peça trata da burguesia lacaia, da classe média coxinha imbuída da ideologia do sonho americano. O brasileiro médio só não abre mão do futebol e do carnaval. Do resto ele não reclama propriedade. Soberania é termo que não consta no dicionário da elite tupiniquim. Tudo isso a peça retrata com absoluto êxito. A concepção é perfeita. Faltou uma produção que estivesse à altura de seu gênio criativo.

Tenho uma amiga que estava na peça (e digo assim porque eles saíram de cartaz ontem) e fiz questão de dizer a ela que uma obra dessas devia estar circulando por aí, com fomento, patrocínio, encenando em teatros grandes, com figurinos de primeira, elenco forte, etc.
Duas atrizes e um ator se destacavam entre um elenco que julguei amador para algo da envergadura e propositura do que trouxeram público. Dá uma chateação ver o figurino pobre, a estrutura precária. O teatro de vanguarda no Brasil tá meio jogado às traças. Mas é isso, tem que resistir e fazer na marra, tem que denunciar essa nossa secular condição subalterna, esse estado permanente de golpes palacianos e imbecilização.

Viva a arte crítica e engajada!
Viva a antropofagia!


Resultado de imagem para oswald de andrade

sexta-feira, 16 de março de 2018

O andar de cima não quer os de baixo por perto

Algumas reflexões pertinentes ao momento político, na esteira do atentado à vereadora Marielle

A morte da vereadora Marielle, uma evidente execução com motivação política, é mais um evento trágico que tem comovido o país, e que inclusive ganhou manchetes internacionais. No Brasil hoje só se falava disso. Não sem razão. O crime aconteceu alguns dias após o início da intervenção federal no Rio, ato político de Temer rechaçado pelo partido da vereadora, que estava como relatora da comissão parlamentar que acompanha a intervenção na capital carioca.
Oportuno frisar que essas execuções acontecem desde sempre no país. Precedem o golpe, fazem parte de uma velha prática de silenciamento dos movimentos sociais por parte das elites estabelecidas. O que salta aos olhos é o fato de que a ativista agora assassinada estava em mandato público. Era vereadora na segunda maior cidade do país.

O que significa a morte de Marielle?

Significa que uma mulher negra, de origem simples, ativista, militante dos direitos humanos, por todas estas características foi morta; porque seus assassinos não a julgavam digna de um mandato parlamentar. O golpe contra Dilma teve o componente da misoginia. Pesou também o fato dela ser ex-guerrilheira, de um partido que se originou e tem por base a classe operária. Mais ou menos o que aconteceu agora com essa moça; foi morta porque as elites retrógradas querem cercear do espaço público não só os que a incomodam por oposição política ou de classe mas qualquer um que na sua obtusa maneira de ver o mundo não esteja de acordo com o perfil social  adequado ao espaço do poder, da institucionalidade burguesa. Esses facínoras querem o estado padrão das elites, um estado sem pobres e pretos, sem operários, sem direitos civis, direitos humanos, etc.

Tempos difíceis

É o prenúncio da barbárie, de um estado bonapartista, autêntico representante do capital, disposto à brutalização, ao sadismo. Esses caras não tem escrúpulos.
Eis o significado mais profundo por trás da execução.
O evento da morte de Marielle tem de ser analisado além do fato em si. Tem de ser contextualizado como desenrolar de um processo histórico, subordinado às contradições que estão colocadas no momento.
Essa morte agora é um fato político, e que fará outras coisas virem à tona.
Por mais que tudo pareça assumir feições de paroxismo, ainda há muito a ser desvelado.
É necessário ver como o Psol, por exemplo, irá reagir. A princípio o partido foi omisso em não convocar a população a um verdadeiro ato de insatisfação. O partido se contentou em exigir do poder público investigações adequadas à resolução do inquérito, o que evidencia sua opção político-ideológica pela via da institucionalidade burguesa; quando na verdade tudo indica que o crime foi inclusive perpetrado por forças internas ao estado. Coisa que sempre aconteceu no Brasil, e que ficou muito bem explicada no filme Tropa de Elite II.

Reflexos do golpe

O que já era de praxe na república de bananas agora tende a ser prática ainda mais corriqueira, com o desenvolvimento do golpe em curso, do estado de exceção, do estado policialesco com vistas a garantir a falsa ordem de uma nação que entrará em convulsão social, com a implementação de uma dura agenda de ajustes fiscais e corte em investimentos públicos.
O cenário é super preocupante. O mais acertado agora seria eliminar qualquer crença na suposta seriedade deste regime político cadavérico e criar uma mobilização popular que realmente fizesse frente aos ataques do capital.

Resultado de imagem para marielle franco


sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Uma semana de contradições. Um país recheado delas


Essa semana eu estava conversando com uma conhecida que trabalha no Mackenzie e fiquei sabendo que lá tem intervalo separado pra bolsistas. Impressionante! Eu já sabia que a coisa lá é pesada pra bolsistas e cotistas, mas não imaginava que o preconceito chegava a tomar tamanho vulto de segregação institucionalizada.

Resultado de imagem para Mackenzie, imagens
Aí o pessoal fala da contradição do preconceito numa instituição confessional, que se reivindica cristã. Essa conhecida mesma comentou nestes termos, dizendo ser gritante o racismo e que o constrangimento é inevitável para quem vê de perto, que inclusive as crianças do colégio transparecem o incômodo com as classes baixas que frequentam o espaço. Pouco cristã essa turma, né?! Mas o Mackenzie sempre foi conhecido pelo elitismo, e o moralismo lá sempre foi de rasgada hipocrisia. Lembrei a minha interlocutora que na época da ditadura o Mackenzie foi um dos celeiros do comando de caça aos comunistas, que ali morreu um estudante na famosa batalha da Maria Antônia, quando estudantes progressistas da USP foram às vias de fato com reacionários que provocavam de dentro dos muros calvinistas. Quer dizer, o ranço conservador-reacionário-elitista-racista é coisa antiga, batida e rebatida.

Gente que estudou lá conta que trocar beijos nos corredores, por exemplo, pode render aos casais repreensão dos seguranças; ou que se o sujeito não estiver bem vestido, periga de ser olhado torto por almofadinhas; ou que nas portas dos banheiros os fascistoides escrevem mensagens com conteúdos de ódio às minorias, entre outras situações similares.

Essa semana eu assisti Machuca, um filme chileno muito bom que me fez lembrar do relato sobre as dependências mackenzistas, mas que me fez pensar  muito mais no Brasil como um todo. Machuca retrata o período do governo Allende em que a polarização política entre esquerda e direita ganhava contornos preocupantes, com o governo socialista sendo fustigado pelo imperialismo que forjava crises de desabastecimento e manifestações elitistas e chauvinistas nas ruas.

Resultado de imagem para Machuca, filme. imagensO filme fala de um menino pobre, morador de uma ocupação, que é admitido em um tradicional colégio de padres frequentado por filhos da elite. O filme mostra bem, através dos pais dos alunos e das próprias crianças, o clima de rivalidade política e intolerância de classe, em momentos nos quais as acusações nos remetem ao Brasil de hoje, quando, por exemplo, os que pregam o diálogo e a interação são tachados de comunistas, marxistas; ou quando as madames paneleiras despejam seu ódio de classe contra as mulheres trabalhadoras.

Importante frisar que o filme retrata o período do golpe pinochetista bancado pelo imperialismo, que implantou um mirabolante plano de privatizações pró-EUA e que em sua sanha repressiva torturou e executou milhares de pessoas. Foi assim que terminou a história que hoje nos faz lembrar da Venezuela pela situação de dura perseguição do imperialismo, quando este ameaça intervir diretamente em mais um golpe de estado; ou que nos lembra o Brasil da polarização ideológica entre raivosos e ressentidos coxinhas de um lado e o movimento social sendo espremido de outro, prestes a presenciar um cenário de ainda maiores ataques do aparato repressivo do estado ao conjunto da população.

Hoje acordamos com a notícia da intervenção militar no Rio, outro prenúncio de que as coisas não vão bem, mais um movimento na escalada golpista.

O Brasil regride terrivelmente. Ou será que o Brasil nunca evoluiu de fato? O desfile da Tuiuti na Sapucaí é uma boa resposta. Um modo bem brasileiro de expor a percepção popular.
Mas até o carnaval os coxinhas levaram. Sinal que o monopólio global e a força da indústria cultural são barreiras a serem derrubadas pela massa. Importante estar atento ao viés ideológico, pra não se deixar tragar pelo discurso manipulador da elite que deseja ver a gente pelas costas.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Final melancólico

                       

Nada irá alterar o processo de decadência do PT. Teria que haver vontade política para isso. Mas o PT optou por outra via. Conciliação de classes, adaptação ao modo parlamentar-burguês de fazer política, degeneração programática, traição aos ideais de fundação do partido...Em tudo isso o PT incorreu. Encarou o golpe com um pacifismo de dar nos nervos de quem acompanhou o transcorrer da injustiça.

O que esperar agora? Que o PT faça o completo oposto do que fez até o momento? Não existe milagre em política. O processo está dado; resta aguardar o desfecho final. A depender da burocracia que ocupa o birô petista, o desfecho será melancólico. Sem resistência, sem sangue, sem quebra da ordem, sem povo na rua.

Trata-se do absoluto colapso da social-democracia tupiniquim, que tornou-se governo social-liberal, aliada de determinados setores da economia que nunca almejaram um real processo de desenvolvimento nacional, porque queriam lucro sem projeto político algum, bem como a cúpula petista não tinha projeto de transformação mas de poder. Deu no que deu. Passado o tempo, perderam a funcionalidade para o regime e foram proscritos. E proscritos continuam a ser ao passo em que fazem de tudo para costurar acordo que lhes permita continuar figurando entre as correntes políticas aceitas no métier golpista.

Em suma, um final melancólico, mas um final previsível. As condições econômicas do pós-crise, com queda na lucratividade da banca e o subsequente direcionamento para uma política macroeconômica de ajustes fiscais e enxugamento de gastos públicos, colocaram o PT à margem da viabilidade política atual, apesar do esforço do partido em se adequar. Isso porque o capitalismo em crise não permite conciliação alguma. O imperialismo quer o que de mais pró-imperialista tiver às mãos. E são mal-agradecidos os multi-bilionários que mandam no mundo.  Vão prender o Lula.

                 Resultado de imagem para decadência petista

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Por uma vida sem tarifas

Uma visão marxista da luta pelo transporte                      

As tarifas do transporte público na grande São Paulo passaram de R$ 3,80 para R$ 4 no início do ano. O aumento vale para ônibus, metrô e trens da CPTM. Tem monotrilho também. Mas uma linha pequena. Quase todo ano tem reajuste de tarifas. O prefeito Dória, em campanha eleitoral, havia prometido não reajustar a tarifa ao longo de sua gestão. Descumpriu a promessa e disse que foi mal-entendido.
O fato é que a tarifa subiu para o absurdo patamar de R$ 4. Um preço alto em vista do serviço, que deixa bastante a desejar, mas um preço alto também em vista da baixa renda de boa parte da população. Temos que levar em consideração os aumentos nas passagens intermunicipais. Por exemplo. Uma passagem do metrô Armênia para o Pimentas, bairro operário da periferia de Guarulhos, não sai por menos de R$ 6. Daqui a pouco estará em 7. Nos municípios vizinhos a São Paulo, conurbados, que conformam a Grande São Paulo e que são municípios dormitórios, ou que apesar de sua autonomia econômica transportam milhares de cidadãos a São Paulo todos os dias, como Osasco, Cotia, Guarulhos, Arujá, etc, o preço da tarifa pesa no orçamento das famílias e muitas vezes serve como impedimento ao livre trânsito das pessoas. O direito de ir e vir não é lá muita coisa se o cidadão sequer tem condições de pagar para usar o transporte público. A limitação financeira acaba implicando em limitações geográficas, em prejuízo do acesso a outros serviços públicos inclusive.
Mas isso todo mundo já conhece. Bem como aos movimentos contra tais aumentos. O movimento Passe Livre de São Paulo já é consideravelmente conhecido e até alcançou maior projeção política depois das manifestações de 2013, que estouraram justamente após uma violentíssima repressão da PM ao ato dos estudantes. Antes dessa projeção, circunstancial, por conta da repercussão da violência policial, o movimento já fazia bastante barulho havia mais ou menos uma década. Grandes mobilizações haviam sido deflagradas em importantes capitais do país, como Florianópolis e Salvador. E quase todos os anos o movimento ressurgia em São Paulo, aglutinando movimento estudantil, partidário, da juventude anarquista, entre outros setores similares.
Como o anúncio do reajuste vinha sempre na virada do ano, em meados de Janeiro o movimento despontava, durava algumas semanas e ia arrefecendo até parar. Os frutos da organização política do movimento nunca foram muito além disso. Era, desde o início, um movimento que pregava a horizontalidade e que rechaçava partidos políticos, pois era, também desde o início, um movimento hegemonizado por coletivos de militantes anarquistas. Os partidos tentavam atuar mas eram deliberadamente colocados pra escanteio. Muitas vezes a atuação partidária era pelega e extremamente tímida, é bom frisar, contrastando com o caráter rebelde da juventude envolvida. Por esses motivos, o movimento não evoluiu para algo mais politizado e amplo. Ganhou projeção, se tornou um movimento tradicional da virada do ano, entre secundaristas sobretudo, mas ficou circunscrito a estes estreitos limites.
A impressão que dá, olhando em perspectiva, analisando esse período de quase duas décadas, é de que o movimento parou no tempo. No último ano, com a dura conjuntura do golpe, cansamos de ver reajustes tarifários. 2017 foi o ano do tarifaço. Aumentou o gás de cozinha, a eletricidade, a gasolina, etc. Os órgãos do governo anunciaram números de um cenário de deflação. Números esses que começam a ser contestados como manobra política. Quem vai dar credibilidade a tais números anunciados por um governo bandido a serviço de rifar o patrimônio público? Só acreditando na Rede Globo pra comprar essa farsa. Nas ruas, a miséria é dura realidade a ser constatada. O poder de compra da população está super reduzido e os tarifaços estão aí pra cortar na carne.
O preço do ônibus é um problema sério, mas está longe de ser a prioridade da classe trabalhadora. O trabalhador quer emprego, salário decente, quer sair das dívidas, quer acesso a serviços públicos de qualidade na saúde, na educação, no lazer. Tudo isso passa pelo transporte, mas vai muito mais além. E isso não foi bem assimilado pelo movimento do passe livre, por conta mesmo da sua base social. Os movimentos são reflexos de sua base material; são determinados pelas condições ideológicas de quem nele se insere e posteriormente o dirige. Um movimento de estudantes, sem trabalhadores organizados, sem uma linha política bem definida, sem estratégia, não é e nem pode ser um movimento apto a centralizar e dirigir as lutas.
Nesse sentido, chegamos à conclusão que a crise do movimento é também a crise de uma geração que não evoluiu para concepções orgânicas e revolucionárias de atuação política. O que é compreensível na medida em que constatamos os terríveis ataques da burguesia a essa geração. Uma geração que não tem emprego, na informalidade, que não é sindicalizada, oprimida pelo discurso do fim da história, caindo no niilismo de que não há mais alternativas, sendo cooptada pelos fetiches ideológicos da pós-modernidade, etc.
Só o partido operário e revolucionário, partido leninista, de quadros disciplinados e devotados à causa dos trabalhadores, poderá dar solução à crise de direção e guiar a classe para o triunfo. Parece difícil criar esse organismo. Mas só assim andaremos livremente por aí, sem o cerceamento econômico desse capitalismo apodrecido, sem o peso da desigualdade social. Lá adiante não teremos máfia dos transportes.

Resultado de imagem para movimento passe livre