Para os meninos trata-se de jogar cinco contra um, descabelar o palhaço, tocar uma bronha, bater punheta. Para as meninas é siririca, arranhar o disco, tocar contrabaixo... É cada analogia que surge! Como qualquer ato de natureza libidinosa, a masturbação também carrega uma extensa lista de sinônimos pouco elogiosos. Onanismo para os mais eruditos, ou punheta num linguajar mais chulo, a autoexcitação das genitais é a mais democrática e simples forma de se obter prazer venéreo nesse mundo. Mas será que estamos tratando de algo simples? Por entre piadas e duplas conotações um mundo de considerações pede passagem. Vamos às polêmicas.
A revolução sexual de décadas atrás transformou os comportamentos da juventude, e, muito embora qualquer revistinha teen aborde o assunto com objetividade e as escolas mesmas tratem da sexualidade como elemento natural da vida, em muitos círculos e cabeças o tema continua sendo tabu.
Fui conversar com amigas e amigos pra escrever esse artigo e pude constatar isso em muitas falas. Os mais religiosos temem a tentação do ato pecaminoso. Pode ser coisa do diabo. Os mais descolados de motivações transcendentais dizem tratar do assunto sem preconceitos e com naturalidade, mas as controvérsias inerentes ao assunto vão surgindo nos detalhes e ganhando contornos de fantasmas entranhados na cultura, de concepções de mundo que espelham no exercício da sexualidade auto-afirmações e estereótipos sociais, num jogo perverso de poder, regulando estima e autoestima.
Há quem veja a masturbação como liberdade do sujeito, que pode se dar ao luxo de abdicar de um companheiro para, sozinho, resolver a demanda instintiva de sua libido. E há quem pense na auto-excitação como extensão natural do desempenho sexual. Isso eu pude notar na fala de um amigo, que contou que entre homens se sente coagido a dizer que se masturba, para, segundo seu argumento, não ser tido como "viado".
Quer dizer, o sujeito, pra poder conviver em boa ordem com o meio e com a própria consciência, tem de fazer espécies de malabarismos conceituais. Uma coisa é o que genuinamente deseja, mas pode não aer viável bancar o desejo e a auto- repressão toma espaço. Outra coisa é o papel a representar socialmente, a depender do contexto e muitas vezes variando comportamentos ao sabor da ocasião e tendo de renunciar a própria vontade para não se ver em situação embaraçosa perante o grupo.
Mas, enfim, a masturbação mental é estrutural nessa merda de sistema. Tal como o ato aqui em questão, infrutífero em termos de utilização e objetivo dos fluidos corporais, pelo menos do ponto de vista biológico da coisa, a cultura ocidental contemporânea é feita de desperdício absurdo de potencialidades. E isso em função da mediocridade estabelecida. Lógica utilitarista o nome disso. Subtrai-se a atividade criativa de Eros em favor de um princípio de desempenho sujeito à dinâmica opressora do capital. Marcuse em Eros e Civilização trata disso. Eu falo de punheta. Leiam o Marcuse.
terça-feira, 15 de novembro de 2016
sexta-feira, 4 de novembro de 2016
OCUPA TUDO!
Ontem
visitei a ocupação do IFSP (Instituto Federal de São Paulo), a
antiga escola técnica federal, por onde tive a felicidade de passar
como aluno no primeiro semestre de 2007, no curso de licenciatura em
geografia. O curso não era bem o que eu queria e saí na metade
daquele ano. Voltei pro cursinho e fui prestar outros vestibulares.
O
IFSP fica perto de casa e fiz questão de fazer uma visita à
ocupação dos estudantes. E fiquei muito contente em encontrar a
molecadinha secundarista, junto a estudantes de cursos técnicos e
graduação, num movimento extremamente politizado, consciente, em
busca de seus direitos, mas também em busca do direito das próximas
gerações, de quem ainda vai passar por ali e por outras
instituições públicas e que merece ter seus direitos garantidos.
Se
esse governo, que mais merece ser chamado de desgoverno, quer passar
uma PEC tão violenta e tão injusta, então que a juventude
protagonize a luta. E a luta é assim mesmo, passa por manifestações,
piquetes, por greves e ocupações. A pauta é absolutamente legítima
e os métodos de ação direta, como os utilizados até o momento,
são manifestações AUTÊNTICAS! Diga-se de passagem, são
manifestações garantidas aos cidadãos, garantidas
constitucionalmente. Ninguém está fazendo baderna, ninguém está
criando desordem. E mesmo que estivessem, seriam manifestações
legítimas de uma juventude indignada de ser usurpada em seus
direitos por um governo golpista e ilegítimo, a serviço das grandes
corporações e do mercado financeiro. Repito, toda ocupação é
legítima
Oxalá
essas ocupações se alastrem mais ainda país afora. Até porque a
conjuntura é delicada para os movimentos de luta, num momento de
acirramento ideológico, em que os fascistoides põem as asinhas de
fora, vomitando desaforos, se esgoelando pra defender a livre
iniciativa da economia e o cerceamento a direitos sociais básicos.
Pensam que é o fim da história, como disse Boulos em sua última
coluna, que a esquerda está destroçada e inerte. Muito se enganam.
É agora que a resistência surgirá robusta e vigorosa. É
ingenuidade e burrice pensar que nenhuma resistência surgiria de
tamanha desfaçatez por parte do grande capital e de seus lacaios no
planalto central.
Agora
a mídia golpista e vendida vai fazer o maior alarde pra queimar os
movimentos de ocupação. Vão chamá-los de maconheiros, de
desocupados, vão dizer que estão atrapalhando quem quer estudar e
fazer o enem, etc… Típico do discurso coxinha. Como se os
estudantes não pudessem perder algumas semanas de aula mas pudessem
aceitar passivamente um brutal corte de recursos. É a educação
pública que está em jogo. É a creche das crianças, a faculdade
dos jovens… E quando as condições, que já são dramáticas,
perigam de piorar, é chegado o momento de radicalizar e resistir.
Como trabalhadores que fazem greve, barricadas, que às vezes chegam
a paralisar setores imprescindíveis, mas que o fazem por motivações
significativas, por causas que envolvem relevância social, assim os
estudantes ocupam suas escolas e centros universitários.
Que
a estudantada ocupe tudo! Como eles dizem, que ocupem geral!
Rumo
à greve geral! E viva a unidade operário-estudantil!