crítica teatral
A mais recente montagem da obra prima de Plínio Marcos pelo Grupo Oficina traz excelente acréscimo de câmera e vídeo, com um telão ao fundo que surpreenderá o espectador. Sylvia Prado, que interpreta a prostituta Neusa Sueli, é ótima atriz e dá conta do papel com virtuosismo.
O mesmo não pode ser dito do ator e diretor Marcelo Drummond, responsável por encarnar a personagem Vado.
Drummond parecia bem à vontade no palco.
Não há dúvida de que estar seguro de si em cena é pressuposto para todo bom trabalho no teatro. Mas só isso não é suficiente. Drummond tem voz ruim e mal postada, é dono de uma dicção sofrível e não convence no papel do cafetão.
Para os que já viram a performance de Jece Valadão na primeira versão para o cinema, Drummond passa longe do que se espera de um ator no papel.
A terceira personagem também deixa a desejar, não por deficiência técnica do ator, mas pelo enfoque distorcido da montagem, que opta por apresentar uma versão caricata do homossexual Veludo.
A tendência à comicidade põe a perder muito do drama psicológico da obra, conhecida por seu caráter de alta densidade e tensão.
Talvez o riso viesse ao espectador numa montagem tradicional da peça, mas viria num contexto de extrapolação da crueldade interior, numa espécie de humor negro subjetivo. De fato há quem ria do infortúnio alheio, ou, há quem veja graça na desgraça alheia, numa espécie de riso de ato falho.
Não é o que acontece nesta montagem do Oficina, que lança mão de artifícios de comicidade para atenuar o clima pesado do enlace, pasteurizando, por assim dizer, a ácida linguagem de Plínio Marcos.
E o grupo faz isso de forma rasteira, bem ao molde das montagens comerciais e popularescas, jogando para a plateia. Aliás, os únicos momentos em que há quebra da quarta parede (interação com o público) são com o intuito de provocar o riso, como numa comédia de stand up ou algo do gênero.
E outra, está faltando nudez, hein! Plínio Marcos tem que ter nudez! Mostrem menos os egos e mais os bagos!
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