sábado, 2 de março de 2019

A luta de classes como ela é



Ano passado, no dia da suposta facada ao então candidato presidencial Bolsonaro, duas "amigas" minhas (coxinhas as duas) me chamaram no Messenger pra me dar esporro e falar que estavam desfazendo a amizade. O motivo alegado era que eu estaria sendo contraditório e desumano ao publicar umas piadas sobre o incidente.

Naquele dia meio mundo se manifestou nas redes. Meio mundo desejando que o Bozo morresse. Eu não cheguei a dizer isso. Até porque eu sou cristão demais pra essas coisas. Eu fiquei tirando um barato, dizendo que "não se fazem mais esfaqueadores como antigamente, que o mineiro Adélio teria sabido dar uma facada se paraibano fosse", esse tipo de coisa. Isso porque desde então o episódio da facada gerava controvérsias.

Teria sido realmente atentado? Ou teria sido encenação mesmo? Não sei se é teoria da conspiração demais, mas até hoje tá mal explicada essa história. E outra: Tinha a contradição flagrante de ser a vítima da suposta facada um elemento que vinha havia anos fazendo os piores discursos de ódio. Evidente que fosse esperado o feitiço virar contra o feiticeiro.

Repito, não é do meu feitio desejar a morte de ninguém. Mas vamos supor que eu tivesse desejado. Não seria nada do outro mundo. Em se tratando de um fascista, um ser repugnante, um entreguista, um vende-pátria, em síntese, um sujeito que representa o maior perigo para o país, não seria nenhum absurdo achar que talvez devesse mesmo morrer. Eu não desejo que morra.

Não é a morte desse energúmeno que vai alterar a dinâmica da luta de classes com todas as suas inquietantes contradições. Se morrer o Bozo, o Mourão assume. Troca-se seis por meia dúzia e segue o golpe.

Pois bem, mas as minhas "amigas" não quiseram mais papo comigo. Vejam só, justo a direita, que fica por aí com as velhas cantilenas do "conservador nos costumes e liberal na economia", toda essa papagaiada da ideologia dominante senso comum, cínica, hipócrita, etc.

Eu não me oponho de ter amigo bolsominion. Essas "amigas que falassem que não queriam mais papo comigo por eu ser de esquerda, comunista, por achar o candidato delas um sujeito desprezível. Mas não. O argumento era de que eu não estava sendo humano.

Agora morre o netinho do Lula, situação trágica, uma criança de sete anos. Imaginem a família, o peso existencial que envolve uma fatalidade dessas, e surgem bolsonaristas do país inteiro comemorando. Só porque o menino é neto de um ex presidente que eles não gostam. Não precisa nem entrar no mérito do ódio que eles tem ao Lula. Mas por que, meu Deus, comemorar?

A gente pode caracterizar como psicopatia, como perversão; a gente pode abominar a sordidez, a miséria espiritual, etc. Mas no fundo não é caso de uma análise moralista. Isso tudo é reflexo da luta de classes. Essa polarização doentia é luta de classes.
A esquerda é naturalmente mais humana e solidária, ao passo que a direita é mais fria e individualista, claro. E à medida que a crise econômica engendra contradições e que a conjuntura se agudiza, esses tipos de comportamento vem à tona pra mostrar todo o ódio que estava latente. É o desrecalque. O conteúdo recalcado emerge. A crise econômica e a polarização política, com uma ajudinha do fenômeno das redes sociais, parem, do verbo parir, o monstro.

O ser humano não deu certo. Haja visto o sistema social que a gente vive. A gente não pode perder a utopia da justiça social, do homem novo, não pode perder a expectativa do comunismo, de um sistema social justo. Os conservadores parecem satisfeitos com o atual estado das coisas. São os que se beneficiam materialmente da exploração, ou que pelo peso da ideologia passaram para o lado dos exploradores.

A classe trabalhadora e os pobres precisam encontrar nas lutas sociais o caminho para a emancipação. Do jeito que tá não pode ficar.

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