Um amigo meu veio me perguntar se a o apoio da esquerda ao Lula em 22 irá depender de alguma discussão programática. Achei um pouco ingênuo o questionamento. Em condições normais de temperatura e pressão, uma discussão programática seria mais ou menos natural, muito embora a gente não deva se iludir de que os capa-pretas dos partidos e sindicatos se orientem senão por interesses mais imediatos e cálculos pragmáticos. Mas, ok, eu respondi ao meu amigo. Segue o raciocínio.
1- O cara pra ser presidente se submete aos desejos do mercado financeiro e da classe política. É o esquema que tá posto. É extremamente improvável que alguém contrarie essa lógica. Com o Lula não vai ser diferente.
2- O Lula não tá preocupado exatamente com um programa, mas com uma articulação política que o permita voltar à presidência e lá se manter.
3- As condições econômicas do país são extremamente ruins. Qualquer um que for eleito vai ter que dar um jeito de recuperar o negócio. O Lula tá se candidatando a isso. O capital quer soluções moderadas, claro. Nenhum programa nacional desenvolvimentista. Só uma azeitada superficial na máquina, pra seguir com o regime de acumulação.
4- Acontece que o apoio das esquerdas ao Lula não estará condicionado a um determinado programa progressista. Porque a coisa tá se desenvolvendo de um modo que será ou Lula ou Bolsonaro.
5- Se o Bolsonaro for incriminado e impedido de seguir na vida política, aí talvez a polarização volte a ser PT x PSDB. Mas mesmo assim o cenário não se altera substancialmente. A esquerda, infelizmente, tá muito refém do lulismo. E é aquele negócio que a gente sabe. O Lula não é de esquerda. Perto da direita brasileira o Lula é um herói do povo, mas não é de esquerda. Ele tá disposto a recosturar toda a aliança de outrora com as oligarquias, com o capital nacional, com bênçãos do imperialismo se necessário. E se as elites não tiverem outra solução à mão, liberam o homem pra ser presidente de novo; encarregam ele pra esse trabalho de "reconstrução nacional".
É basicamente isso.
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