sexta-feira, 25 de março de 2022

O caso do "mendigo" em Brasília

As coisas não são tão simples às vezes 


Meio mundo discutindo aí na Internet a situação do morador de rua que transou com a moça casada em Brasília. Pode até parecer um absurdo ou um distracionismo imbecil discutir isso em meio a tantas questões periclitantes da economia e da política, e inclusive da guerra na Ucrânia. Mas é uma questão do momento e envolve análises sociólogicas e psicológicas. É uma questão polêmica, não se trata somente de coisa trivial e manchete de jornalismo marrom. É uma situação que reflete o mundo que vivemos e creio que merece alguma atenção em virtude da proporção que ganhou nos últimos dias. 

O que acho mais sinistro e triste dessa situação é ver que aparecem pessoas que se dizem arejadas e de esquerda defendendo a punição desse moço morador de rua. E isso acho muito sintomático de um feminismo identitário e anti-dialético, burguês, liberal e alienado das prementes questões sociais envolvidas.

É um absurdo a tentativa de criminalizar esse morador de rua. O sujeito tá em vulnerabilidade, alcoolatra, perceptivelmente precisando de ajuda. Mas ele explica bem na entrevista, e em depoimento devem ter percebido isso: ele achou inusitada a abordagem da moça, explicou que era morador de rua e tal. A mulher o seduziu. Uma mulher bonita, aparentemente normal. Ele que foi enganado. Porque pelo visto ele não sabia se tratar de mulher casada, muito menos de mulher psicótica.

A situação toda é embaraçosa. A moça tá sendo acolhida, o marido pelo jeito entendeu a situação e tá cuidando bem dela. A mídia se valeu da atipicidade da coisa pra ganhar views e agora o morador de rua chegou até a dar entrevista. É uma história muito doida. Mas, repito, é um absurdo quem diz que esse rapaz merece cadeia. Com todo respeito. Esse cidadão precisa de serviço social e psicológico. Precisa ter garantidos os seus direitos e a sua integridade.

Essas histórias malucas que vemos por aí podem dizer muito sobre nós, sobre o que nos tornamos como sociedade, nossos preconceitos e debilidades civilizacionais. É só ter uma disposição mais semiótica e crítica pra notar as contradições do modo de produção e as consequências patológicas nas subjetividades e no corpo social. Estamos adoecidos de neoliberalismo. O moço morador de rua, a moça casada e todo mundo que vê nessa situação uma ocasião de vomitar simplismos e preconceitos.




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