conto
Helena vinha desolada pela rua; na cabeça um turbilhão de memórias do ex-namorado. Abriu a porta de casa e deu de cara com a mãe. Abraçou-a e chorou por mais cinco minutos em seus braços. Lamuriava-se da má sorte. Fora pesado o incidente do motel. No caminho de volta já havia ligado pra duas amigas mais próximas, pra uma prima de primeiro grau e pra outra de segundo grau, além do telefonema para a mãe, sendo este o primeiro.
O rosto borrado da junção de maquiagem e lágrimas era só um detalhe; seus olhos estavam inchados, seu nariz vermelho. Sua feição era de derrota. O pai chegou meia hora depois e encontrou mãe e filha no sofá da sala, em clima de velório.
_ O que tá acontecendo aqui?- perguntou afrouxando o nó da da gravata e tratando de colocar a maleta em um canto.
_ Parece história de filme, Durval!- respondeu a mulher. _ Tua filha pegou o ex com outra no motel.
O pai suspirou com pesar, sentou ao lado de Helena e beijou-a com ternura na testa.
_ Vai ficar tudo certo, filhinha. Calma. - consolou-a
_ Eu falei, Durval! - retomou a mãe. _ Falei que não ia dar certo esse emprego de atendente de motel. O garoto garanhão chegou lá com uma periguete. Só anda com moça rampeira depois que terminou com essa aqui!
O pai fez uma careta, como quem não soubesse o que dizer. Torceu os lábios, mirou o teto.
E a mulher prosseguiu.
_ Sabia que essa criatura ia ver coisa que até Deus duvida.
Helena fez um gesto de asserção com a cabeça e disse:
_ É cada coisa que eu vejo! Deus o livre! - interrompeu brevemente a fala e traçou sobre si um sinal da cruz. _ Semana passada a Neusa da limpeza contou que o 217 tava todo sujo de sangue. Ela entrou pra fazer a arrumação e encontrou o quarto com sangue na cama, no chão do banheiro...Um horror! Seu Zeca da segurança disse que a espadada deve ter comido solta.
Os pais desataram a rir. Helena esboçou um sorriso.
_ Tá vendo- disse o pai- já tá melhor a minha menina!
_ Mas eu não quero voltar mais lá, pai- respondeu Helena fazendo cara de criança quando pede algo e aninhando-se no peito do velho.
_ E como vai fazer pra pagar o cursinho? - perguntou a mãe.
_ Deixa comigo- disse o pai dando palmadinhas no braço da mulher. _ Vou segurar sua onda- disse lançando uma piscadela para Helena.
_ Agora vai lavar essa carinha de anjo emburrado- concluiu.
Helena levantou de um pulo e subiu as escadas correndo. Não deu um minuto e gritou lá de cima:
_ Manhêêê, faz uma lasanha pra mim?!
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