Cinco semanas de governo Lula. Como avaliar a situação política e o novo governo? Impossível analisar sem pontuar que é também a quinta semana pós-governo Bolsonaro, e agora a quarta semana depois da intentona bolsonarista de 8 de janeiro. A tônica do momento é a dura transição de governo, com o mercado financeiro e a imprensa acuando o novo governo para que este não tome nenhuma medida econômica que esteja um pouco fora de seu script neoliberal padrão. O bolsonarismo por sua vez continua empenhado em seu programa de fakenews de whatsapp e mobilização do gado, a fração da população que não largou o Bolsonaro mesmo depois de todos os crimes e que agora não quer aceitar a legitimidade democrática do novo governo instituído.
Dito isto, é bom frisar que a transição de governo é libertadora pero no mucho. O fim do governo Bolsonaro realmente configura um novo parâmetro civilizatório em terras brasileiras, mas, como dizíamos, são muitos os fatores a determinar a atual conjuntura e a pressionar o novo governo para que este não avance por caminhos mais democrático-populares. O pessoal da imprensa queria a deposição de Bolsonaro, claro, mas continuam muito determinados a não abrir mão do modo Paulo Guedes de gerir a economia nacional. O próprio imperialismo americano não queria mais saber do Bolsonaro, bem como parcelas determinantes da burguesia brasileira. Afinal, Bolsonaro representava perigo para os próprios negócios das elites, e não havia possibilidade de reeleição sem que o país enveredasse por um cenário de desintegração e anomia social. Era necessário que o andar de cima permitisse o retorno de Lula, para que a situação minimamente se normalizasse depois dos quatro anos de desgoverno fascista.
Em sua primeira semana de governo, Lula revogou diversas medidas do governo anterior, nas questões de armas, meio ambiente, educação, privatizações. E se dispôs a continuar com os 600 reais de auxílio, que agora passa a ser o Programa Bolsa Família. Tem agora toda a mobilização do governo para a resolução da questão yanomami, que foi uma outra demonstração do caráter genocida do bolsonarismo, e que mostra bem a diferença oceânica entre uma gestão de extrema direita e uma gestão normal do reformista Partido dos Trabalhadores.
Porque a atual gestão, após as primeiras semanas, um pouco mais de um mês após o emblemático discurso de posse do presidente Lula (em que este defendeu programas sociais para o fim da fome e impostos sobre grandes fortunas), começa a revelar que promessa de campanha eleitoral é realmente só um discurso pra sensibilizar as pessoas. Na hora de assumir o governo, ninguém tem peito de mexer no orçamento. Eles vão parando de criticar o teto fiscal, tiram o pé do discurso de rever as reformas trabalhista e previdenciária, etc.
Tem agora o desentendimento com o Banco Central sobre a taxa de juros em 13,75%, mas muito pouco ou quase nada se fala sobre o aumento real dos salários, por exemplo, ou sobre um choque de recursos em obras públicas, para dinamizar a economia e gerar postos de trabalho. Tem também a questão da Petrobrás ainda estar recheada de elementos bolsonaristas, mas queremos ver se o presidente Lula vai manter a promessa de tirar a política de paridade com o dólar no preço dos combustíveis.
Tudo bem que são só 40 dias de novo governo, que tem os militares e o mercado fazendo pressão sobre os caras, que a turba bolsonarista continua a representar perigo e que o próprio Bolsonaro ainda tá livre e solto por aí, que o Xandão e o STF, apesar de corretos em pegar os bandidos bolsonaristas, ainda não apontaram para medidas contundentes de responsabilização dos crimes da pandemia e de toda a série de crimes cometidos pela familícia e pelos generais.
Em certa medida seremos obrigados a defender o governo Lula da sanha golpista do mercado e de seus lacaios. Mas não podemos abrir mão de pressionar o governo para que este pelo menos cumpra suas promessas. Nem se trata de exigir do PT o que o partido nunca se propôs a oferecer. Como comunistas, faremos os apontamentos necessários, falaremos das necessidades de escalas móveis de trabalho e salários, defenderemos a estatização de setores estratégicos da economia, exigiremos o fim da fome, com o imposto progressivo e uma política avançada de distribuição de renda, entre outras questões. Mas do governo Lula exigiremos o que este em campanha se comprometeu a entregar, nada menos.
O Brasil amarga agora uma situação social grave, onde milhões e milhões de pessoas passam fome! A situação é severa. Os índices de criminalidade avançam, de prostituição, drogadição, etc. São amplas massas da população em vulnerabilidade. Famílias desamparadas, proliferação de favelas, crianças em situação precária de vida. E o país tem recursos, não pode haver essa miséria. Tem que ter uma política de desenvolvimento, de cobertura social. Não basta tirar o Bolsonaro. Tem que incluir o cidadão no orçamento, tem que acabar com a fome e o subdesenvolvimento. E tem que ser depressa. Senão volta a direita num próximo governo, senão o povo não aguenta, senão as mudanças serão superficiais e provisórias.