sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
Uma semana de contradições. Um país recheado delas
Essa semana eu estava conversando com uma conhecida que trabalha no Mackenzie e fiquei sabendo que lá tem intervalo separado pra bolsistas. Impressionante! Eu já sabia que a coisa lá é pesada pra bolsistas e cotistas, mas não imaginava que o preconceito chegava a tomar tamanho vulto de segregação institucionalizada.
Aí o pessoal fala da contradição do preconceito numa instituição confessional, que se reivindica cristã. Essa conhecida mesma comentou nestes termos, dizendo ser gritante o racismo e que o constrangimento é inevitável para quem vê de perto, que inclusive as crianças do colégio transparecem o incômodo com as classes baixas que frequentam o espaço. Pouco cristã essa turma, né?! Mas o Mackenzie sempre foi conhecido pelo elitismo, e o moralismo lá sempre foi de rasgada hipocrisia. Lembrei a minha interlocutora que na época da ditadura o Mackenzie foi um dos celeiros do comando de caça aos comunistas, que ali morreu um estudante na famosa batalha da Maria Antônia, quando estudantes progressistas da USP foram às vias de fato com reacionários que provocavam de dentro dos muros calvinistas. Quer dizer, o ranço conservador-reacionário-elitista-racista é coisa antiga, batida e rebatida.
Gente que estudou lá conta que trocar beijos nos corredores, por exemplo, pode render aos casais repreensão dos seguranças; ou que se o sujeito não estiver bem vestido, periga de ser olhado torto por almofadinhas; ou que nas portas dos banheiros os fascistoides escrevem mensagens com conteúdos de ódio às minorias, entre outras situações similares.
Essa semana eu assisti Machuca, um filme chileno muito bom que me fez lembrar do relato sobre as dependências mackenzistas, mas que me fez pensar muito mais no Brasil como um todo. Machuca retrata o período do governo Allende em que a polarização política entre esquerda e direita ganhava contornos preocupantes, com o governo socialista sendo fustigado pelo imperialismo que forjava crises de desabastecimento e manifestações elitistas e chauvinistas nas ruas.
O filme fala de um menino pobre, morador de uma ocupação, que é admitido em um tradicional colégio de padres frequentado por filhos da elite. O filme mostra bem, através dos pais dos alunos e das próprias crianças, o clima de rivalidade política e intolerância de classe, em momentos nos quais as acusações nos remetem ao Brasil de hoje, quando, por exemplo, os que pregam o diálogo e a interação são tachados de comunistas, marxistas; ou quando as madames paneleiras despejam seu ódio de classe contra as mulheres trabalhadoras.
Importante frisar que o filme retrata o período do golpe pinochetista bancado pelo imperialismo, que implantou um mirabolante plano de privatizações pró-EUA e que em sua sanha repressiva torturou e executou milhares de pessoas. Foi assim que terminou a história que hoje nos faz lembrar da Venezuela pela situação de dura perseguição do imperialismo, quando este ameaça intervir diretamente em mais um golpe de estado; ou que nos lembra o Brasil da polarização ideológica entre raivosos e ressentidos coxinhas de um lado e o movimento social sendo espremido de outro, prestes a presenciar um cenário de ainda maiores ataques do aparato repressivo do estado ao conjunto da população.
Hoje acordamos com a notícia da intervenção militar no Rio, outro prenúncio de que as coisas não vão bem, mais um movimento na escalada golpista.
O Brasil regride terrivelmente. Ou será que o Brasil nunca evoluiu de fato? O desfile da Tuiuti na Sapucaí é uma boa resposta. Um modo bem brasileiro de expor a percepção popular.
Mas até o carnaval os coxinhas levaram. Sinal que o monopólio global e a força da indústria cultural são barreiras a serem derrubadas pela massa. Importante estar atento ao viés ideológico, pra não se deixar tragar pelo discurso manipulador da elite que deseja ver a gente pelas costas.
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