Semana passada fui a um culto numa igreja de uns amigos, uma igreja pentecostal, e me ocorreu de escrever as palavras abaixo para um dos meus amigos que é membro da igreja. As seguintes palavras serviram pra justificar que eu não havia gostado do conteúdo da pregação que ali aconteceu, de um rapaz que dizia que Deus faria o pessoal ali prosperar, com carro, fortuna, etc. Acrescentei e alterei algumas poucas palavras pra especificar melhor algumas ideias, que não alteram em nada o cerne da carta. Julguei pertinente publicá-la aqui porque é fruto de uma observação que acho muito relevante.
Eu tenho muita objeção com essa linha da chamada teologia da prosperidade. E o pregador girava muito em torno disso, falando que as pessoas poderiam prosperar e se tornar empresários de sucesso e tal. Em determinado momento da ministração da palavra fiquei com a impressão de estar numa palestra motivacional, e não em um culto evangélico. O eixo da pregação era de um discurso bem batido nas denominações neopentecostais.
Se a gente vê o canal da Igreja Renascer, por exemplo, poderia aqui citar diversos canais para exemplificar, a gente nota que eles sempre seguem o mesmo padrão, inclusive se valendo de trechos do antigo testamento para ilustrar as mensagens, que quase nunca mudam, sempre girando em torno daquele velho chavão da promessa e da fé. ''Deus tem promessas extraordinárias e a gente tem de ter fé que assim teremos sucesso na vida'' .
A reforma protestante surgiu com algo semelhante e não foi à toa. Lutero e Calvino foram líderes de um movimento eclesiástico que teve a função de validar teologicamente o estabelecimento do capitalismo comercial daquele tempo. Isso a gente aprende no ensino médio: Weber e a ética protestante, o puritanismo de uma vida ascética e produtiva, etc.
Eu eu sou definitivamente adepto de uma outra visão de mundo, mais propositiva, mais globalizadora. Vejo esse protestantismo como um expoente do individualismo, burguês, às vezes reacionário e perigoso; e sou muito adepto da teologia da libertação de Leonardo Boff e Frei Betto. É uma visão mais progressista de mundo, que se vale dos instrumentais do marxismo e que focaliza bastante a espiritualidade extremamente humana de Jesus, a grande novidade do evangelho que rompe com a velha lógica dos preceitos da lei para dar espaço ao coração e às necessidades do homem.
O evangelho de Jesus quebra com a lógica da meritocracia e institui no centro de tudo a GRAÇA. Deus já não abençoa pra honrar os méritos do homem que é fiel, mas Deus abençoa porque É fonte de toda graça. Não nos enganemos, o Deus de Jesus é um pai misericordioso que acolhe e que cuida, sem julgar merecimentos, e sim por puro amor.
É infantil ou é perverso afirmar que eu só vou conhecer a promessa de Deus se trilhar um caminho x. E aqui abro um parênteses pra recordar uma frase muito bonita de um frade franciscano que conheci, que dizia que não abandonamos ou voltamos aos caminhos de Deus, pois eles são peculiares.
Pra retomar, Deus dá a graça porque Deus é misericórdia. E ele dá a graça quando entende oportuno. Vamos lembrar da passagem do evangelho em que Jesus fala que para entrar no reino dos céus é preciso ser como uma criança. Os discípulos vinham no caminho discutindo para ver qual deles era o maior. Jesus coloca uma criancinha no meio e diz que os últimos serão os primeiros.
Não é o que mais merece que vai ocupar esse lugar, é o que mais precisa. Jesus inverte a lógica desse mundo, que hoje em dia a gente pode identificar no atual estágio do capitalismo financeiro, que é concorrencial, utilitarista.
Jesus vai pro meio dos pecadores que estão à margem. Jesus não se resigna aos banquetes escrupulosos dos sacerdotes do templo, fariseus e doutores da lei, que não se misturavam aos ''impuros''. Jesus vai anunciar o reino às prostitutas, vai acolher os leprosos, vai, por exemplo, jantar na casa de Zaqueu e restaura vidas de pessoas que ninguém queria saber.
Falo isso porque não consigo imaginar Jesus numa igreja explicando pro pessoal o que fazer pra prosperar na vida, pra ficar rico, acumular propriedades, etc. Usurparam a figura de Jesus pra um discurso de amoldamento social que é extremamente pernicioso.
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