quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Pastiche de um lado, crise de direção de outro

É até um contrassenso o Bozo ter estabilidade no cargo de presidente com tudo isso que tem acontecido em seu governo e em seu partido. Tem muita contradição, tem impopularidade, tem tudo. Mas a elite parece se dar por satisfeita em apenas desgastá-lo com vistas a tirá-lo de lá em 2022.

Política é um negócio muito maluco mesmo. Vejam como fica difícil de estabelecer um prognóstico de médio prazo, o que dirá de longo prazo!
O mais provável, que a gente apontava desde o início, era que ele fosse colocado de lado em tempo recorde. Depois da reforma previdenciária talvez. Não teria mais funcionalidade ao sistema. E de fato pode ser que isso aconteça. As condições estão dadas. Mas fica mais ou menos nítido que o Bozo, a despeito de todas as suas inapetências, também não depõe contra o rumo geral do desmonte, o que faz com que o imperialismo deixe ele lá fazendo suas bizarrices.

É uma política de circo. Ele acabou com o tédio na política. Ele trouxe paixão, discórdia, intrigas, dramas, rompantes, etc. Populismo barato, lógico, mas que pela relevância dos cargos em jogo coloca um país inteiro em estado de expectativa, em estado de leitores de novela chinfrim. Estamos reféns de um circo. Reféns de um pastiche. São intrigas palacianas que dão pra gente se entreter. Enquanto que no congresso e no ministério da economia o rolo compressor da austeridade vai garantindo os recursos da banca ao passo que elimina direitos sociais e trabalhistas.

Só uma forte mobilização popular colocaria em xeque tudo isso. Enquanto tem estabilidade na produção, ordem nas ruas, a situação vai sendo empurrada com a barriga pelos donos do poder.

Nosso maior problema é a crise de direção. Com uma esquerda dessas, que só pensa em eleição, que fica protelando pra daqui a 3 anos uma possível alternativa (que nada e ninguém pode assegurar que vai dar certo), não existe possibilidade de quebrar o ciclo e reverter a situação. É uma esquerda neoliberal. Quando estavam no governo se comprometeram com essa política. Agora na oposição agem como a oposição de direita também age. Tentam comer pelas bordas esperando seu verdadeiro momento de ação, que é a eleição. Mobilização popular pra que, né? Só tomam lugar nas mobilizações populares quando a coisa desanda muito. Aí eles saem dos gabinetes, fazem média, fazem discursos, fazem tratativas pra reestabelecer a ordem, colocam panos quentes, se dizem paladinos da democracia, etc, etc. Porque são políticos profissionais, porque não pensam a política para além da institucionalidade.

E, como o Equador mostra agora, pra reverter certos processos de golpe e política anti-popular, a massa tem que sair às ruas e partir pra ação direta.

Vocês conseguem imaginar um desses deputados organizando uma insurreição popular?  Eu só consigo imaginá-los naquilo que é de hábito deles: campanha eleitoral ou debates no parlamento. Assim como a burocracia sindical, que não quer saber de abandonar a zona de conforto.
Só essa inação toda em combinação é que explica o Brasil continuar com uma presidência dessas.


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