terça-feira, 8 de outubro de 2019

Bacurau / Tarantino no sertão!



Ontem fui ver Bacurau. Eu sei, tô um pouco atrasado em relação à polêmica. Mas fui ver e tô aqui pra falar pra vocês das impressões que tive. Aliás, dessa vez até que não demorei muito pra assistir e escrever alguma coisa sobre...rs.  Mas, enfim, vamos ao aclamado filme.

Às vezes um filme é só um filme...

Parafraseando a célebre frase do Freud, aquela em que ele diz que "às vezes um charuto é só um charuto...rs. Nas últimas semanas, muito se falou sobre o filme de Kleber Mendonça e Juliano Dorneles. Amigos meus de facebook, conhecidos, enfim, todo mundo tecendo comentários, e, como é do costume da classe média mais ilustrada, buscando compreender supostas mensagens cifradas.

Abundaram interpretações e especulações. Abusaram da semiótica? Talvez. Houve quem nem se desse muito ao trabalho de encontrar um significado, e que tão somente se ativesse a criticar os cineastas pela forma que se valeram para a transmissão de sua mensagem política, dizendo que os mesmos incorreram em grosseira paródia e que ofereceram ao público a catarse que este desejava.

Ok, a crítica pela crítica já fomenta um debate interessante. Eu fiz faculdade de filosofia. Que me perdoem os práticos; é hábito nosso dissecar fatos, traduzi-los em idéias, elaborar e abstrair um pouco, buscar os sentidos, as significações, etc.


Mas, como eu dizia, às vezes um filme é só um filme. Não é exatamente esse o caso de Bacurau. Evidente que a obra traz uma metáfora, uma crítica, uma visão política. Mas isso não é nada extraordinário. Digo isso porque tenho acompanhado o trabalho de Kleber Mendonça ao longo dos últimos anos.

Agora tá todo mundo falando do cara por conta do engajamento político que assumiu em Cannes, não de agora, mas desde o filme anterior  (Aquarius), em que equipe e atores pediram, se não me falhe a memória, Fora Temer e Lula Livre. Não me lembro bem; alguma coisa assim.

Mas, insisto, Bacurau faz parte de uma biografia, de um estilo, uma filosofia, um modo de fazer cinema que não é de hoje. Quem viu os filmes anteriores do Kleber Mendonça, sabe que a praia do cara é essa mesma. O Juliano Dorneles eu não conheço, confesso. Mas o Mendonça não é um cineasta popularesco. O cinema do cara é do circuito alternativo, gênero cult, com críticas sociais e políticas, com estética peculiar, com aquele som hiper captado, por exemplo, notória característica de seus trabalhos.

Se a metáfora da invasão estrangeira é uma má metáfora, a grosseira paródia de que seus detratores o acusam, aí fica mais complicado dizer.  Vale, claro, abordar o tema com calma e especular não só o conteúdo específico do longa, mas de tudo o que se tem feito no cinema nacional, se esse material tá vindo muito mastigado pro público, se a indústria cultural tá menosprezando a inteligência do espectador, se a linguagem do cinema tá pobre.

Daí a dizer que esses nichos de cinema cult estão se tornando aparelhados politicamente ou que se tornaram redutos de ideologia da classe média uspiana, etc, etc, já existe exagero.

Não acredito que seja o caso. Digo isso pela observação da continuidade do trabalho e por pensar que às vezes o pessoal pesa mesmo na crítica. Além de, obviamente, desconsiderar as críticas imponderadas do campo do bolsonarismo e da claque reacionária que sempre tacha a classe artística de ser petista e de mamar nas tetas das leis de incentivo.

Quer dizer, seja pela crítica mais política, seja pela crítica do pessoal que se arrogou o direito de desqualificar o enredo e seus desfechos, não vejo motivos suficientes para que o filme seja classificado como ruim. Não, de fato não é um filme ruim.

O que me chamou atenção foi o sangue. Sim, o sangue, a violência, a contundência. Brinquei dizendo que o filme me lembrou o Tarantino. Isso aí me surpreendeu. Parece que os caras quiseram mesmo chocar. E disso aí eu gostei. Há quem não goste. Há quem desconfie; e o exercício da desconfiança é sadio. É isso.





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