quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020
Dissecando um pouco o bolsonarismo
O Bolsonaro tem uma política kamikase. Ele vai se isolando cada vez mais, querendo nutrir esperanças de um vôo bonapartista. O que é possível mas improvável.
O establishment não quer lançar mão de um impeachment, até porque a política econômica de Bolsonaro, apesar de ruim, é a política que favorece a banca e os rentistas. Mas Bolsonaro cava a própria cova ao se indispor desnecessariamente contra todo mundo. Ele mesmo se queima. E provoca os demais poderes e o centrão a tomarem alguma medida contra ele. Que pode não ser o impeachment, mas algo mais sutil que o desabone completamente. Eventualmente a condenação ou prisão de um dos filhos, o comprometimento da esposa nas investigações que envolvem a família, etc. Ou algo que o envolva diretamente, num processo de desgaste que o faria perder o apoio da parcela de bolsominions nutella, como diz a pesquisadora Esther Solano, ficando só com o apoio dos bolsominions raízes, aqueles que são abertamente proto-fascistas e que estão dispostos à barbárie contra a civilização, ou seja, uma política abertamente regressiva e em oposição aos protocolos de liberdades políticas da democracia formal e de direitos civis básicos.
Existe a discussão se Bolsonaro é fascista ou não. Evidente que ele não é a reencarnação de um Mussolini ou de um Hitler. E não se trata disso a discussão. Quando tachamos Bolsonaro de fascista, o fazemos por constatar em sua política o espírito do autoritarismo e da violência, da paranóia anti-esquerdista, do obscurantismo, da eleição dos intelectuais como inimigos, da perseguição à classe artística, etc.
A política econômica é outra coisa, é um sabugismo vergonhoso, um claro alinhamento ao imperialismo estadunidense em detrimento da soberania nacional. Uma política risível de tão subserviente.
Isso em nada o garante no posto de presidente. Pode ser rifado a qualquer momento a depender das demandas políticas do sistema e dos interesses americanos. Ou seja, esse seu comportamento kamikase pode o levar a ser defenestrado em tempo recorde.
Pra um politico da burguesia, não basta aplicar a política econômica do neoliberalismo. Ele teria que transitar com habilidade entre as diferentes frações da burguesia. E talvez nem isso o garantisse em tempos de tantas contradições e crises.
Lula e o PT, por exemplo, fizeram tudo o que podiam para agradar ao sistema. Poderíamos elencar aqui uma enorme lista de concessões. Não é o caso. O ponto é que a política espelha a conjuntura macroeconômica, a geopolítica mundial, os interesses dos bancos e das grandes corporações, a correlação de forças das classes sociais, etc, etc.
O fenômeno Bolsonaro veio pra ficar, porque é uma resposta comum ao espírito do nosso tempo, porque dialoga com o ressentimento da clssse média arruinada e reacionária, porque envolve uma psicologia fascista que faz a cabeça de uma parcela de uns 20% da população. Como eu cheguei a dizer num outro artigo, o bolsonarismo é a versão contemporânea do lacerdismo, uma espécie de malufismo digital. Trata-se de uma força política que tem seu espaço garantido e que vai ser um player significativo na política dos próximos anos, ainda que seja desmascarada em suas falcatruas.
Lembram do "rouba mas faz"? Pois então, o bolsonarismo pode muito bem entrar aí como um "rouba mas é de direita", "rouba mas não é o PT", "rouba mas odeia as domésticas e os pobres". E a crise econômica do neoliberalismo, nós sabemos, agudiza a luta de classes e mexe profundamente com as classes médias, um fenômeno ideológico que veio à tona e tá aí mostrando seu barbarismo e perversidade.
Mas, voltando ao tema inicial, cumpre dizer que isso em nada garante Bolsonaro na presidência.
Ele que fique esperto!
Bom, tá certo, o cara é um débil mental, né. Azar o dele. Sorte nossa. As coisas ficam mais claras assim. Ele queima logo o filme e fica mais próximo de voltar para o lugar de onde saiu.
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