quinta-feira, 18 de maio de 2017

Enfia a graduação no cú!

No meu primeiro ano de faculdade de filosofia na Unifesp, escrevi e publiquei um artigo que causou estremecimentos no campi. O título era ''Enfia o doutorado no cú''. Texto publicado numa rede social da época e que se perdeu. A frase brilhante, contudo, não foi fruto da minha criatividade, mas inspirada por uma pixacão no muro externo da faculdade. Usei a frase impactante pra chamar atenção a um texto que visava criticar o peleguismo dos professores.
O movimento estudantil fervilhava, com greves, ocupações, repressão da reitoria e da direção local, enfim, um momentto turbulento, no qual arregaçávamos as mangas e íamos atrás de nossos direitos. Entráramos numa universidade federal e não tínhamos sequer uma biblioteca que prestasse, quanto mais estrutura como bandejão e moradia.
Agora acabo de sair da cerimônia da minha colação de grau, uma cerimônia muito simples, pouquíssimo solene e bem rápida. Não tô nem acreditando que conclui o ensino superior. E devo confessar que estou contente. Não porque julgue grande coisa me formar na faculdade - qualquer idiota tem diploma superior hoje em dia - mas porque isso é uma conquista pessoal considerável diante dos contratempos que tive que enfrentar no caminho, tais como doença e trancamento de matrícula. Fiquei por mais de dois anos distante dos bancos da universidade e, quando retornei, ainda encontrei muita dificuldade pra enfrentar os obstáculos burocráticos.
Nunca fui muito afeito à disciplina e, depressivo e sem ânimo, tive que superar embaraços em decorrência de minha personalidade difícil e a natural resistência de um ambiente que pode ser muito hostil a alguém que se engaja politicamente e levanta a bandeira do comunismo.
Fui preso duas vezes por atuar no movimento estudantil. Primeiro em uma ocupação de reitoria e depois num piquete de greve. Apanhei da polícia, fui algemado e passei longas horas detido, coisa que me deixou muito esmorecido à época.
Mas enfim, hoje colo grau. E impossível seria não lembrar dos três colegas que perdi na filosofia. Os três se suicidaram. Os três eram jovens, negros e pobres. A gente sempre corre o risco de glamourizar o suicídio, coisa muita séria, mas penso que os três foram vítimas de um sistema perverso e sufocante, e, mesmo discordando da decisão que tomaram, penso que não sou ninguém pra julgar, e acredito compreendê-los. Gostaria de dedicar essa formatura a eles. Lúis Carlos, Tilene e Tiago. Que Deus os tenha.
E espero continuar na militância por um mundo mais justo e igualitário. Optei por ser uma pessoa letrada, coisa que não me faz nem melhor nem pior que ninguém, mas que me faz ter uma visão de mundo e uma leitura da realidade peculiares. Pretendo continuar estudando, e, como intelectual orgânico, me esforçando pra fazer alguma diferença pra melhor nessa porra toda. A graduação por si só não me valeria muito. Aos que se julgam importantes por um diploma na parede, segue a dica do título.

                      
                               
                                 Amar e mudar as coisas me interessa mais!
                                                   Belchior, Alucinação, 1976


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quarta-feira, 10 de maio de 2017

Vamos aos fatos

Não adianta tentar pegar o Lula em contradição, dar mandado de condução coercitiva, enfim, todo esse jogo de cena. Isso só serve pra espetacularização da mídia golpista. Se não tem provas, não tem ilícito. Qualquer Zé Mané sabe disso.
Agora, e isso é pertinente apontar, pra Sérgio Moro isso não é problema. O congresso nacional votou um impeachment sem crime de responsabilidade; quer maior desconsideração da lei e do direito que essa?! A própria LavaJato é uma sucessão de violações aos direitos. Esses caras vão dar um jeito de pegar o Lula. Sem provas, só com convicção. E o episódio em questão vai entrar para um longa lista de irregularidades de um poder que em tese seria o maior responsável por zelar pelo pleno cumprimento da justiça.
Pra ser juiz é só se formar bacharel em direito e prestar concurso público, né. É simples, sem eleição, sem ter de se submeter ao crivo do voto. O sujeito vira um semi-deus, excelência. E pode vender votos, sentenças, pode ajudar o partido do coração e pode aderir ao fascismo da vulgaridade coxinha. Aí vira herói do brasileiro médio reacionário e burro. Pronto. Pode até sair candidato a presidente.
O duro é ver que os petistas religiosos acham que dá pra superar isso elegendo Lula ano que vem. Mas e se não tiver eleição ano que vem? E se queimarem a candidatura do cara? Tá ok, se ainda sim ele for eleito, qual será sua agenda na presidência? A petistada acredita mesmo que Lula guinaria à esquerda, coisa que não fez em oito anos como presidente?
Quem acredita em Moro é estúpido, verdade. Mas quem acredita em Lula tá quase lá. Não dá pra abdicar da inteligência e encapar o queremismo, o messianismo ou qualquer destas soluções rasas. É preciso ir à raiz dessa desgraça toda. E essa desgraça toda é sistêmica, estrutural. Só se muda por fora. Não é possível regenerar por dentro.
A esquerda moralista também não aprendeu essa lição ainda. Se dizem socialistas mas estão muito confortáveis com suas cadeiras no parlamento burguês. Só o socialismo, o comunismo, pra ser bem claro, trará solução definitiva. Sem fetiches, sem meias verdades.                    

*Mário Medina / Tendência Revolucionária - Psol

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sexta-feira, 21 de abril de 2017

Os cães ladram e a caravana passa

Nenhum político profissional é insubstituível no tabuleiro da democracia burguesa. Essas figuras são marionetadas por força muito superior ao que representam suas personalidades e trajetórias. O grande capital é o dono da situação, é quem paga a banda e escolhe a música. Ninguém está imune a ser corrompido.

A grande maioria dos atores políticos entra nesse mundo justamente pra isso. Não se trata de dever cívico, vocação para a política. Trata - se de interesses pessoais, altos salários, oportunidades a perder de vista num mundo de lobbys e propinas. O sujeito presta um serviço de testa de ferro, de laranja, porque é o capital que está acima de tudo, que manda e desmanda, que coopta elementos para dispensá - los quando assim o aprouver.

Isso aconteceu com Eduardo Cunha no ano passado, pouco depois de ter sido um dos principais articuladores do golpe; e isso acontece agora com José Serra, por exemplo, poucos meses depois de articular a entrega do pré - sal às corporações estrangeiras. Agora o sujeito é queimado em cadeia nacional por delatores da Odebrecht e em pouco tempo será mais um pária, um renegado, e cederá terreno a outro entreguista a serviço dos interesses imperialistas. Como Alckmin e Aécio caminham no mesmo rumo do descarte, o mais provável é que o próximo a ser convocado à presidência seja João Dória, bem ao estilo outsider, como Trump nos EUA. E virá com aquela conversa fiada de que é gestor e não político. E vai querer privatizar o que encontrar pela frente.

Está claro como em dia de sol aberto e céu limpo que o plano do imperialismo é queimar a candidatura de Lula para abrir caminho a alternativa abertamente neoliberal, pra avançar no ajuste fiscal e rifar conquistas sociais. Tudo para que o mercado seja escancarado às corporações americanas e que o erário público brasileiro continue religiosamente destinado ao rentismo.

Moral da história: muda - se os picaretas profissionais que encenam a farsa democrática mas a picaretagem é a mesma de sempre. Por isso a importância de apontarmos para um horizonte estratégico revolucionário. Só a revolução e o socialismo porão a termo essa lógica perversa para em seu lugar implantar algo diametralmente oposto. Por isso a importância de romper com o petismo e tudo o que ele representa, romper com os reformismos e ir na raiz de todo esse sistema de injustiças.

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quinta-feira, 20 de abril de 2017

CRIAR PODER POPULAR

A atual crise política brasileira, crise de representatividade, de corrupção sistêmica e institucionalizada, é a prova cabal de que só o advento de uma revolução socialista a implantar uma democracia direta em esquemas de conselhos populares seria capaz de livrar o país do peso secular que nos impede o pleno desenvolvimento de nossas capacidades.
O estado brasileiro, desde seu início, foi aparelhado por castas políticas que serviam a interesses externos, e nas poucas vezes em que se desenhou alguma autonomia foi submetido a golpes para que voltasse a satisfazer plenamente os desejos dos donos da situação, seja a metrópole portuguesa quando ainda éramos colônia ou os imperialismos britânico e norte-americano, este último interferindo em praticamente tudo o que se passou por aqui nos últimos três quartos de século. Estamos padecendo por uma estrutura secular de desigualdade e subdesenvolvimento, miséria e alienação. E a depender da classe política que temos, do judiciário servil às elites e da tacanha e nada nacional -desenvolvimentista burguesia que temos, permaneceremos estagnados, dependentes da flutuação do mercado internacional de commodities e amargando altos índices de desemprego,  vulnerabilidade social, violência e todo tipo de mazelas comuns ao grave estágio de decadência ao qual estamos atirados desde sempre.
Aliado à frações da burguesia nacional e surfando na onda de um período mais promissor aos países emergentes, o PT cedeu migalhas em sua gestão presidencial e até antes da crise de 2008 chegar violenta ao Brasil, logrou ceder poder de compra à população, limitado a produtos específicos, verdade seja dita, mas algo inédito até então dentro das expectativas das parcelas mais carentes da sociedade, para logo em seguida retirar direito por direito conquistas sociais e trabalhistas. Por sua ligação com os sindicatos e movimentos populares e vítima de um preconceito com as elites que não o aceitaram apesar dos serviços prestados, o PT foi duramente apeado do poder para abrir caminho a uma camarilha abertamente pró - mercado financeiro e incumbida de passar todo tipo de retrocessos, uma agenda violentíssima de ataques aos trabalhadores e aos programas sociais, o que já tem jogado parcela considerável da população na miséria novamente e vetado importantes mecanismos de inclusão social que poderiam garantir alguma dignidade apesar da crise.
A experiência com o PT foi dura para o povo, que nutria esperança no partido e que o viu aderir ao carcomido  esquema de poder baseado em alianças com o pior tipo de gente possível, ceder às chantagens, e, por fim, não resistir ao golpe, entregando o poder de bandeja aos contumazes estelionatários que agora se vêem à frente da situação. Tudo parece concorrer à conclusão que agora apontamos: não há diálogo possível com os poderosos, não há aliança razoável a estabelecer com eles. As duras atribulações a que fomos expostos nos levam a concluir que a solução é derrubar esses desgraçados de seus postos e assumir o poder, para que o próprio povo brasileiro, a frente da situação, faça por onde reordenar a economia de acordo com seus reais interesses, expropriando quem há séculos nos expropria e redistribuindo com justiça o que é fruto de nosso trabalho. Não há mais espaço para falsas alternativas, esperanças que não são nossas. Só o povo no poder vai fazer reforma agrária, vai estancar a sangria do pagamento da dívida pública e reverter verba para que os serviços públicos funcionem com excelência. A tarefa revolucionária no Brasil cabe à classe trabalhadora, e é exclusiva e inalienável.
O momento agora é de sistemática denúncia das arbitrariedades promovidas por esse desgoverno, ao mesmo tempo que apontamos para a necessidade de transição ao socialismo, com pautas de diminuição da jornada de trabalho e pleno emprego, salário mínimo vital com reajustes automáticos de acordo com a inflação, planos de obras públicas com controle operário, democratização da mídia e fim das polícias.            

CRIAR PODER POPULAR!                    



Imagem de comício na Praça da Sé. Greve geral de 1917Resultado de imagem para greves, imagens

sábado, 25 de março de 2017

O que é isso, pastor?!

Semana passada fui a um culto numa igreja de uns amigos, uma igreja pentecostal, e me ocorreu de escrever as palavras abaixo para um dos meus amigos que é membro da igreja. As seguintes palavras serviram pra justificar que eu não havia gostado do conteúdo da pregação que ali aconteceu, de um rapaz que dizia que Deus faria o pessoal ali prosperar, com carro, fortuna, etc. Acrescentei e alterei algumas poucas palavras pra especificar melhor algumas ideias, que não alteram em nada o cerne da carta. Julguei pertinente publicá-la aqui porque é fruto de uma observação que acho muito relevante.

Eu tenho muita objeção com essa linha da chamada teologia da prosperidade. E o pregador girava muito em torno disso, falando que as pessoas poderiam prosperar e se tornar empresários de sucesso e tal. Em determinado momento da ministração da palavra fiquei com a impressão de estar numa palestra motivacional, e não em um culto evangélico. O eixo da pregação era de um discurso bem batido nas denominações neopentecostais.

Se a gente vê o canal da Igreja Renascer, por exemplo, poderia aqui citar diversos canais para exemplificar, a gente nota que eles sempre seguem o mesmo padrão, inclusive se valendo de trechos do antigo testamento para ilustrar as mensagens, que quase nunca mudam, sempre girando em torno daquele velho chavão da promessa e da fé. ''Deus tem promessas extraordinárias e a gente tem de ter fé que assim teremos sucesso na vida'' .

A reforma protestante surgiu com algo semelhante e não foi à toa. Lutero e Calvino foram líderes de um movimento eclesiástico que teve a função de validar teologicamente o estabelecimento do capitalismo comercial daquele tempo. Isso a gente aprende no ensino médio: Weber e a ética protestante, o puritanismo de uma vida ascética e produtiva, etc.

Eu eu sou definitivamente adepto de uma outra visão de mundo, mais propositiva, mais globalizadora. Vejo esse protestantismo como um expoente do individualismo, burguês, às vezes reacionário e perigoso; e sou muito adepto da teologia da libertação de Leonardo Boff e Frei Betto. É uma visão mais progressista de mundo, que se vale dos instrumentais do marxismo e que focaliza bastante a espiritualidade extremamente humana de Jesus, a grande novidade do evangelho que rompe com a velha lógica dos preceitos da lei para dar espaço ao coração e às necessidades do homem.

O evangelho de Jesus quebra com a lógica da meritocracia e institui no centro de tudo a GRAÇA. Deus já não abençoa pra honrar os méritos do homem que é fiel, mas Deus abençoa porque É fonte de toda graça. Não nos enganemos, o Deus de Jesus é um pai misericordioso que acolhe e que cuida, sem julgar merecimentos, e sim por puro amor.

É infantil ou é perverso afirmar que eu só vou conhecer a promessa de Deus se trilhar um caminho x. E aqui abro um parênteses pra recordar uma frase muito bonita de um frade franciscano que conheci, que dizia que não abandonamos ou voltamos aos caminhos de Deus, pois eles são peculiares.

Pra retomar, Deus dá a graça porque Deus é misericórdia. E ele dá a graça quando entende oportuno. Vamos lembrar da passagem do evangelho em que Jesus fala que para entrar no reino dos céus é preciso ser como uma criança. Os discípulos vinham no caminho discutindo para ver qual deles era o maior. Jesus coloca uma criancinha no meio e diz que os últimos serão os primeiros.

Não é o que mais merece que vai ocupar esse lugar, é o que mais precisa. Jesus inverte a lógica desse mundo, que hoje em dia a gente pode identificar no atual estágio do capitalismo financeiro, que é concorrencial, utilitarista.

Jesus vai pro meio dos pecadores que estão à margem. Jesus não se resigna aos banquetes escrupulosos dos sacerdotes do templo, fariseus e doutores da lei, que não se misturavam aos ''impuros''. Jesus vai anunciar o reino às prostitutas, vai acolher os leprosos, vai, por exemplo, jantar na casa de Zaqueu e restaura vidas de pessoas que ninguém queria saber.

Falo isso porque não consigo imaginar Jesus numa igreja explicando pro pessoal o que fazer pra prosperar na vida, pra ficar rico, acumular propriedades, etc. Usurparam a figura de Jesus pra um discurso de amoldamento social que é extremamente pernicioso.

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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Carnaval não é comigo!

Tenho uma confissão a fazer. Não gosto de carnaval. Na verdade nunca gostei. Quando eu era criança minha família me levava pro carnaval e sempre tinha que vir alguém comigo antes do horário, porque eu ficava profundamente incomodado com aquela barulheira, com a aglomeração, com as serpentinas caindo por cima. Olhava aquela turma mega-animada e ficava me perguntando do porquê de tanta euforia. Naquela época, quase trinta anos atrás, devia rolar lança perfume adoidado. Eu não vou lembrar.
Falo de bailes de carnaval em clubes, lugares fechados. Em São Paulo não havia tradição de carnaval de rua. Agora retomaram a moda dos blocos de rua e o centro da cidade virou uma bagunça. Parece que os banheiros químicos disponibilizados pela prefeitura não bastam à multidão que se comprime nas ruas. Ou então essa galera não gosta de urinar em banheiros químicos. Muita gente tem urinado ao ar livre. A gente passa pelos cantos menos iluminados e sente um cheiro forte de urina. Até as meninas tem feito xixi no meio da rua. Um conhecido meu dizia, horrorizado, que agora as moças tem duas manias ruins: coçar a virilha em público e urinar no meio da rua. Esse conhecido é mais velho e não anda contente de ver a mulherada se libertando de arcaicos estereótipos. 
Essa polêmica de fazer xixi na rua me fez lembrar outros carnavais, os da praia. Não sei se ainda acontece, mas em um deles na Praia Grande vi que uma das diversões do pessoal era mijar em saquinhos e atirá-los nos pés das moças bonitas. Carnaval poder ser bom pra quem gosta mas é inegável ser uma data em que a razão cede espaço aos instintos mais primitivos e onde muita gente perde a noção do ridículo. O que é perfeitamente aceitável quando, apesar de tudo, há respeito e a diversão de uns não infringe o sossego e a privacidade de outros. É difícil, mas se não for assim vira terra de ninguém.
Eu topo ver o carnaval pela tv, contemplando os belos corpos das passistas, assistindo pela Globo News os blocos de rua Brasil afora e me assombrando com a coragem das pessoas em se meter no meio de uma multidão e passar por todo tipo de aperto pra seguir na retaguarda de trios elétricos que emitem sons tão fortes que me fariam colocar o coração pela boca.
Eu adoro flanar por aí e por curiosidade passei pelo carnaval do centro de São Paulo. E me espantei com o cenário de fim do mundo. Ruas extremamente sujas e com forte cheiro de urina, gente caída, atravessada nas sarjetas, gente vomitada, gente passando mal. Era a barbárie.
O carnaval dos bolivianos perto de casa tem tudo isso também, mas com uma porra de um spray de lata que as pessoas ficam espirrando umas nas outras. Esse ano já tive que alterar meu caminho para não ter de passar por lá. Ano passado me espirraram espuma até não poder mais. As pessoas saem irreconhecíveis do mar de gente que troca jatos de spray de espuma.
Bakhtin tinha a tese de que o carnaval é um período em que quebram-se hierarquias, padrões e condutas normativas por um breve espaço de tempo em que vigora uma permissividade capaz de despertar e efetivar, ainda que muito fugazmente, desejos e fantasias reprimidas.
E talvez, e esse é um medo que tenho, minha antipatia com o carnaval seja uma reserva de fundo moral, uma internalizada objeção ao caráter libertário da festividade. Todo mundo traz em si contradições que reverberam ora aqui ora ali sem que haja deliberação objetiva para tal. Às vezes eu me assusto com algumas inclinações. Será que essa minha antipatia com a folia é um ato-falho a revelar o que eu trago de mais aristocrático escondido em mim?
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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Pixote / Clássicos do cinema nacional

Sabe quando a gente gosta muito de um filme e assiste várias vezes? Eu adoro ver bons filmes. Assisto umas 10 vezes sem me importar. Com os filmes ruins eu não tenho paciência. Mas os bons, ah, os bons eu assisto mesmo! É um deleite rever um bom filme. Essa semana tava zapeando na tv e vi que tava passando Pixote no Canal Brasil. Me detive ali na frente da tela pra saboreá-lo novamente.
Pixote é um excelente filme, cativante, sensível, extremamente bem feito, com uma ótima trilha sonora, atores muito bons. Tava vendo o filme e me lembrando que ano passado morreu seu diretor, Hector Babenco, e duas atrizes, Marília Pêra e Elke Maravilha. Os três, extremamente talentosos, deixam saudades.
Esse filme Pixote foi lançado em 1981. Tem tempo, hein. Eu não era nem nascido. O longa entrou pra história do cinema nacional. É de um tempo em que o cinema brasileiro não andava muito bem das pernas. A ditadura ainda não havia acabado e os cineastas sofriam terrivelmente com a censura. A moda da época era a pornochanchada, que nos últimos anos ganhou status de cult. Com o perdão da extrema sinceridade, julgo que não foi um interstício muito rentável para a sétima arte no Brasil. Eu já vi filmes bons dessa época, mas pouquíssimos. Em geral eram filmes tecnicamente muito aquém de alguma qualidade visual e sonora, de movimentos de câmera pouco criativos, com temáticas rasteiras, quase sempre apelando para indecorosos jargões do populacho
Depois da florescente fase do cinema novo, com Glauber Rocha a frente, uma maré infrutífera de filmes grosseiros, mal-gravados e pululantes em clichês, Pixote marcou época na esteira do cinema marginal, quando surgiu a efervescência dos temas sociais, que tratavam de marginalidade, crime, etc. Em 79 foram lançados dois ótimos filmes: Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto e Bye Bye Brasil, de Cacá Diegues. Cacá  Diegues, aliás, é um dos poucos que se salvam nesse tenebroso período do cinema nacional dos anos 70.
Mas, retomando Pixote, cumpre pontuar que marcou época, abrindo em grande estilo um ciclo primoroso de nosso cinema. Do mesmo ano de Pixote é outro clássico do teatro brasileiro da época que ganhou projeção nas lentes de Leon Hirshman, o também tocante Eles Não Usam Black-tie. Outro grande filme. Se não assistiram, assistam!

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