terça-feira, 17 de março de 2015

Situação critica

                                                                                             por Mário Medina

As chances das coisas melhorarem são as mesmas chances das coisas piorarem. Se hoje o PT aplica o ajuste fiscal, cortando direitos trabalhistas e aumentando a taxa de juro na tentativa de frear a inflação, nada seria diferente com uma eventual vitória tucana nas eleições que se passaram, ou caso Dilma sofresse impeachment em favor de Michel Temer ou quem quer que fosse. Pelo desejo de uma ínfima minoria de viúvas da ditadura que saíram às ruas, nem uma intervenção militar seria descartada.




O importante aqui é diferenciar e caracterizar bem as possibilidades, ainda que, no limite, saibamos que todas as opções descritas acima pertencem a um grupo de salafrários que são farinha do mesmo saco. Sim, porque estamos aqui entre a cruz e a espada, entre os traidores do PT, que tão odiosamente romperam com as expectativas da parcela mais progressista de toda uma geração de trabalhadores e ativistas sociais, e uma corja elitista abertamente direitista, neoliberal e conservadora, expressa tanto no tucanato privatista dos anos 90, quanto nos herdeiros políticos do regime militar fascista que mergulhou o país 
em uma dura fase de repressão e golpes.

Inquieta e insatisfeita com mais uma vitoria eleitoral do PT, parcela razoável da elite financeira, detentora dos monopólios da mídia e insuflada pela Casa Branca e pelos serviços da Cia, coloca centenas de milhares de ``indignados`` nas ruas, numa segunda versão dos atos de Junho, só que agora claramente mais embranquecida, rica e conservadora.
Minha impressão, observando pela TV a detestável cobertura da Rede Globo, é de que aquilo tudo se tratava de um grande carnaval fora de época, ou uma festa de final de copa do mundo, com a massa trajada de verde e amarelo portando vuvuzelas e bandeirolas de estádio de futebol.
Ridículo, qualquer pessoa com um pouco de senso critico percebia o quão forçosa era aquela movimentação. A direita, desorganizada que só, fracionada em vários grupelhos com distintos graus de imbecilidade, a muito custo colocou a multidão pra fora dos clubes e shoppings pra pedir a cabeça da Dilma.
Quem costuma frequentar manifestações de rua, ou mesmo piquetes e greves em tempos de dissídios, sabe bem o quanto aquele espetáculo bisonho difere do que normalmente se passa num ato de rua. Ninguém foi detido, com exceção de vinte bate-paus da extrema direita que apareceram uniformizados e foram pegos com socos ingleses e rojões no ato da avenida Paulista. O mais curioso do incidente foi ver os manifestantes aplaudindo os policiais e xingando os skinheads de comunistas. Ora, vejam como é patética a coxinhada paulistana. Os caras nem sabem quem é quem, ou o significado do termo comunista.

Sim, o que vamos falar de pessoas que chamam a Dilma de comunista? Esse pessoal tá longe, muito distante de qualquer lucidez política. Numa manifestação de um dos grupelhos fascistas, uma semana antes na mesma avenida Paulista, no vão livre do MASP, cerca de vinte gatos pingados envoltos em bandeiras nacionais, gritavam de um potente carro de som dizendo que tinham saudades do regime militar, repetindo inúmeras vezes que era preciso varrer o Brasil dos comunistas, e que os militares deviam fazer isso na bala.

Mas verdade seja dita, o PT desmoralizou a esquerda brasileira, e, como já pontuava o brilhante Trotsky, a frente popular é a ante-sala do fascismo. Depois de doze anos de um trágico governo de conciliação, onde os trabalhadores viram tão somente o mais do mesmo, sé que agora nas personalidades carismáticas e populares de Lula e Dilma, o caminho da reação é pavimentado, e ainda corre-se o risco de um golpe ou algo parecido.

Mas, pra dar um fecho a este artigo, e delinear melhor a configuração das forças em movimento, necessário é apontar que tudo isso acontece basicamente por divergências entre frações da burguesia. Lula foi bancado pelas oligarquias nacionais que desejavam ampliar seus negócios, em contrapartida aos capitalistas do mercado finaceiro que desejavam continuar a sangria via altas taxas de juros e superexploração de mão de obra brasileira.



Ocorre que Dilma compõe um bloco anti-hegemônico com os Brics, com o 
ascenso do mercado chinês e a formação de um bloco eurásico que desdolarizou seu câmbio e que agora rivaliza com o imperialismo ianque. Marina ou Aécio eram a esperança americana de um governo subserviente a seus interesses.


Não adianta Dilma querer ampliar concessões à direita nessa atual gestão. Há frações da burguesia que querem esfolar ainda mais o povo brasileiro. Há frações da burguesia que não engolem o passado proletário do PT, que desejam a deposição desse governo.

Diante da conjuntura que se apresenta, é necessário que a esquerda revolucionaria conquiste a simpatia das massas e interfira efetivamente nos rumos do pais. Se é pra Dilma ser derrubada, que seja pela classe trabalhadora, e não por interesses mesquinhos da oposição de direita. Se com Dilma está ruim, imaginem como seria com quem consegue estar ainda mais a direita desse governo picareta...

segunda-feira, 16 de março de 2015

Bovinamente

                                                                           poesia


A excentricidade é a regra
A originalidade exceção
O excesso regra
A origem não

Todos bovinamente amam
Ruminam padecimentos
Invariavelmente sangram
Expelem ressentimentos

Cortam, furam, moem
Pregados pelos membros
Vertiginosamente escorrem
Angústia, aborrecimento

Sobem, descem, reviram
Que firam se necessário
Que foda-se a própria pele
Revire-se ao contrário

Corro, esbarro, xingo
Domingo eu  vou no clássico
Eu morro mas não distinguo
A graça do efeito cláquico

domingo, 1 de março de 2015

GRÉCIA / A solucao é à esquerda!!!


publicado no blog da RPR

                                http://resistenciapolularrevolucionaria.blogspot.com.br/                                                                                                            
                                                                                                Por Mário Medina

O Syriza tem a faca e o queijo na mao. Tem o governo e o apoio da populacao. Se fosse uma alternativa realmente progressista, como se dizia antes de chegar ao poder, teria rompido com a UE e se aliado ao bloco eurásico, aos Brics, e aos países nao alinhados. Ou o Syriza rompe com a troika e banca um governo democrático-popular, ou afina diante do Euro pra salvar o capitalismo grego da bancarrota.
Quem me conhece, sabe que sou mais afeito a solucoes revolucionárias e radicais. E, como tenho dito, reformar o capitalismo é tarefa ingrata. Além do mais, foi pra renunciar a austeridade e ao privatismo que esse governo foi eleito. Nos primeiros dias de governo a populacao grega foi a rua pra defender seu país do arbítrio do imperialismo alemao; vimos Tsipras endurecer ao negar sancionar a Rússia e algumas medidas populares inauditas foram anunciadas.
Teve gente que me achou animado demais com a frente popular grega. Mas, como disse, é impressionante ver um governo reformista bancar reformas reais. Governos ``bolivarianos``, por exemplo, pra citar algo da nossa realidade latino-americana, que se afirmam insurgentes contra o imperialismo ianque, estao muito aquém do necessário pra romper com o Tio Sam e o status quo. É só ver por quanto eles sao capazes de vender o barril de petróleo aos EUA, ou como tratam sua classe trabalhadora.
De repente surge um governo de esquerda na Grécia, que resolve se indispor contra a ordem estabelecida, garantindo medidas populares significativas, etc. Evidente que o defenderíamos do imperialismo, dos ataques da direita. Mas em momento algum criamos falsas expectativas nesse governo. Pelo contrário, pontuamos que os trabalhadores gregos deveriam batalhar para que o Syriza efetivasse as promessas de campanha e nao retrocedesse diante das investidas do eurogrupo.
Nesse sentido, endossamos o que havíamos dito: o protagonismo político grego tem de ser tomado nas ruas e nos sindicatos, pela esquerda revolucionária, pressionando o Syriza a jogar um papel progressivo, respeitando a experiencia das massas com a frente popular, pavimentando o caminho da revolucao social naquele país.