quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Bolsonaro com os dias contados



Tá ficando difícil pra turma do Bozo. É muita contradição em jogo, muita coisa estapafúrdia no governo, uma crise econômica que eles não estão tendo como remediar...enfim...Tem a popularidade em queda, a mídia caindo de pau...Completo descrédito desses caras... Vai ficando insustentável.

Tem o distracionismo. É um elemento a se considerar se quisermos fazer uma ponderação razoável e uma análise detida. É o que já vínhamos apontando: as falas desvairadas dos ministros e dos filhos da família Bolsonaro que acabam por repercutir mais do que o próprio pacote de ajustes e privatizações desse governo dos ricaços. Claro que isso deve ser levado em conta. Não sabemos ao certo se é uma política deliberada, proposital. A priori, parece ser pura estupidez de um grupo imbuído de ideologia de ódio.

Mas é um perfil muito extremado, muito problemático. Um governo de crise permanente, de ataques a direitos básicos, civilizatórios. Tende a ser descartado. Não dura. Perde a serventia. E a classe política tradicional sabe bem disso e se movimenta pra ocupar esse vácuo.

O Bolsonaro foi uma medida de emergência das classes dirigentes dessa sociedade imersa em crises. O Bolsonaro não é o perfil político ideal das elites. Pode ser um Dória, um Huck... Não é o Bolsonaro. E isso apontamos a despeito da constatação de ser Jair Bolsonaro o presidente que agora coloca em curso a destruição das conquistas sociais da constituição de 88, dos direitos trabalhistas, etc, pavimentando o caminho da superexploração do nosso povo em favor da burguesia e do grande capital internacional.

Mas não se sustenta. É muito histriônico. Vai ser substituído por isso. Apesar de já haver aglutinado em torno de si uma base social que não deve ser ignorada. Contudo não é uma base suficiente pra mantê -lo na presidência.

Em determinado momento a própria burguesia pode colocar gente na rua pra derrubar o cara. Pode acontecer. Não é o caso agora.

Mas é perfeitamente possível que aconteça, à medida que Bolsonaro começa a atrapalhar o andamento comum da política de espoliação que as elites tem em mente. Pelo andar da carruagem, pode não terminar o mandato. Ele não tem habilidade política. Tá muito queimado. Ontem na cpi da fake news foi fritado.

Se o Bolsonaro ficasse na dele, caso se resignasse ao papel de um presidente normal, tipo Temer, com tranquilidade, sem arroubos, só passando a política econômica dos donos do poder...Mas não; Bolsonaro é um débil mental, um cachorro louco, um militante de extrema direita. Nisso reside a fraqueza e a vulnerabilidade de Bolsonaro.




terça-feira, 22 de outubro de 2019

Coringa / Clownesco impactante!



Alerta de spoiler *


Fui ver o Coringa. Muito bom. Gostei bastante. O filme de Todd Philips foi muito feliz em captar o espírito do nosso tempo. Retrata com excelência a atual conjuntura social e política, a cultura das grandes cidades, sua realidade neurótica, caótica e desumana.

Quem foi ao cinema desavisado, esperando ver um inocente filme sobre vilões de quadrinhos, deve ter saído perturbado. Eu, que fui ciente de que o filme seria carregado de drama e crises existenciais, saí de lá de certa forma surpreso pelo peso psicológico da obra. Não é um filme comum. Foge definitivamente às características do padrão blockbuster e adere ao hiper realismo.

Quem é Coringa?

O personagem Coringa é um palhaço ruim, que não tem graça, sujeito desdentado e fudido, com sérios problemas mentais, com um problema de riso compulsivo que sempre o coloca em situações embaraçosas; um sujeito que se vê desassistido pelo serviço público de saúde, que nega seu tratamento alegando cortes no orçamento.

Perde o emprego após sofrer uma horrorosa surra de meninos de rua. Em seguida descobre ser filho adotado e que sua mãe é louca; além de ser humilhado publicamente pelo humorista que mais admira. Uma desgraça completa a vida do personagem. Decide então ir à forra. Munido de um tresoitão adota um perfil extremamente violento e vingativo.

O retrato do nosso mundo

O contexto social de Gothan City é uma imagem praticamente fiel da última década, um sombrio retrato da crise neoliberal que engendra violência e caos social, crises subjetivas e descontentamento em massa.

O filme sugere ondas de rebelião popular que podemos muito bem comparar ao que se vê agora no Equador e no Chile, por exemplo, de massivas manifestações contra o sistema, de revolta contra os ricos e de resistência popular perante a barbárie cotidiana.

Coringa, apesar de despolitizado e alheio às mobilizações sociais que o cercam, serve de estopim para a fúria da massa, que se rebela e cobra sangue.

A massa sempre quer sangue. Na sala de cinema o público se regozija com a colérica e selvagem rebeldia. É o momento da catarse, de simbologia da revanche popular, do desagravo da plebe enfurecida.

Semana retrasada eu falava aqui sobre Bacurau, o nosso Tarantino do sertão, história de resistência e de muito sangue. Curiosamente tem sido, junto a Coringa, o filme mais comentado recentemente. Parece que a tendência é mesmo essa. As ruas da América Latina dão o tom da revolta e do espírito de enfrentamento.

Outra coisa que me chamou atenção no filme foi o caráter clownesco. Foi na verdade uma grata surpresa. Não havia visto nenhum comentário nesse sentido. O clown de Todd Philips, interpretado magnificamente por Joaquin Phoenix, dá um toque de sutileza e de poesia ao enredo. O personagem Coringa traz traços bem definidos de arte clown, mais especificamente de clown Augusto, vagabundo, marginal. É o elemento anti social, desviante, bizarro, que não se adequa socialmente, elemento subversivo, anárquico, dionisíaco, disruptivo.

Esse filme é revolucionário, de forte crítica social. Vale a pena conferir.




quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Pastiche de um lado, crise de direção de outro

É até um contrassenso o Bozo ter estabilidade no cargo de presidente com tudo isso que tem acontecido em seu governo e em seu partido. Tem muita contradição, tem impopularidade, tem tudo. Mas a elite parece se dar por satisfeita em apenas desgastá-lo com vistas a tirá-lo de lá em 2022.

Política é um negócio muito maluco mesmo. Vejam como fica difícil de estabelecer um prognóstico de médio prazo, o que dirá de longo prazo!
O mais provável, que a gente apontava desde o início, era que ele fosse colocado de lado em tempo recorde. Depois da reforma previdenciária talvez. Não teria mais funcionalidade ao sistema. E de fato pode ser que isso aconteça. As condições estão dadas. Mas fica mais ou menos nítido que o Bozo, a despeito de todas as suas inapetências, também não depõe contra o rumo geral do desmonte, o que faz com que o imperialismo deixe ele lá fazendo suas bizarrices.

É uma política de circo. Ele acabou com o tédio na política. Ele trouxe paixão, discórdia, intrigas, dramas, rompantes, etc. Populismo barato, lógico, mas que pela relevância dos cargos em jogo coloca um país inteiro em estado de expectativa, em estado de leitores de novela chinfrim. Estamos reféns de um circo. Reféns de um pastiche. São intrigas palacianas que dão pra gente se entreter. Enquanto que no congresso e no ministério da economia o rolo compressor da austeridade vai garantindo os recursos da banca ao passo que elimina direitos sociais e trabalhistas.

Só uma forte mobilização popular colocaria em xeque tudo isso. Enquanto tem estabilidade na produção, ordem nas ruas, a situação vai sendo empurrada com a barriga pelos donos do poder.

Nosso maior problema é a crise de direção. Com uma esquerda dessas, que só pensa em eleição, que fica protelando pra daqui a 3 anos uma possível alternativa (que nada e ninguém pode assegurar que vai dar certo), não existe possibilidade de quebrar o ciclo e reverter a situação. É uma esquerda neoliberal. Quando estavam no governo se comprometeram com essa política. Agora na oposição agem como a oposição de direita também age. Tentam comer pelas bordas esperando seu verdadeiro momento de ação, que é a eleição. Mobilização popular pra que, né? Só tomam lugar nas mobilizações populares quando a coisa desanda muito. Aí eles saem dos gabinetes, fazem média, fazem discursos, fazem tratativas pra reestabelecer a ordem, colocam panos quentes, se dizem paladinos da democracia, etc, etc. Porque são políticos profissionais, porque não pensam a política para além da institucionalidade.

E, como o Equador mostra agora, pra reverter certos processos de golpe e política anti-popular, a massa tem que sair às ruas e partir pra ação direta.

Vocês conseguem imaginar um desses deputados organizando uma insurreição popular?  Eu só consigo imaginá-los naquilo que é de hábito deles: campanha eleitoral ou debates no parlamento. Assim como a burocracia sindical, que não quer saber de abandonar a zona de conforto.
Só essa inação toda em combinação é que explica o Brasil continuar com uma presidência dessas.


terça-feira, 8 de outubro de 2019

Bacurau / Tarantino no sertão!



Ontem fui ver Bacurau. Eu sei, tô um pouco atrasado em relação à polêmica. Mas fui ver e tô aqui pra falar pra vocês das impressões que tive. Aliás, dessa vez até que não demorei muito pra assistir e escrever alguma coisa sobre...rs.  Mas, enfim, vamos ao aclamado filme.

Às vezes um filme é só um filme...

Parafraseando a célebre frase do Freud, aquela em que ele diz que "às vezes um charuto é só um charuto...rs. Nas últimas semanas, muito se falou sobre o filme de Kleber Mendonça e Juliano Dorneles. Amigos meus de facebook, conhecidos, enfim, todo mundo tecendo comentários, e, como é do costume da classe média mais ilustrada, buscando compreender supostas mensagens cifradas.

Abundaram interpretações e especulações. Abusaram da semiótica? Talvez. Houve quem nem se desse muito ao trabalho de encontrar um significado, e que tão somente se ativesse a criticar os cineastas pela forma que se valeram para a transmissão de sua mensagem política, dizendo que os mesmos incorreram em grosseira paródia e que ofereceram ao público a catarse que este desejava.

Ok, a crítica pela crítica já fomenta um debate interessante. Eu fiz faculdade de filosofia. Que me perdoem os práticos; é hábito nosso dissecar fatos, traduzi-los em idéias, elaborar e abstrair um pouco, buscar os sentidos, as significações, etc.


Mas, como eu dizia, às vezes um filme é só um filme. Não é exatamente esse o caso de Bacurau. Evidente que a obra traz uma metáfora, uma crítica, uma visão política. Mas isso não é nada extraordinário. Digo isso porque tenho acompanhado o trabalho de Kleber Mendonça ao longo dos últimos anos.

Agora tá todo mundo falando do cara por conta do engajamento político que assumiu em Cannes, não de agora, mas desde o filme anterior  (Aquarius), em que equipe e atores pediram, se não me falhe a memória, Fora Temer e Lula Livre. Não me lembro bem; alguma coisa assim.

Mas, insisto, Bacurau faz parte de uma biografia, de um estilo, uma filosofia, um modo de fazer cinema que não é de hoje. Quem viu os filmes anteriores do Kleber Mendonça, sabe que a praia do cara é essa mesma. O Juliano Dorneles eu não conheço, confesso. Mas o Mendonça não é um cineasta popularesco. O cinema do cara é do circuito alternativo, gênero cult, com críticas sociais e políticas, com estética peculiar, com aquele som hiper captado, por exemplo, notória característica de seus trabalhos.

Se a metáfora da invasão estrangeira é uma má metáfora, a grosseira paródia de que seus detratores o acusam, aí fica mais complicado dizer.  Vale, claro, abordar o tema com calma e especular não só o conteúdo específico do longa, mas de tudo o que se tem feito no cinema nacional, se esse material tá vindo muito mastigado pro público, se a indústria cultural tá menosprezando a inteligência do espectador, se a linguagem do cinema tá pobre.

Daí a dizer que esses nichos de cinema cult estão se tornando aparelhados politicamente ou que se tornaram redutos de ideologia da classe média uspiana, etc, etc, já existe exagero.

Não acredito que seja o caso. Digo isso pela observação da continuidade do trabalho e por pensar que às vezes o pessoal pesa mesmo na crítica. Além de, obviamente, desconsiderar as críticas imponderadas do campo do bolsonarismo e da claque reacionária que sempre tacha a classe artística de ser petista e de mamar nas tetas das leis de incentivo.

Quer dizer, seja pela crítica mais política, seja pela crítica do pessoal que se arrogou o direito de desqualificar o enredo e seus desfechos, não vejo motivos suficientes para que o filme seja classificado como ruim. Não, de fato não é um filme ruim.

O que me chamou atenção foi o sangue. Sim, o sangue, a violência, a contundência. Brinquei dizendo que o filme me lembrou o Tarantino. Isso aí me surpreendeu. Parece que os caras quiseram mesmo chocar. E disso aí eu gostei. Há quem não goste. Há quem desconfie; e o exercício da desconfiança é sadio. É isso.





sábado, 24 de agosto de 2019

Quem disse que a coisa não pode piorar?



Hoje tava me lembrando de uma vez que peguei ônibus com minha mãe. Eu era criança e presenciei uma curiosa conversa dela com o cobrador. Isso aconteceu no começo dos anos 90. O homem era evangélico. Dizia pra minha mãe que na casa dele não se via tv; nem tinham aparelho. A religião não permitia.

Isso, é bom lembrar, era o começo dos anos 90. O Brasil era um pouco diferente. Tava me lembrando disso hoje e pensando. Que loucura.

Nos anos 90 a tv já era um meio de comunicação com uns 40 anos de vida. Já tinha se popularizado bastante no Brasil desde as décadas de 60 e 70. Tava um pouco tarde pra ser até então um objeto demonizado.

Acontece que esse fenômeno, o fenômeno do evangélico que não assistia tv por achar que era pecado, ou que a tv era coisa do diabo, era algo que não tinha a ver com o surgimento da tv em si, mas com a nossa realidade.

Em 2003 o PT chegou ao poder com uma política de crédito e incentivo ao consumo e todo mundo começou a comprar não só tv's (aquelas grandes, verdadeiros trambolhos em questão de tamanho e peso) mas máquinas de lavar, geladeiras, tudo o que era item doméstico. Casa mesmo as pessoas nem sempre tinham, mas isso é tema pra outros artigos.

Como eu dizia, não só a tv se popularizou, como o consumo em geral, as pessoas começaram a viajar de avião ao invés de passar vários dias dentro de um ônibus pra cruzar o país, além de começarem a cursar ensino superior. O país mudou um pouco pra melhor. Depois eu nunca mais tomei conhecimento de famílias evangélicas a se abster de ver televisão.

Nos últimos anos, com destaque para os últimos meses, o regresso material e cultural foi tão grande, que me ocorreu que é até capaz que esse fenômeno volte. Um fenômeno extremamente atrasado, uma coisa de mentalidade medieval. Mas o brasileiro tá tão exposto e influenciado por discursos sem razão que nada mais nos surpreenderia, não é mesmo?
No começo dos anos 90 o Brasil era mais industrializado. Vejam só.



                   

domingo, 18 de agosto de 2019

Snowden / Uma história dos nossos tempos



Ontem assisti Snowden: herói ou traidor, do Oliver Stone. Filme bom. Quem ainda não viu, deve ver. O filme é uma versão dramatizada da história do Edward Snowden, ex agente da CIA.

É uma versão hollywoodiana, com atores de ponta e todos aqueles traquejos dos filmes de suspense. Não faz muito meu tipo, mas realmente casa com a história do cara. A vida de Snowden é perfeita para Hollywood. Um roteiro e tanto.

E de algum modo é bom mesmo que tenha se tornado um blockbuster, pra popularizar esse fato tão extraordinário da história recente. Os chavões do gênero suspense passam quase imperceptíveis à trama do hacker americano.

O filme é de 2016. Fui assistir só agora. Reconheço que tô bem atrasado. Mas acho pertinente frisar a importância do filme.

A história de Snowden é a história de um dilema ético. O rapaz tentou ser militar, mas tinha físico frágil. Se lesionou e foi cortado das forças armadas. Era um tipo nerd, branquelo, magro, de óculos. Jovem conservador (isso vem a mudar no relacionamento com a mulher, que simpatiza com os democratas), autodidata, gênio da computação, ingressa no serviço de inteligência americano e passa a ser recrutado para tarefas de relevante importância na geoestratégia mundial.

Mas com o tempo começa a perceber que o governo americano não está tão interessado em debelar o terrorismo (crença que tinha quando jovem e que também lhe fora incutida por doutrinação na CIA), mas em tirar vantagens econômicas através de espionagem internacional e crimes de guerra.

O terrorismo é só um pretexto. Os Estados Unidos sempre se utilizaram desse expediente. A pretexto de cuidar da segurança nacional, os EUA cometem as maiores barbaridades e invadem a privacidade inclusive de pessoas comuns da população, e isso ao redor do mundo.

Snowden, ao perceber que ninguém tem privacidade no mundo, que qualquer um pode ser observado e vigiado através dos celulares e computadores, começa a ficar paranóico, e entra em crise.

Em determinado momento decide vazar provas dos crimes da CIA e se refugiar. Conseguiu asilo na Rússia de Putin. Se for pego pelos EUA, pode ser condenado e nunca mais sair da cadeia, que é o que pretendem fazer com o também hacker Assange.

O imperialismo é foda. Os caras não brincam em serviço. Snowden foi muito corajoso de se insurgir e dizer ao mundo as coisas que acontecem nas dependências do serviço secreto americano. Não é novidade, verdade, mas é sempre bom lembrar e colocar em evidência.

Parece teoria da conspiração, mas todos estamos sendo vigiados e monitorados. Cuidado com os nudes! E não façam sexo perto de eletrônicos...rs... Algum voyer da CIA pode estar usufruindo da sua intimidade. Surreal, mas acontece.



                   

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Democracia em Vertigem ( O fim do sonho petista )



Assisti só agora ao Democracia em Vertigem. Não tenho Netflix em casa. Tava todo mundo falando sobre o documentário. Arranjei uma cópia em dvd com um amigo, pra sanar a curiosidade e dar esse veredito.

Pois bem, tá aqui minha opinião. Não é um filme ruim. Pelo contrário, é um bom filme, bem montado, bem dirigido. Eu gosto da Petra Costa, do estilo, da estética. Assisti e me comovi muito com o filme Elena, documentário também, no qual ela conta a história da irmã que se suicidou após um processo depressivo. Filme excelente, de ótima fotografia; um filme com muito lirismo, muita delicadeza.

No Democracia em Vertigem fica difícil manter o padrão. Resta mais a voz arrastada da diretora. Uma vozinha gostosa,  que dá até sono.
O tema de agora também é duro, pungente, sofrido, mas muito mais controverso. Em Democracia em Vertigem ela aborda a história que tem mexido com os nervos de um gigantesco país. A história de um golpe, história recheada de injustiças, mas que nos coloca diante de reflexões acerca da história recente e que nos deve impelir a repensar rumos políticos.

É difícil assistir sem se indignar. A história do Brasil é realmente uma história de sucessivas desgraças.
E o filme de Petra Costa, verdade seja dita, é um filme que coloca o petista pra chorar. Filme de petista feito para petistas. Conta a história da própria Petra, de seus pais, militantes desde a época da ditadura, entusiastas declarados do Partido dos Trabalhadores e do ex presidente Lula. Com falas de sua mãe ao longo do documentário, com imagens de Lula e Dilma em situações de bastidores, na intimidade e em contato com populares. Um material que condiciona a simpatia do telespectador aos ex-presidentes. E não é que haja algo de errado nisso. É um viés legítimo de narrativa.

De forma autocrítica, porém, é bom frisar, o filme vai reconstituindo o cenário político dos governos do PT, das alianças entabuladas com as oligarquias e a direita, contando a fatídica história do golpe que derrubou Dilma e levou Lula à cadeia.

A parte que mais me revoltou foi a parte, perto do final, em que Lula é cercado pela multidão de militantes no sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, onde Lula se hospedou antes de se entregar à prisão. A massa, indignada, se recusa a deixar Lula se entregar. A multidão do lado de fora empurra violentamente o portão para que o carro com o presidente não saia do local. Lula é obrigado a voltar para dentro. Todas as saídas do sindicato estão obstruídas pela militância. Lula é obrigado a sair escondido. Uma vergonha!

Poucos minutos antes no filme, algumas horas antes na história, Lula, do alto do carro de som, anuncia à multidão que se entregaria, dizendo que confiava na justiça brasileira. Os militantes choram, se desesperam. O povo tem um verdadeiro afeto por Lula; o povo se enfurece com a flagrante perseguição, se desconsola com a iminente prisão. O povo quer resistir, deseja o enfrentamento com os poderes do estado, mas Lula, resignado, professa sua fé na institucionalidade burguesa e se  encaminha para a injusta detenção.


O que falar disso? Repito o que tenho falado desde então: Luís Inácio não está à altura da figura histórica que se tornou. É um politico extremamente habilidoso, encantador de serpentes, de carisma inigualável, mas nunca teve peito de romper com o status quo, de propor uma autêntica ruptura em favor da classe trabalhadora.

O caminho da conciliação parece mais sensato a um primeiro julgamento, mas é um caminho fadado ao fiasco.
O Lula, se quisesse figurar como relevante figura histórica dos trabalhadores, deveria estar entre aquelas lideranças que não se sujeitaram ao acordo com os donos do poder. Simples assim. Há acordos que não devem sequer ser cogitados, quanto mais selados. A história não perdoa a pusilanimidade. O destino é cruel com os que dão as mãos aos inescrupulosos.

sábado, 22 de junho de 2019

A liberdade de Lula / Uma epopéia tupiniquim

Tá difícil pra elite admitir a soltura do Lula. Por mais que as contradições estejam vindo à tona. Mas, notem, as entrevistas do homem estão ganhando repercussão. Tem a repercussão internacional de tudo isso. E, como tem ficado evidente, as frações burguesas estão se degladiando.

Acredito que a tendência seja o Lula conseguir progressão de regime. A duras penas. Vai ser um parto isso aí.
Mas a liberdade do Lula vai estar em consonância com o derretimento da economia e a necessidade da burguesia de mudar esse cenário. Acredito que elementos do campo progressista sejam em médio prazo convocados a compor um governo de reestruturação nacional, pra tentar civilizar esse cenário de tamanha desagregação.

Por isso mesmo eu não me aferraria tanto à idéia de que o PT é carta fora do baralho. A crise econômica e política é muito terrível. São anos de estagnação, após anos de recessão, muito desemprego e miséria. Apesar de toda cantilena da imprensa burguesa, amplos setores da população tem saudades dos tempos de PT, tanto que Haddad obteve 40% dos votos. A sociedade brasileira tá muito polarizada, mesmo nos escalões de dominação econômica.

A gente não pode ser inflexível na análise. Existe uma tendência mundial de políticas de ajuste fiscal e austeridade, mas se a crise social bater na bunda, as elites se vêem obrigadas a abrir concessões e a eventualmente escalar algum elemento outrora descartado. Pode não ser o Lula. Mas pode ser um indicado, um aliado.

As elites não estão em muitas condições de prescindir da capacidade de articulação política do Lula. E a gente sabe que o Lula é um pelegão. Ele vai se prestar ao papel. Infelizmente a verdade é essa. Não dá pra ficar esperando a lendária guinada à esquerda da cúpula do PT. Que nos perdoem a sinceridade os camaradas petistas. O PT tem ainda uma boa base social, de gente valorosa e combativa.

Não dá pra fazer tábula rasa. O petismo é um fenômeno mais complexo do que desejaria imaginar a turba de analistas vulgares da história.


quarta-feira, 12 de junho de 2019

VazaJato, Moro e golpismo / Algumas considerações sobre a crise política e um prognóstico para o próximo período

1- Um serviçal queimado não interessa aos EUA. Esse é o ponto. Tem que ver até quando o Moro se aguenta no cargo. Cada vazamento desses é uma balançada na cadeira de ministro dele.
Moro e a Lava Jato são peões diretamente controlados pelo departamento de estado americano. São agentes treinados para executar essa política. Desde há anos. Mas não há como serem blindados diante das verdades que vem à tona. Serão descartados por força das circunstâncias.

2- O Bolsonaro foi improvisado de última hora para assumir a presidência. Isso tem a ver com o esgotamento do PSDB. O PSDB sim é que sempre foi a primeira alternativa do imperialismo americano para terras tupiniquins. A extrema direita, nessa modalidade representada pelo bolsonarismo, por uma série de fatores, sobretudo pelo peso da crise econômica e pela tendência mundial, assumiu esse vácuo. A tendência é que Bolsonaro seja um dos primeiros a cair. A base social de Bolsonaro não parece suficiente para resistir à evolução dos acontecimentos.

3- Minha tese é a de que os mais garantidos à frente do golpismo são os militares e os Chicago boys.
Os militares tem a instituição como baluarte. Muito difícil mexer neles. Mas o imperialismo já conta com um oficialato neoliberal e reacionário. Não existem esquerdistas entre os generais de quatro estrelas.
E os Chicago boys também são revogáveis pelo imperialismo. Mas outros Chicago boys assumirão o posto. Nenhum economista com ares de keynesianismo está cotado para as altas instâncias da fazenda ou do banco central. Não por ora. Talvez daqui a alguns anos, depois da economia estar completamente quebrada e o patrimônio público entregue aos abutres.

4- Lava Jato, evangélicos e lunáticos do olavismo também estão sujeitos a dar passagem. São todos elementos muito descartáveis. Damares e Olavos são por demais caricatos; são fracos e sem solidez alguma.

5- Pelas próprias circunstâncias atuais, com um generalão na vice presidência, o impeachment é sim muito provável e previsível.
Mas o Mourão vai assumir dentro do formalismo democrático. Um golpe militar aberto seria uma política de ponta de lança e de alto risco, por atrair convulsões políticas. Não é algo descartado. Poderia acontecer. Não me lembro quem por esses dias falava de uma contra-revolução de prevenção. Mas parece não ser o caso. Pelo menos não por enquanto. A tendência é Mourão ser alçado à presidência na tentativa de estancar a sangria. Isso pode levar meses; talvez mais de um ano ou dois. Mas Bolsonaro não tem condições de chegar ao fim do mandato.

6- A questão mais importante aqui é saber em quais condições Mourão deverá assumir a presidência. Se as massas tomarem as ruas no próximo período, e se a classe trabalhadora tiver um papel decisivo na queda de Bolsonaro, Mourão assume acuado.
Se a queda de Bolsonaro for restrita a uma movimentação parlamentar, sem atuação significativa das massas, Mourão assume com ímpeto para seguir na aplicação do pacote de maldades que já está em curso.



sexta-feira, 3 de maio de 2019

Capitães da Areia

Breve resenha do romance de Jorge Amado



Semana passada li Capitães da Areia, do Jorge Amado. Livro ótimo. Me deixou impressionado. Já tinha visto o filme uns anos atrás. Desde então procurava oportunidade de ler o livro.

Mês passado me deparei com uma edição numa feira de troca de livros. Não li logo de cara porque tinha outra leitura naquele momento. Mas depois que comecei a ler fiquei encantado. É realmente um livro extraordinário. Já tinha lido alguns livros do Jorge Amado. Um deles em especial me chamou muito a atenção: Suor. Recomendo.

A escrita de Jorge Amado é simples e sedutora, envolve o leitor. Fica quase impossível não devorar o livro. É daquelas obras que não dá vontade de parar de ler. Capitães da Areia, em especial, além da fascinante trama, é um livro deveras comovente. Jorge Amado retrata a vida de um grupo de crianças de rua, crianças órfãs e abandonadas que vivem do crime e que se escondem numa casa abandonada em frente à praia, o trapiche. Por isso o nome de capitães da Areia. Esse grupo de fato existia em Salvador. Jorge Amado chegou a dormir lá com eles antes de escrever o livro.

Essa última informação vem ao final da edição que tive acesso, da Companhia das Letras, numa citação da também escritora Zélia Gatay, esposa de Jorge. E o cara captou com singular empatia a condição das crianças de rua.

O livro causou celeuma à época de sua publicação. Chegou a ser queimado em praça pública na Bahia. Jorge Amado o lançou no ano de 1937. Era, então, um jovem de 24 pra 25 anos.

É um romance de denúncia, de contundente crítica social. Não teria como passar incólume. E outra, no livro Jorge Amado também faz apologia ao comunismo. Pois é, Jorge Amado era comunista, chegou a ser deputado federal e dirigente político do PCB, que naquela época era um partido influente na vida política brasileira. Jorge Amado chegou a ser exilado em algumas circunstâncias, mas sempre foi um escritor popular, um best seller, adaptado para o cinema e para novelas de tv.

Capitães da Areia, como eu dizia, é uma pérola da literatura brasileira. Jorge Amado com muito talento vai ao âmago de um problema social grave e controverso e extrai disso uma gama de personagens maravilhosos e cativantes.

Não existe um personagem principal. O personagem principal é o grupo das crianças. O escritor conta a história e traça o perfil psicológico de umas oito crianças. Cada uma traz sua peculiaridade.

Pedro Bala, o líder do bando, é valente, destemido, filho de um líder operário que morreu com tiro da polícia em uma greve de estivadores. Pedro Bala traz as características do pai, a principal, a sede de justiça social, a preocupação com a comunidade. Tem o Pirulito, um menino religioso, que quer ser padre, muito devoto, e que passa horas em vigília rezando nas madrugadas do trapiche. Tem o Professor, o único letrado do grupo, um menino míope fissurado em ler, que passa as noites em meio aos livros, com uma vela ao lado. Tem o Sem Pernas, um menino aleijado, muito malandro, que tem facilidade de encantar as pessoas e se aproveitar delas depois. Tem o Gato, um malandrinho elegante, que gosta de andar bem vestido e que namora com a prostituta Dalva. Tem a Dora, a única menina do grupo, que perdeu os pais numa epidemia de varíola, uma menina muito carinhosa, que acaba se tornando a mãe do grupo. Tem um que é fã de Lampião e que sonha em ser cangaceiro.

Enfim, são personagens realmente muito interessantes, com histórias incríveis, muito tristes porém, que despertam compaixão e carinho aos leitores. Tudo isso em meio à rapsódias de traquinagens e pequenos delitos, fugas da polícia, dos internatos, etc.

Algumas histórias são muito tristes e comoventes, de partir o coração, de arrancar lágrimas ao leitor. São crianças, claro, despertam naturalmente a consternação, mexem com a nossa sensibilidade.  É um livro que me comoveu muito. Que me arrependo de não ter lido antes. Recomendo muito mesmo.

sexta-feira, 29 de março de 2019

Manifesto da FIARI / Por uma arte revolucionária e independente



O manifesto da FIARI, a Frente Internacional por uma Arte Revolucionária e Independente, foi um dos manifestos mais importantes do século XX. Leon Trotsky e André Breton, tiveram em 1938, na Cidade do México, um encontro histórico do qual resultou, após muitos debates entre eles e outros agentes culturais, este documento, cuja versão final foi elaborada por Breton e Diego Rivera, com a aquiescência de Trotsky.

Breton, que teve passagem pelo Partido Comunista Francês, do qual chegou a ser expulso, se aproximou do trotskismo a partir de críticas à frente popular na França e de críticas à política da Internacional Comunista, controlada pelo stalinismo, que levou à derrota de várias revoluções em diferentes lugares do mundo, como Espanha e China, por exemplo.

Breton vai ao México visitar Trotsky em 1938 e dessa visita surge o documento em questão. O gênero do manifesto era muito comum entre as vanguardas artísticas do início do século XX. Serviam como espécie de panfleto, para disseminar as ideias de uma determinada escola. O manifesto da FIARI trazia os princípios revolucionários com relação à arte e à cultura.

É importante ter em mente que a burocracia soviética, de posse do Estado russo e do aparelho da Internacional Comunista, mantinha o controle dos artistas, transformando-os em lacaios do regime, suprimindo liberdade e personalidade artísticas. O manifesto da FIARI tem por fundamento defender a mais absoluta liberdade dos artistas. O capitalismo em declínio já não é capaz de assegurar ao artista a liberdade necessária à criação. Isso está dado.

Não há como se vislumbrar uma arte independente dentro de condições de um mercado monopolizado. Mais tarde outros autores, com destaque para o filósofo Adorno, trataram da questão da indústria cultural. Cinema, teatro, música, enfim, todos os ramos da arte se tornam objetos de mercadoria no capitalismo. E é a indústria e o mercado que definem a demanda de artes. Isso faz do artista um reprodutor, ao invés de incentivar o gênio criativo.

Já o Estado operário russo, que em seu início liberou a cultura e as apresentações artísticas aos trabalhadores, com a ascensão stalinista, as artes passaram a ser hegemonizadas pela burocracia, que ditava a criação dos artistas. Um aviltamento. Havia controle ideológico e político dos conteúdos tratados pela arte. O que reproduzia a mesma dinâmica de imposição de fora e alheia às artes.

O manifesto da FIARI, em consonância com o espírito do Programa de Transição da Quarta Internacional, que surgiu no mesmo ano, apontava para a necessidade de uma transição de regime político e de cultura. Tanto a arte é revolucionária por si mesma, como mais revolucionária será se estiver livre de quaisquer restrições ou manipulações.

Nada e ninguém deve restringir o espírito artístico, pelo bem da revolução e da humanidade. A luta por uma arte livre é essencialmente revolucionária. Como a burocracia soviética não era revolucionária, mas pelo contrário, contrarrevolucionária, mantinha a arte presa com grilhões.

A arte só será realmente independente com a vitória da revolução. Esse é o ponto central do manifesto. A contracultura, por exemplo, por mais progressista que seja, não será a solução para a arte, pois ainda não rompe com a materialidade capitalista. No limite, fica sob o domínio das modalidades clássicas e convencionais de arte, quando não é cooptada, que é o que geralmente acontece.

O poder do capital se espraia pela sociedade e o capitalismo se apodera dos espaços intelectuais e de espetáculos, controlando o espírito criativo, adormecendo o ímpeto revolucionário, sobretudo das juventudes, trazendo as manifestações artísticas para dentro de uma esfera de dominação da cultura do status quo. Isso, por exemplo, é muito comum no cinema. A indústria é poderosíssima e o poder financeiro por detrás incute ideologias em grande escala.

O mesmo acontece com as novelas, gênero popular no Brasil que faz as cabeças da massa. O caráter ideológico é marcante nessa modalidade de produto “cultural”. Nos programas de TV, de rádio, na música, os elementos progressivos são assimilados de modo a livrá-los do que tem de revolucionário, no sentido de domá-los dentro do que é tido como aceitável para o sistema.

É necessário, mais do que nunca, que os revolucionários se envolvam na luta por uma arte revolucionária e emancipada. Já o fazem ao passo em que lutam pela revolução. Como dissemos acima, arte e revolução dialogam entre si e dependem mutuamente do sucesso uma da outra.

No Brasil de hoje, e na América Latina, se faz necessário a independência do imperialismo e dos estrangeirismos. Não que a cultura pop não possa ser assimilada, mas que o seja de forma crítica, e sem que anule ou esmaeça o que temos de mais característico, nossa rica cultura popular, de resistência, de protesto.

Vários coletivos de arte surgem de norte a sul no nosso continente e no mundo. E nós somos entusiastas dessas iniciativas. É preciso se agrupar por fora das margens do sistema e fazer veicular insubmissa nossa arte e nossa criatividade, nossa cultura, contracultura. Por mais que os tempos sejam difíceis, devemos fazer com nossa militância, com nossa criatividade, uma arte que seja capaz de pensar o mundo de modo crítico, e de engendrar uma vaga revolucionária nas artes e nas ruas.

Para dialeticamente conspirar contra a atual ordem das coisas, criar hegemonia, contribuir com a movimentação revolucionária das classes populares. Ao passo que as sublevações populares e as revoluções criarão um mundo novo em que será possível a criação artística livre de quaisquer amarras, sem constrangimento externo de qualquer natureza.

Saudamos de especial maneira os artistas engajados, que fazem de suas artes verdadeiras metralhadoras antissistemas. Aos camaradas dos movimentos sociais, poetas, músicos, romancistas, cineastas das periferias, que fazem das tripas coração para publicar seus materiais, na maioria das vezes sem ganhar nada, mas tirando recursos dos próprios bolsos para fazer ver sua arte veiculada.

Levantamos a necessidade de criar amplos espaços de divulgação e congraçamento dos artistas revolucionários, como a criação de festivais e congressos, espaços que nos sirvam para compartilhar e dar vazão não só aos trabalhos uns dos outros, mas à novas estéticas, novas vanguardas, para vermos fluir o que muitas vezes a indústria e o monopólio estancam enquanto possibilidade artística.

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Cidadão Boilesen / Documentário

Resenha feita para o site do jornal Gazeta Revolucionária


Cidadão Boilesen é um documentário muito bem feito. Muito mesmo. Lançado em 2009, é certamente um dos melhores documentários brasileiros. Dinâmico, envolvente, com um timing muito feliz, a produção de Chaim Litewski conta a história de Hening Boilesen, dinamarquês radicado no Brasil, executivo, presidente do grupo empresarial Ultra, da Ultragaz.

Resultado de imagem para Cidadão BoilesenBoilesen era um dos figurões responsáveis pela Operação Bandeirantes ( Oban ), órgão surgido dos esquadrões da morte, grupos de militares que executavam marginais. A Oban era um grupo de empresários que se cotizavam para financiar a repressão aos movimentos políticos contrários à ditadura. Se ligaram aos militares e formaram um grupo integrado por policiais militares e civis, de forma clandestina, para defender os interesses das empresas.

Boilesen tinha destaque nesse grupo de empresários. Era um anti-comunista ferrenho. Além de angariar fundos com os ricaços, fazia questão de assistir às sessões de tortura e de participar inclusive. Trouxe dos Estados Unidos uma máquina de eletrochoques para que fosse usada nas torturas, que ficou conhecida como pianola de Boilesen. A máquina tinha um teclado em que havia várias gradações de descarga elétrica.

Reconhecido por guerrilheiros, foi sentenciado à morte. No dia 15 de Abril de 1971, na Alameda Casa Branca, em São Paulo, sofreu emboscada de guerrilheiros do Movimento Revolucionário Tiradentes ( MRT ) e da Aliança Libertadora Nacional  ( ALN ) e foi executado a tiros. Sobre seu corpo foram deixados panfletos que diziam o motivo do justiçamento.

O filme de Litewski teve o mérito de reconstruir em detalhes a história de Boilesen, desde o nascimento e a infância na Dinamarca, as controversas características da personalidade, boletins de colégio, a adolescência, o gosto por esportes ( foi boxeador na juventude ) etc, até a chegada ao Brasil, sua simpatia pelo país, seu jeito extrovertido, afeito à festas, sua facilidade de exercer liderança e a meteórica ascensão na carreira de executivo.

Resultado de imagem para Cidadão BoilesenOutro mérito do filme de Litewski é dar voz a todos os lados. O filme não necessita ser um samba de uma nota só. O espectador é livre para chegar a uma conclusão. O diretor, além de recorrer a jornalistas e historiadores, entrevista atores dos dois lados no conflito: militares e guerrilheiros, e inclusive o próprio filho de Boilesen. No filme, por exemplo, é  relevante a participação de Ulstra, coronel, chefe do DOI - CODI à época, e do ex presidente Fernando Henrique Cardoso.

Nada disso, no entanto, é capaz e ocultar o que fica evidente ao longo do documentário: Boilesen foi um psicopata, que tinha prazer sádico em presenciar torturas. Um direitista convicto. Boilesen representa bem a classe sócio-política a qual pertencia, sua ideologia e visão de mundo. Por isso se tornar objeto do documentário. Outros elementos tiveram naquela  organização política o mesmo peso e importância de Boilesen.

Não é de bom tom, claro, comemorar a morte de ninguém, mas cumpre dizer que Boilesen não fez falta alguma. Era o tipo de homem que se comprazia com a crueldade da tortura e com o servilismo aos donos da situação. Agora, há quase 50 anos do ocorrido, a poucos  dias de completar mais um aniversário do golpe de 64, trazemos aos leitores a memória e a sugestão desse bom filme, dessa discussão que permanece atual. Para que não se repita, para que  nunca mais aconteça.

Ditadura militar nunca mais! Viva os guerreiros brasileiros que tombaram na luta contra a ditadura!

sábado, 2 de março de 2019

A luta de classes como ela é



Ano passado, no dia da suposta facada ao então candidato presidencial Bolsonaro, duas "amigas" minhas (coxinhas as duas) me chamaram no Messenger pra me dar esporro e falar que estavam desfazendo a amizade. O motivo alegado era que eu estaria sendo contraditório e desumano ao publicar umas piadas sobre o incidente.

Naquele dia meio mundo se manifestou nas redes. Meio mundo desejando que o Bozo morresse. Eu não cheguei a dizer isso. Até porque eu sou cristão demais pra essas coisas. Eu fiquei tirando um barato, dizendo que "não se fazem mais esfaqueadores como antigamente, que o mineiro Adélio teria sabido dar uma facada se paraibano fosse", esse tipo de coisa. Isso porque desde então o episódio da facada gerava controvérsias.

Teria sido realmente atentado? Ou teria sido encenação mesmo? Não sei se é teoria da conspiração demais, mas até hoje tá mal explicada essa história. E outra: Tinha a contradição flagrante de ser a vítima da suposta facada um elemento que vinha havia anos fazendo os piores discursos de ódio. Evidente que fosse esperado o feitiço virar contra o feiticeiro.

Repito, não é do meu feitio desejar a morte de ninguém. Mas vamos supor que eu tivesse desejado. Não seria nada do outro mundo. Em se tratando de um fascista, um ser repugnante, um entreguista, um vende-pátria, em síntese, um sujeito que representa o maior perigo para o país, não seria nenhum absurdo achar que talvez devesse mesmo morrer. Eu não desejo que morra.

Não é a morte desse energúmeno que vai alterar a dinâmica da luta de classes com todas as suas inquietantes contradições. Se morrer o Bozo, o Mourão assume. Troca-se seis por meia dúzia e segue o golpe.

Pois bem, mas as minhas "amigas" não quiseram mais papo comigo. Vejam só, justo a direita, que fica por aí com as velhas cantilenas do "conservador nos costumes e liberal na economia", toda essa papagaiada da ideologia dominante senso comum, cínica, hipócrita, etc.

Eu não me oponho de ter amigo bolsominion. Essas "amigas que falassem que não queriam mais papo comigo por eu ser de esquerda, comunista, por achar o candidato delas um sujeito desprezível. Mas não. O argumento era de que eu não estava sendo humano.

Agora morre o netinho do Lula, situação trágica, uma criança de sete anos. Imaginem a família, o peso existencial que envolve uma fatalidade dessas, e surgem bolsonaristas do país inteiro comemorando. Só porque o menino é neto de um ex presidente que eles não gostam. Não precisa nem entrar no mérito do ódio que eles tem ao Lula. Mas por que, meu Deus, comemorar?

A gente pode caracterizar como psicopatia, como perversão; a gente pode abominar a sordidez, a miséria espiritual, etc. Mas no fundo não é caso de uma análise moralista. Isso tudo é reflexo da luta de classes. Essa polarização doentia é luta de classes.
A esquerda é naturalmente mais humana e solidária, ao passo que a direita é mais fria e individualista, claro. E à medida que a crise econômica engendra contradições e que a conjuntura se agudiza, esses tipos de comportamento vem à tona pra mostrar todo o ódio que estava latente. É o desrecalque. O conteúdo recalcado emerge. A crise econômica e a polarização política, com uma ajudinha do fenômeno das redes sociais, parem, do verbo parir, o monstro.

O ser humano não deu certo. Haja visto o sistema social que a gente vive. A gente não pode perder a utopia da justiça social, do homem novo, não pode perder a expectativa do comunismo, de um sistema social justo. Os conservadores parecem satisfeitos com o atual estado das coisas. São os que se beneficiam materialmente da exploração, ou que pelo peso da ideologia passaram para o lado dos exploradores.

A classe trabalhadora e os pobres precisam encontrar nas lutas sociais o caminho para a emancipação. Do jeito que tá não pode ficar.

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sábado, 9 de fevereiro de 2019

Doce / Um soneto pra Rê

Poesia que escrevi há mais de 10 anos.
Fiz pequenos ajustes


Dileto corpúsculo entre vasto acervo
Preciosidade, sagrada, doce desejo
És minha alegria, anjo soberbo
A minha poesia se faz quando a vejo

Anda comigo, arranca-me do ermo
Despe-me e cobre-me só com teus beijos
Anda comigo, arranca-me do ermo
Faz-me contemplar de vez teus gracejos

Eu quero teu corpo que é todo perfeito
O gozo das horas em tua companhia
Serás, tu, bela amada, delícia em meu leito

Vem comigo, minha ninfa, trilhar nova via
A verdade é que por ti ainda pulsa-me o peito
Na esperança veemente de tê-la um dia

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segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Colocando os fascistas pra correr / Como tratar bolsominions folgados


* Versão na íntegra e sem cortes de uma matéria que fiz pro site da Gazeta Revolucionária. Os companheiros fizeram uma edição do texto. Aqui segue a versão original


A Gazeta Revolucionária esteve presente, neste sábado, no ato em solidariedade e em defesa do estado operário de Cuba. O ato se deu em frente ao consulado cubano em São Paulo. Um ato convocado por organizações da esquerda brasileira que se dispuseram a proteger o consulado de um ato convocado pelo MBL, organização direitista dita liberal mas que está a serviço da disseminação de idéias reacionárias e anti-operárias; movimento financiado por grandes empresários.

O ato dos direitosos estava convocado para às 14h. A esquerda então convocou um contra-ato para às 11h. Muitas organizações políticas, sindicatos e movimentos populares compareceram. Eram cerca de 500 manifestantes. Muitas bandeiras, faixas de apoio aos médicos cubanos, etc. Um ato repleto de jovens, mas também com idosos e crianças, parlamentares e ex-parlamentares. Um ato bonito, com clima de camaradagem, um ato muito tranquilo.

Depois de algum tempo, viaturas da polícia chegaram fazendo alarde. Os policiais com armas nas mãos em atitude de intimidação. Ficaram lá um pouco e viram que a coisa estava sossegada. Foram embora.

O ato transcorria normalmente enquanto chegavam alguns manifestantes da direita. Ficaram à parte tirando fotos. Eram meia dúzia de gatos pingados. Começaram a chegar outros e, quando estavam em cerca de dez pessoas, principiaram a provocação. Um deles batia no peito e gritava algo que não conseguíamos ouvir. Aí o tempo fechou. Foi uma chuva de pancadas pra cima deles. Dois policiais de trânsito tentaram inutilmente conter a fúria dos vermelhos. Ao nosso lado vimos um mastro de bandeira sendo quebrado na cabeça de um deles. Eles recuaram. O mais valente quis encarar e sucumbiu debaixo de um bolo de gente que o cercou. Por fim correram e foram embora.

O ato em frente ao consulado continuou com a fala das organizações presentes. Foi um ato vitorioso. De nossa parte, não escondemos nossa satisfação com o desfecho que o ato tomou. Os fascistas tiveram o tratamento correto. Foram lá para provocar e saíram devidamente escorraçados. Foi uma desmoralização pra eles. E foi do jeito que deveria ser sempre. Com o fascismo não há conversa.

O movimento operário tem toda a razão em desbaratar a ação desses desclassificados. São mercenários do grande capital e devem se ver com o peso do movimento dos trabalhadores organizados.

Há indícios de que havia policiais infiltrados entre os manifestantes do MBL. E há informes de que gusanos estão sendo recrutados por eles para esse tipo de provocação.

Certa vez estávamos em um ato de solidariedade à Venezuela na USP, e o tal do Kim Kataguiri chegou com um venezuelano a tira-colo para tentar tumultuar o evento. Em vários eventos da esquerda eles tem comparecido com esse intuito.

O ato de hoje no consulado cubano em São Paulo mostra o que devia ser sempre o modus operandi da esquerda, colocar os fascistas pra correr, debaixo de violência física se for o caso.

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quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Quem tá por trás do Bozo



A bolsa tá em alta. O mercado tá animado com o Bozo. A patronal tá se beneficiando largamente, né. Agora a bola da vez é a indústria das armas, que tá dando um up grade no Brasil. Mas fica por aí o otimismo.

A classe trabalhadora e o país como um todo perderão muito com esse governo. Os leilões de entrega do Pre-sal são só o começo, a venda da Embraer, enfim. Queda no salário mínimo, ataques ao funcionalismo público ao mesmo tempo em que os militares são protegidos, etc. A estrutura de desigualdades sociais abissais ganha mais uma boquinha com o governo Bolsonaro.

No bolso do trabalhador o dinheiro tende a ser mais escasso; o poder de compra vai diminuir, o endividamento das famílias vai seguir sendo dura realidade. É impressionante dizer, mas tem gente até passando fome no Brasil. Muito desemprego, trabalho precário.

A reforma trabalhista desferiu uma sequência de retrocessos em direitos históricos da classe trabalhadora brasileira. Esta se vê a cada dia mais desamparada de dispositivos sociais de inclusão. Mais do que nunca o Brasil volta a ser quintal dos Estados Unidos e república de bananas.

A recuperação econômica do pós-crise fica comprometida. E mesmo que o bolo crescesse, não seria dividido. A grana vai ser drenada pros EUA. A soberania nacional já era. Sorte nossa se esse governo não nos meter em mais uma espiral de crises.

A cúpula do bolsonarismo tá sendo obrigada pela realidade a fazer digressões em suas políticas. São muitas contradições em jogo. Não há como esses caras implementarem tudo o que desejariam. Mas vão querer fazer média com pautas "moralistas", vão apostar no populismo de direita que os levou ao poder. Em tudo isso eles tem teto de vidro. Tá ficando claro que também são corruptos, que querem se beneficiar pessoalmente do poder, com o que chamavam de velha política, troca-troca, movimentos escusos, nepotismo, enfim, toda essa gama de falcatruas a que estamos acostumados. Tudo isso permanece e inclusive piora. O que desmoraliza e desgasta esse governo.
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Importante notar a quem serve esse clã incrustado no poder. Não é que chegaram lá por coincidência do acaso. O governo Bolsonaro representa classes sociais, interesses específicos. É o peso da crise internacional que faz com que imperialismo e elites locais se organizem em torno de um grupo político de direita autoritária, justamente pra passar por vias legais a política econômica que os interessa, a saber, fazer do Brasil uma plataforma de lucro fácil, de superexploração da força de trabalho, de paraíso dos rentistas, das grandes corporações que se beneficiarão das privatizações.

Vendo nessa política a consumação de um ciclo, a elite daqui se associa como elemento oportunista e sócio-subordinado que nunca deixou de ser. Por isso a extensa corrente de apaniguados no parlamento e no governo, com bancada ruralista, centrão, MDB, etc. As classes sociais abonadas em torno da farra golpista.

Como dissemos, essa maracutaia toda tá ficando visível. A tendência é a dissolução gradual da base social em torno do bolsonarismo. São contradições demais pra se administrar. Já estão se queimando. Parcelas razoáveis da população já começam a se dar conta do estelionato eleitoral e dos iminentes riscos à economia nacional.

A luta de classes tá ficando acirrada. Os de debaixo começarão a se movimentar a medida que a vida começar a ficar insuportável. Os próximos meses serão intensos e determinantes.

FORA BOLSONARO!
FORA MILITARES!
FORA IMPERIALISMO!

Pela revolução brasileira e pelo socialismo!