sexta-feira, 3 de maio de 2019

Capitães da Areia

Breve resenha do romance de Jorge Amado



Semana passada li Capitães da Areia, do Jorge Amado. Livro ótimo. Me deixou impressionado. Já tinha visto o filme uns anos atrás. Desde então procurava oportunidade de ler o livro.

Mês passado me deparei com uma edição numa feira de troca de livros. Não li logo de cara porque tinha outra leitura naquele momento. Mas depois que comecei a ler fiquei encantado. É realmente um livro extraordinário. Já tinha lido alguns livros do Jorge Amado. Um deles em especial me chamou muito a atenção: Suor. Recomendo.

A escrita de Jorge Amado é simples e sedutora, envolve o leitor. Fica quase impossível não devorar o livro. É daquelas obras que não dá vontade de parar de ler. Capitães da Areia, em especial, além da fascinante trama, é um livro deveras comovente. Jorge Amado retrata a vida de um grupo de crianças de rua, crianças órfãs e abandonadas que vivem do crime e que se escondem numa casa abandonada em frente à praia, o trapiche. Por isso o nome de capitães da Areia. Esse grupo de fato existia em Salvador. Jorge Amado chegou a dormir lá com eles antes de escrever o livro.

Essa última informação vem ao final da edição que tive acesso, da Companhia das Letras, numa citação da também escritora Zélia Gatay, esposa de Jorge. E o cara captou com singular empatia a condição das crianças de rua.

O livro causou celeuma à época de sua publicação. Chegou a ser queimado em praça pública na Bahia. Jorge Amado o lançou no ano de 1937. Era, então, um jovem de 24 pra 25 anos.

É um romance de denúncia, de contundente crítica social. Não teria como passar incólume. E outra, no livro Jorge Amado também faz apologia ao comunismo. Pois é, Jorge Amado era comunista, chegou a ser deputado federal e dirigente político do PCB, que naquela época era um partido influente na vida política brasileira. Jorge Amado chegou a ser exilado em algumas circunstâncias, mas sempre foi um escritor popular, um best seller, adaptado para o cinema e para novelas de tv.

Capitães da Areia, como eu dizia, é uma pérola da literatura brasileira. Jorge Amado com muito talento vai ao âmago de um problema social grave e controverso e extrai disso uma gama de personagens maravilhosos e cativantes.

Não existe um personagem principal. O personagem principal é o grupo das crianças. O escritor conta a história e traça o perfil psicológico de umas oito crianças. Cada uma traz sua peculiaridade.

Pedro Bala, o líder do bando, é valente, destemido, filho de um líder operário que morreu com tiro da polícia em uma greve de estivadores. Pedro Bala traz as características do pai, a principal, a sede de justiça social, a preocupação com a comunidade. Tem o Pirulito, um menino religioso, que quer ser padre, muito devoto, e que passa horas em vigília rezando nas madrugadas do trapiche. Tem o Professor, o único letrado do grupo, um menino míope fissurado em ler, que passa as noites em meio aos livros, com uma vela ao lado. Tem o Sem Pernas, um menino aleijado, muito malandro, que tem facilidade de encantar as pessoas e se aproveitar delas depois. Tem o Gato, um malandrinho elegante, que gosta de andar bem vestido e que namora com a prostituta Dalva. Tem a Dora, a única menina do grupo, que perdeu os pais numa epidemia de varíola, uma menina muito carinhosa, que acaba se tornando a mãe do grupo. Tem um que é fã de Lampião e que sonha em ser cangaceiro.

Enfim, são personagens realmente muito interessantes, com histórias incríveis, muito tristes porém, que despertam compaixão e carinho aos leitores. Tudo isso em meio à rapsódias de traquinagens e pequenos delitos, fugas da polícia, dos internatos, etc.

Algumas histórias são muito tristes e comoventes, de partir o coração, de arrancar lágrimas ao leitor. São crianças, claro, despertam naturalmente a consternação, mexem com a nossa sensibilidade.  É um livro que me comoveu muito. Que me arrependo de não ter lido antes. Recomendo muito mesmo.