sábado, 22 de junho de 2019

A liberdade de Lula / Uma epopéia tupiniquim

Tá difícil pra elite admitir a soltura do Lula. Por mais que as contradições estejam vindo à tona. Mas, notem, as entrevistas do homem estão ganhando repercussão. Tem a repercussão internacional de tudo isso. E, como tem ficado evidente, as frações burguesas estão se degladiando.

Acredito que a tendência seja o Lula conseguir progressão de regime. A duras penas. Vai ser um parto isso aí.
Mas a liberdade do Lula vai estar em consonância com o derretimento da economia e a necessidade da burguesia de mudar esse cenário. Acredito que elementos do campo progressista sejam em médio prazo convocados a compor um governo de reestruturação nacional, pra tentar civilizar esse cenário de tamanha desagregação.

Por isso mesmo eu não me aferraria tanto à idéia de que o PT é carta fora do baralho. A crise econômica e política é muito terrível. São anos de estagnação, após anos de recessão, muito desemprego e miséria. Apesar de toda cantilena da imprensa burguesa, amplos setores da população tem saudades dos tempos de PT, tanto que Haddad obteve 40% dos votos. A sociedade brasileira tá muito polarizada, mesmo nos escalões de dominação econômica.

A gente não pode ser inflexível na análise. Existe uma tendência mundial de políticas de ajuste fiscal e austeridade, mas se a crise social bater na bunda, as elites se vêem obrigadas a abrir concessões e a eventualmente escalar algum elemento outrora descartado. Pode não ser o Lula. Mas pode ser um indicado, um aliado.

As elites não estão em muitas condições de prescindir da capacidade de articulação política do Lula. E a gente sabe que o Lula é um pelegão. Ele vai se prestar ao papel. Infelizmente a verdade é essa. Não dá pra ficar esperando a lendária guinada à esquerda da cúpula do PT. Que nos perdoem a sinceridade os camaradas petistas. O PT tem ainda uma boa base social, de gente valorosa e combativa.

Não dá pra fazer tábula rasa. O petismo é um fenômeno mais complexo do que desejaria imaginar a turba de analistas vulgares da história.


quarta-feira, 12 de junho de 2019

VazaJato, Moro e golpismo / Algumas considerações sobre a crise política e um prognóstico para o próximo período

1- Um serviçal queimado não interessa aos EUA. Esse é o ponto. Tem que ver até quando o Moro se aguenta no cargo. Cada vazamento desses é uma balançada na cadeira de ministro dele.
Moro e a Lava Jato são peões diretamente controlados pelo departamento de estado americano. São agentes treinados para executar essa política. Desde há anos. Mas não há como serem blindados diante das verdades que vem à tona. Serão descartados por força das circunstâncias.

2- O Bolsonaro foi improvisado de última hora para assumir a presidência. Isso tem a ver com o esgotamento do PSDB. O PSDB sim é que sempre foi a primeira alternativa do imperialismo americano para terras tupiniquins. A extrema direita, nessa modalidade representada pelo bolsonarismo, por uma série de fatores, sobretudo pelo peso da crise econômica e pela tendência mundial, assumiu esse vácuo. A tendência é que Bolsonaro seja um dos primeiros a cair. A base social de Bolsonaro não parece suficiente para resistir à evolução dos acontecimentos.

3- Minha tese é a de que os mais garantidos à frente do golpismo são os militares e os Chicago boys.
Os militares tem a instituição como baluarte. Muito difícil mexer neles. Mas o imperialismo já conta com um oficialato neoliberal e reacionário. Não existem esquerdistas entre os generais de quatro estrelas.
E os Chicago boys também são revogáveis pelo imperialismo. Mas outros Chicago boys assumirão o posto. Nenhum economista com ares de keynesianismo está cotado para as altas instâncias da fazenda ou do banco central. Não por ora. Talvez daqui a alguns anos, depois da economia estar completamente quebrada e o patrimônio público entregue aos abutres.

4- Lava Jato, evangélicos e lunáticos do olavismo também estão sujeitos a dar passagem. São todos elementos muito descartáveis. Damares e Olavos são por demais caricatos; são fracos e sem solidez alguma.

5- Pelas próprias circunstâncias atuais, com um generalão na vice presidência, o impeachment é sim muito provável e previsível.
Mas o Mourão vai assumir dentro do formalismo democrático. Um golpe militar aberto seria uma política de ponta de lança e de alto risco, por atrair convulsões políticas. Não é algo descartado. Poderia acontecer. Não me lembro quem por esses dias falava de uma contra-revolução de prevenção. Mas parece não ser o caso. Pelo menos não por enquanto. A tendência é Mourão ser alçado à presidência na tentativa de estancar a sangria. Isso pode levar meses; talvez mais de um ano ou dois. Mas Bolsonaro não tem condições de chegar ao fim do mandato.

6- A questão mais importante aqui é saber em quais condições Mourão deverá assumir a presidência. Se as massas tomarem as ruas no próximo período, e se a classe trabalhadora tiver um papel decisivo na queda de Bolsonaro, Mourão assume acuado.
Se a queda de Bolsonaro for restrita a uma movimentação parlamentar, sem atuação significativa das massas, Mourão assume com ímpeto para seguir na aplicação do pacote de maldades que já está em curso.