sábado, 25 de junho de 2022

Torre das Guerreiras e Outras Memórias


Vocês lembram da história da chamada torre das donzelas, no antigo prédio do presídio Tiradentes, que serviu de cárcere para as mulheres presas políticas na ditadura? A professora Ana Maria Estevão acaba de lançar um livro sobre o tempo em que lá esteve, processada pelo estado brasileiro em 1970.

Sou aluno da Ana Maria na universidade e portanto suspeito pra falar, mas quero elogiar o livro dela. Estive no lançamento aqui em Santos há 15 dias atrás. Um negócio comovente demais. Chorei pra caramba lá. Todo mundo chorou. Fazia um frio cortante na Estação da Cidadania, o tempo tava fechado. Cheguei lá e tinha música ao vivo, chazinho, café. Ambiente bem acolhedor. O pessoal homenageou a Ana Maria e depois ela própria fez a apresentação do livro. Não pude ler imediatamente mas o fiz ontem, 4 horas mergulhado no livro. Não dava pra parar de ler. É realmente muito interessante e bonito.

Tem a parte dolorosa e sombria da tortura, porque o livro é sobre repressão e ditadura militar. E a coisa era muito feia nos anos de chumbo. Os relatos da tortura são tenebrosos. Mas o livro está longe de se resumir a isso. É um retrato muito bem feito de uma época, porque a história da Ana Maria é uma porção de histórias do povo brasileiro nas décadas de 50, 60, 70 e 80. História de migrantes nordestinos, trabalhadores simples do povo, moradores dos subúrbios das grandes cidades, histórias da religiosidade popular do brasileiro, do surgimento da Teologia da Libertação, dos movimentos estudantil e operário, do maio de 68, etc, e, o ponto culminante, a luta política pela redemocratização, os movimentos políticos de vanguarda, a guerrilha e a clandestinidade. E depois as derrotas, as prisões, torturas, exílios e a morte de muitos daqueles que decidiram combater os milicos. É uma história dura, de muita dor e muito trauma, mas, como eu dizia, o livro da Ana Maria fala também dos pontos positivos, das histórias bonitas e engraçadas. São muitas histórias engraçadas. O livro transborda histórias engraçadas, e histórias de afeto, de humanidade, de amizade. É um livro muito bonito. A Ana Maria é uma mulher admirável, muito inteligente, muito reflexiva e muito afetuosa. 

Esse livro Torre das Guerreiras, com prefácio da Dilma Rousseff, que dividiu cela com a Ana Maria por quase um ano no presídio Tiradentes em São Paulo, é um livro que precisamos divulgar e propor a leitura, sobretudo aos jovens, às novas gerações que pouco ainda sabem sobre esse período da nossa história. É a história da Ana Maria, mas é também a história do povo brasileiro, de uma experiência política e social muito rica e intensa, que a Ana Maria como intelectual reflete com agudeza e correlaciona com os acontecimentos do mundo no período, de suas viagens no exílio, suas impressões e meditações.

Não deixem de ler esse livro!