quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Corrida presidencial / Tendências e apontamentos


Rodrigo Maia disse ontem que a chapa Baleia Rossi na Câmara prefigura um campo conjunto pra 22. Mencionou como prováveis cabeças de chapa os seguintes nomes. Dória, Huck, ACM Neto, Ciro Gomes!, e Paulo Câmara, do PSB de Pernambuco.

Acredito que o Ciro não consiga reunir o apoio da direita liberal. Mesmo em cenário de profunda crise econômica e social.  Nem um Paulo Câmara da vida, nome de segundo escalão. Acredito que o próprio Rodrigo Maia possa se colocar como candidato a presidente. 

Mas apostaria no Luciano Huck. Um elemento que expressa bem o poder econômico, mas com fachada populista, de discurso identitário, com apelo popular, mais carismático, com esse ar de "não político".

A tendência, me parece, é o estabelecimento de um novo outsider. Dessa vez menos improvisado do que foi com Bolsonaro. Vão limpar o terreno, aparar arestas, remover o discurso truculento e fascistoide e colocar no lugar uma postura civilizada. Por isso que acredito que o Luciano Huck seja alçado a esse posto de presidenciável das elites e do próprio imperialismo. 

O neofascismo bolsonarista foi um erro de cálculo do golpismo. Agora eles precisam controlar o monstrengo. Bolsonaro até que gostaria de terminar de destruir tudo. Mas é um cão de guarda da elite que faz muito barulho e que não entrega serviço. Um golpista sem cacife pra efetivar golpes. Um golpista juvenil. 

O estado nacional, verdade seja dita, começou a ser desconstruido nos estertores da gestão Dilma Rousseff, mas foi com Temer que imprimiram um forte choque. Bolsonaro não fez nada. Só ocupou o vácuo político.

Bolsonaro capitalizou o discurso de ódio desse período de crise política, de acirramento da luta de classes. Se beneficiou dessa guerra ideológica pra se alçar à presidência. Mas a gestão dele é de neoliberalismo aguado. Ele bem que queria uma gestão pinochetista: truculência e repressão social aliadas à privatizações e desmonte da soberania. Graças a Deus não imprimiu esse ritmo. Muito por conta de sua inaptidão política. 

As elites querem passar uma porção de ajustes e reformas. E precisam de um elemento que tenha mais habilidade e traquejo político pra engabelar o povo. O Bolsonaro mais atrapalha do que ajuda. Por isso que tende ao descarte. A mesma lógica do que aconteceu com Trump. Grosso modo. A verdade é que essa política de populismo de direita à la Bannon tem um limite já colocado. 

No Brasil foram os militares que ficaram como bucha de canhão dessa política, dando suporte a esse gabinete da insanidade que é o projeto bolsonarista. Se queimaram com isso, mas já foram longe demais pra declinar da aliança. Resta a eles a desfaçatez mais sórdida. O cinismo virou a arma política dos canalhas de verde oliva. Vivem na iminência do caos como se tudo estivesse absolutamente sob controle. São os bolsominions do núcleo racional e pragmático. Porque os bolsominions são verdadeiras antas. Seu obscurantismo e sua visão completamente obtusa da realidade os fazem colocar Bolsonaro em patamar de herói. Já os militares estão muito cientes da loucura de Bolsonaro, mas se vendem por poder e dinheiro. 

Mas vejam vocês a gravidade da situação. Tudo está sendo armado para a troca de seis por meia dúzia na política. A mudança mais significativa foi a do golpe de 2015-2016. De lá pra cá as mutações foram epidérmicas. O projeto econômico é exatamente o mesmo. Aplicar ajuste fiscal e privatizar tanto quanto for possível. O país segue sendo destruído. Isso é cada vez mais visível. Nem precisa falar do desemprego e da crise social. Até uma criança é capaz de notar.  Que Deus nos ajude, companheiros.