Tio, adorei essa canjica, disse o garoto com desejo de agradar o padrinho.
- E Jesus, menino?
-Também, tio, disparou a criança sem pensar direito no que dizia.
-Jesus adora canjica?! Não me diga!
O menino fez cara de interrogação e, antes que pudesse articular palavra pra se safar do interrogatório, foi liberado pela avó que disse:
- Sai daqui, peste, vai terminar de engolir isso longe. Hoje tô sem paciência, Alfredo. Você acredita que o delegado não quis fazer o B.O?
- Ah é?
- É. O filho da puta disse que não se mete em briga de vizinho. Falei pra ele que a ladrona me pegou os dois bujões de gás e não devolveu e ele me disse na maior cara dura que emprestado não é roubado. Emprestado não é roubado, emprestado não é roubado, repetia fazendo feição de retardo mental, com os olhos volvidos pra cima.
- Verdade, mãe, tenho que dar razão ao sujeito. Essa dona não é bem uma ladra. É caloteira, isso sim. Vamos dar os nomes certos.
- E agora, como fica?!, indignou-se a velha.
- Eu pago a porra desse bujão.
- Eu não quero que você me pague nada. Eu tô é revoltada com essa lambisgóia. Sabe, Fred, essas coisas deixam a gente sentida. Não é pelo bujão do gás.
- Tá ok, a senhora tá sentida. Mas B.O no DP não é a melhor forma de resolver sentimento. A senhora fica aqui quietinha que hoje à noite a gente vai ver o apóstolo e a bispa. Hoje é o culto do chinelo da prosperidade.
Tá bom, respondeu a anciã resignada.
Sentou na poltroninha surrada e ligou a tv no apresentador do programa policial.
- É isso aí, João- dizia a velha ao apresentador da tv.
- Tá falando com a televisão, vó?, provocou o netinho, com um sorriso detido nos lábios.
A idosa não fez caso do menino e com os olhos vermelhos de raiva esbravejava com o aparelho: - Tem que matar! Tem que matar! Onde já se viu?! Eu disparava com o fuzil na cabeça. Não tem conversa. Tem que matar...
Foi se acalmando e cochilou.