quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Cuba e o Cameraman


Ontem tava procurando coisas interessantes na Netflix e me deparei com esse filme. De 2017. Desconhecia sua existência. Peguei pra ver e achei realmente muito bom. 

É um documentário realizado por um jornalista norte-americano, Jon Alpert, que começa a viajar pra Cuba aos vinte e poucos anos, em 1975. Ao longo dos anos ele volta à ilha muitas vezes e visita as mesmas pessoas, pra saber como elas estão. E nisso vai fazendo amizades. Por mais de 40 anos Alpert acompanha essas pessoas, uma delas o comandante Fidel Castro, com quem Alpert estabelece também uma bonita relação de amizade.

É um filme muito bonito, muito comovente. Além de tratar do desenvolvimento da situação política no país, claro, ao longo de praticamente todos os períodos da revolução cubana, o filme tem esse olhar sobre o tempo, o envelhecimento dos personagens, suas dores, suas dificuldades, seus altos e baixos, em excelentes ensejos para a reflexão existencial.

Cuba e o Cameraman é um elogio ao magnífico povo cubano, ao seu espírito revolucionário, de soberania e de grandeza. Um povo que soube contornar os momentos mais graves e assustadores de um embargo econômico permanente, um embargo criminoso e extremamente vil. Com o fim da União Soviética, na década de 90, este povo precisou se reinventar e se sustentar com o turismo, sem abandonar a revolucionária e gloriosa trajetória de insubmissão ao monstro imperialista americano. 

Praticamente todos os personagens do filme expressam essa grandeza moral, essa disposição para a luta e para a autodeterminação cubana. São personagens que expressam a simpatia e a alegria de seu povo, sua força e sua humanidade. 

Os personagens mais emblemáticos são três irmãos velhinhos que trabalham como camponeses. De uma energia absolutamente impressionante. O retrato perfeito da simpatia cubana e da resistência de seu povo. Além de Fidel, claro, um homem que a câmera de Alpert revela ser muito mais que o carismático líder político e cérebro da revolução. Fidel se revela cordial e sensível. Um homem verdadeiramente admirável e por quem o jornalista genuinamente se afeiçoa.

Uma das cenas mais bonitas do documentário é o jornalista carinhosamente beijando a testa de Fidel já velhinho, poucos meses antes de sua morte. 

Recomendo bastante esse filme. Não percam. É o tipo de filme que não podemos deixar de conferir. Uma pérola. Uma história imperdível da grandeza da revolução cubana e de seus personagens, sejam figuras públicas ou anônimos homens do povo.

Viva a revolução cubana!

O sentido da vida é se insurgir contra as injustiças do mundo.




terça-feira, 9 de agosto de 2022

Universal do reino do pesadelo


Entrei numa Universal domingo. Vai vendo, gente. Entrei na Universal da avenida Ana Costa, em Santos. Tava com tempo, passando pela avenida, e fiquei curioso de entrar e ver o culto.

Já são umas três ou quatro vezes que entro pra observar. Fico uns 20, 30 minutos. A sensação é quase sempre a mesma. Sinto que aquele pessoal é perigoso. Me sinto mal.

Eles deixam vários obreiros ao lado dos bancos. Os caras ficam como policiais ali só de olho no movimento das pessoas. Aí você levanta pra ir embora e vem um obreiro correndo atrás, te puxando pelo braço, perguntando o porquê de vc ir embora. É assustador.

Já assisti várias vezes os cultos pela tv, nesses canais de tv aberta que a Universal insere programação. 

A análise feita de uma experiência presencial é ainda mais assustadora e corrobora o que qualquer pessoa mais observadora sabe. 

Tudo ali é muito teatral. Extremamente pensado pra gerar um choque emotivo. A iluminação, o som, tudo. O modo como o pastor conduz o evento, alternando tons de voz. Aí vocês tem que entrar um dia pra ver de perto. Tudo milimetricamente articulado pra induzir o transe. Aquilo ali é mais catártico que qualquer cinema ou teatro. 

O sujeito simples chega ali e é tragado pela atmosfera da lavagem cerebral, seja pela encenação ritualistica ou pelo discurso. Um discurso captador de gente tonta, gente que cai feito patinho no esquema. 

É muito triste. São milhões e milhões de pessoas nessa roubada.

E, assim, você entra lá e você vê como a coisa é o retrato religioso nítido do tempo que a gente vive. É a religião do neoliberalismo. Desconheço um culto que seja tão afeito à lógica de mercado. A Universal é um shopping da fé. Da fé mais destituída de senso ético e humanista, claro. É um templo de adoração à mercadoria, fetichismo brabo, com um pouco só de sentido religioso e metafísico.

Façam essa experiência um dia, entrem e passem meia hora num antro desses. É interessante pra observar como a experiência religiosa num lugar desse serve para alienar e descerebrar totalmente o cidadão. Pra observar o fundo de poço em que chega o neoliberalismo. 

A religião pode se tornar muito problemática. Poderia aqui tecer várias considerações e tal. Mas quero me ater nisso, o quanto pode haver de degeneração nesse encontro de religião e neoliberalismo. A Universal é o retrato fiel da barbárie social e política das últimas décadas. Barbárie mesmo. Besteira querer atenuar o peso da situação. É barbárie, franca e abertamente.