quarta-feira, 19 de julho de 2023

Jesus Revolution

Jesus Revolution (filme)

Uma experiência religiosa entre os hippies americanos 



Eu sou atraído muito facilmente por qualquer coisa relacionada à contracultura. Fiquei sabendo desse filme Jesus Revolution esses dias, e corri pra assistir.

Como já coloquei no subtítulo, se trata da história de um movimento religioso entre os hippies. Começou no início dos anos 70 nos Estados Unidos, entre pessoas do movimento hippie que buscavam uma experiência apartada das drogas. O movimento hippie, todo mundo sabe, era um movimento que preconizava a liberdade, a paz e o amor, e fazia isso através de uma revolução comportamental, de rompimento com os pensamentos retrógrados, cerceadores, moralistas e hipócritas das gerações anteriores e do que havia de estabelecido na sociedade ocidental. Pois bem, fazia parte disso o uso de drogas como abertura de uma viagem interior. Era um tempo de uso abundante de substâncias psicoativas como cocaína, heroína, maconha e o famigerado LSD. Era uma tentativa de abrir as portas da percepção, de uma viagem meio mística, libertária, uma coisa de mergulhar em novas ondas espirituais, contrárias à guerra e à violência, com experiências de amor-livre, de claras rupturas com o padrão ocidental de convívio. 

Acontece que nessa viagem muita gente foi e não voltou. A experiência com as drogas tirou muita gente de órbita. Muitos morreram de overdose.

Esse movimento religioso entre os hippies foi com a intenção de mostrar que a viagem das drogas não tinha dado certo, e que a verdadeira viagem tava num encontro com Jesus. O filme conta essa história ao tratar de Lonnie Frisbee, um maluco que viajava os Estados Unidos pregando para os hippies. Ele conhece o pastor Chuck Smith, líder de uma pequena igreja no sul da Califórnia, e juntos passam a formar um grande movimento, batizando milhares de jovens. 

Tava contando o enredo do filme pra um amigo e ele me disse o seguinte: 

- Mas que merda, Medina! Então esses caras viraram evangélicos; não era mais hippie o negócio. 

Pois é, tem essa controvérsia. Até que medida esse filme, por exemplo, não se inscreve na tentativa de gerar uma publicidade positiva à religião evangélica? Os evangélicos fazem isso, eles criam produtos de cultura, música, etc, pra fazer proselitismo. Os diretores de Jesus Revolution já trabalham com isso. Tem a mensagem religiosa como pano de fundo. Na verdade eles querem render tributo ao movimento evangélico norte-americano. A própria apresentação do filme, nas sinopses e cartazes, faz referência ao movimento religioso dos hippies como "o maior avivamento espiritual da história dos Estados Unidos". 

E só quem é evangélico não fica com o pé atrás com o que vem do movimento evangélico. Em se tratando de movimento evangélico, todo cuidado é pouco. Aqui no Brasil a gente conhece bem a história. Esses caras inclusive chegaram no governo, se associando ao bolsonarismo, e só fizeram merda.

Ok, tendo dito isto, tendo deixado esse parêntese bem claro, digo que o filme vale a pena ser assistido e debatido. É um filme bom, muito bem feito, melhor que muitos filmes que estão por aí em cartaz. O movimento hippie é muito interessante e a experiência religiosa e mística pode sim ser bonita e muito válida. Independente se o telespectador é religioso ou ateu, Jesus Revolution é um filme que merece sim ser assistido. Kelsey Grammer, no papel do experiente pastor, faz um excelente trabalho. Vale a pena reparar. A música é excelente, os enquadramentos, a fotografia, tudo bem feito. Só o roteiro que não é dos mais originais. Coisa que faz parte do gênero também. 

De todo modo, a experiência hippie traz uma série de elementos expressivos e consideráveis para a reflexão atual. Sem dúvida que é preciso revisitar as experiências de utopia, de contracultura e contra-hegemonia, as experiências de reconsideração ética, de inovações estéticas, de quebras de paradigmas e de progressismo comportamental. Cientes de que o movimento do capital vai querer cooptar tudo isso, de que as religiões e os misticismos poderão ser manobrados por mentes maquiavélicas, que se utilizarão de um visual descolado, de um discurso com gírias, com bastante choque ideológico, com estratégias das mais sorrateiras, com mensagens subliminares, laboratórios de catarses coletivas, hipnose, etc.

Aí a gente precisa ter um filtro pra passar o negócio. Não podemos prescindir da crítica. Nossa fruição estética, nosso encantamento com a beleza da história humana, tudo, absolutamente tudo, deverá vir acompanhado da crítica. Não é à toa que eu sou fascinado pela contracultura. Viva a crítica! Viva os que querem mudar o mundo!