por
Mário Medina
Os
ânimos estão exaltados na Grécia, e não é para menos. Dez dias
depois do referendo em que cerca de 60% dos votantes rejeitou ceder
às negociações com a troika, o parlamento grego votou acordo com
países da União Européia pela liberação de um pacote de 85
bilhões de empréstimo, a ser recebido ao longo de três anos, com
a condição de que o governo grego enxugue gastos com previdência,
aumente impostos e privatize estatais que andam no vermelho.
O
caminho da capitulação
Após
demonstrar vacilação nos primeiros momentos como governo, onde
abriu diversas concessões aos credores, o primeiro-ministro Alexis
Tsipras recorreu a um referendo para que a população endossasse
seu posicionamento de não abrir mais concessões nas negociações.
Tsipras fez aberta propaganda pelo ``Não`` e deixou entender que se
o ``Sim`` ganhasse renunciaria, pois se negaria a gerenciar a
austeridade proposta pelo imperialismo europeu.
Essa
movimentação de Tsipras fez com que muitos encarassem a manobra
com estranheza. Afinal, para que um referendo se o Syriza saiu
vencedor das eleições? A população decidira nas urnas, na
eleição para o parlamento, a linha política contrária às
medidas de austeridade que vinham sendo implementadas por governos
anteriores. Outros encararam o chamado ao referendo com bons olhos.
Raciocinavam que Tsipras convocava a população para apoiar o
governo diante da ofensiva da troyca.
Nós
estamos entre os primeiros. Pensamos que o Syriza ganhou nas
eleições e que não precisaria submeter a voto uma política de
recusa aos achaques imperialistas. Seria o caso de convocar a
população não às urnas, mas às ruas, para mostrar aos vizinhos
europeus a disposição de enfrentamento do povo grego e deixar bem
claro que o país não se curvaria perante a política hegemônica
de austeridade.
Nesse
caso, a esmagadora maioria do povo grego apoiaria seu governo,
porque as pessoas sabem da desgraça social que abateu o país
nesses anos de crise, e não estão dispostas a abrir mão de mais
direitos e se verem ainda mais pobres.
Rejeitar
o acordo com a troyca traria duros desafios à Grécia. Mas seria
muito mais honroso para o Syriza, que se elegeu pelo voto popular
com um discurso de esquerda. Não há dúvida que Tsipras e sua
equipe traíram a confiança de seus eleitores.
Agora
o Syriza votou rachado no parlamento e o governo se viu obrigado a
contar com votos da oposição para aprovar o novo plano. O
imperialismo europeu humilhou Tsipras. Este fica agora completamente
desmoralizado diante de seu povo e completamente refém dos
credores.
Aurora
Dourada, o partido da extrema direita, pode ser o próximo fenômeno
político daquele país, já que a frente popular grega caminha a
passos largos para sua completa desgraça. Revoltados com a traição
de Tsipras, manifestantes começaram a tomar as ruas em frente ao
parlamento, criaram barricadas e incendiaram automóveis. A polícia
reprimiu e houve confrontos de rua.
Crise
social
O
governo decretou feriado bancário no fim de Junho e o máximo a ser
sacado nos caixas eletrônicos são míseros 60 euros. Os
aposentados são os mais desesperados e o povo está revoltado com
muita razão. Resumo da ópera: Tsipras ridicularizou a esquerda e
deu um empurrãozinho na direita.
É
forçoso concluir que não podemos depositar esperanças em soluções
reformistas de cunho eleitoral, mas combater pela revolução
socialista. Mais uma vez a história dá razão ao marxismo.
Adoraríamos
apoiar um legitimo governo progressista na Grécia. Defenderíamos
tal governo dos ataques da burguesia e do imperialismo e
propagandearíamos seus feitos. Nos resta denunciar o engodo que o
governo Syriza se tornou e apontar o caminho da ruptura
revolucionária com o atual sistema.
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