
Caríssimos, Hospício é deus é coisa de maluco. Mas de maluco com conteúdo e muito a dizer. A autora é Maura Lopes Cançado, escritora mineira radicada no Rio, colunista do antigo Jornal do Brasil, escritora talentosa e excêntrica que, acometida por distúrbios mentais, em uma de suas estadias num manicômio público do Rio, resolve, por sugestão de um colega da redação do JB, escrever um diário. A moça, ela era jovem, talentosíssima e lúcida, presenteada com uma Olivetti portátil, passa a narrar seus dias de interna numa instituição psiquiátrica. Isso no final da década de 50. A citação de Sartre tem tudo a ver com o contexto da época, período de ebulição do existencialismo do casal Sartre e Bevouir.
Mas, voltando ao livro, devo dizer, fiquei super impressionado, um pouco que me punindo por desconhecê -lo. Pesquisem no Google pra ver, Hospício é deus virou tema de pesquisas nas universidades, sobre a questão do escrever sobre si.
O livro é um diário. Em meio à narrativas de acontecimentos do dia, a autora recorre a digressões e conta episódios de infância, juventude, do casamento frustrado, do filho, da família, de suas saudades do pai falecido, de sua inadequação social, de sua sexualidade reprimida, de seu estranhamento do mundo. E Maura Lopes Cançado narra com sensibilidade todo o horror que observa e do qual é vítima ao mesmo tempo.
Os manicômios da década de 50 eram praticamente masmorras. As doentes eram punidas com quarto forte, as guardas corriqueiramente recorriam à violência física, o eletrochoque era coisa comum, as condições sanitárias eram precárias, a comida, intragável. Maura narra tudo com acidez cortante, criticando o sistema e a classe médica, com sarcasmo, debochando da cultura rasteira dos técnicos e médicos. Maura Lopes à época contava 24 anos, mas erudita, de uma inteligência fora do comum; jovem, muito bonita, atraente, despudorada, excêntrica. Em meio a surtos e crises depressivas, quebrava a monotonia rasgando as próprias roupas, entrando nua no escritório do diretor, pulando muros, dançando no telhado, pregando peças nas seguranças, elaborando e executando planos de fuga. Maura era o "terror" do complexo hospitalar. Uma figura. Personagem que colocaria no bolso o inusitado interno feito por Jack Nickolson em Um Estranho no Ninho, clássico do cinema que retrata cotidiano e desventuras de um pequeno hospício. Vejam, super recomendo esse livro. Tem coisas muito tristes, e a despeito da citação sartreana na primeira página, Maura Cançado estava muito mais inclinada para uma leitura nietzscheana da vida. Há niilismo de sobra, angústia; o livro alterna momentos divertidos ou de descrições afetuosas com quadros desesperadores de abandono e injustiça. Leiam esse livro. É um mergulho na condição humana, uma rica reflexão existencial. Depois tirem suas próprias conclusões.

Não acredito que você conseguiu esse livro assim.Rapaz, esse livro é raríssimo! já chegaram a pagar por ele 3.000,00. Um monte de gente procura e não acha, pesquise na estante virtual para ver. Super importante e super raro. Parabéns, nesse dia você ganhou na mega sena!
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