quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Retomar a Teologia da Libertação na América Latina

Resenha publicada no blog Dorothy Stang       http://nucleodorothystang.blogspot.com.br/


O texto que segue é uma resenha de trechos da fase conclusiva de uma conferência ministrada pelo padre José Comblin, realizada em Setembro de 2006 na cidade de São Paulo.


Muitas vezes nossas estruturas eclesiais são mais burocráticas do que evangélicas. É necessário ter estrutura? Sim, evidente, mas as estruturas devem servir ao escopo de evangelizar. Nesse sentido, o desafio do povo de Deus é criar estruturas em função da evangelização, e não da administração apenas.
Em geral os seminaristas, padres e paroquianos estão envoltos em querelas acerca da estrutura local, encastelados em seus interesses mais pragmáticos, quando na verdade deveriam estar em movimento permanente de missão junto aos enfermos, favelados e nos demais nichos de exclusão social, marginalização e instabilidades variadas. Os cristãos precisam sair de suas estruturas para dialogar com esses irmãos e expressar a força vivicante do evangelho, que se dá nessa relação amistosa de convivência e fraternidade.
Estar presente no meio da humanidade e levar o testemunho da libertação que Cristo traz é aquilo que a igreja militante necessita fazer, e com urgência. Os documentos publicados pela CNBB, por exemplo, são muito gerais, genéricos, pouco lidos, sem inserção considerável na sociedade e mesmo entre os fieis da Igreja. Isso não é estar presente no meio da humanidade.
Evangelizar é conversar, porque, se não for desse modo, se fala ao vento, se fala sozinho, se cria uma situação de desconforto, de superioridade, e o que é pior, de falsa superioridade. É esse contato com o mundo do outro que obriga a repensar, que obriga a reformular, que obriga a enxergar questões, situações, provocações e assim por diante.
O papel dos leigos nessa tarefa é imprescindível, porque estão numa situação mais favorável ao passo que não estão vinculados a uma hierarquização sufocante, que cerceia a liberdade e a criatividade evangélica. A verdade é que a estrutura eclesial pode ser uma tentação e uma efetiva prática de monopolização das tarefas pelos padres e pelos bispos.
O código de direito canônico resguarda os leigos nesse sentido, lhes reconhecendo o direito de formar associações , com a condição de preservar a fé e a moralidade. Em caso contrário, o bispo pode intervir. Mas se não houver grande escândalo contra a moral nem negação formal de um dogma, não deve haver intervenção. A primeira condição para um trabalho profícuo é a autonomia em relação as paróquias e dioceses.
Já passa da hora de se retomar uma orientação para o mundo social, para o mundo operário, para além da comunidade local, englobando as diversas demandas de lutas sociais que existem nas grandes cidades.
Dizia um sindicalista francês que a igreja se afastou deles, que não os reconheceu mais, não se meteu mais entre eles, abandonando esse trabalho. E isso na maioria das vezes se estende às favelas e outras realidades de exploração do homem pelo homem e de desrespeito aos diretos humanos.
Dessa ausência da Igreja surgem centenas de igrejas pentecostais nos bairros periféricos e nas comunidades carentes. Eles assumem o trabalho que a Igreja não dá conta de fazer, ou simplesmente se nega a fazer ao abandonar o mundo dos pobres, negando a opção preferencial de Cristo pelos excluídos.
O meio universitário poderia oferecer novos quadros de luta social e evangelização. A hierarquia não tem tomado iniciativa, as universidades pontifícias somente atrapalham. Mas a impressão que se tem é que nos meios universitários e intelectuais não há cristãos, pelo menos cristãos dispostos em assumir a vocação da profecia nesse meio. Falta vontade, como nos profetas, de realizar, de sair do mundo das ideias para uma práxis de libertação, de um rompimento com um discurso incipiente e raso para uma atuação efetiva nos meios onde é possível arregimentar pessoas com desejo de mudança.
O essencial é saber o que fazer e fazer, realizar. Entender é uma coisa, querer é o que resolve. As pessoas oram mas não dão vazão ao Espírito Santo que as envia à determinada missão. É preciso romper com o conformismo, com o isolacionismo, assumir a tarefa de anunciar um mundo novo,
Retomar a Teologia da Libertação também passa por um ato de coragem e despojamento, abandonando o conforto e a segurança do sofá de casa para entrar nos guetos onde os pobres padecem toda forma de opressão, lutar ao lado deles e defender a vida.
Na contramão da Igreja indiferente e aliada dos poderosos, os militantes que reivindicam a Teologia da Libertação tem de tomar seu lugar na luta dos povos subjugados da nossa América latina, tão vilipendiada pelas forcas imperialistas e sanguinárias do grande capital.

Um comentário:

  1. Não tenho ilusões quanto à retomada da Teologia da Libertação e do papel histórico que teve nas décadas de 60, 70, 80...A Instituição "Igreja Católica Apostólica Romana" tem o costume de acender uma vela pra Deus e uma pro Demônio...de vez em quando uma das velas é maior do que a outra! Amém!

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