Crônica
de um ato
por Mário Medina
Aqui ninguém
posa pra selfie com quem massacra nosso povo- dizia o cartaz de uma
moça.
Ué, a Globo News
não tá transmitindo nosso ato ao vivo? Como assim, Rede Globo?-
ironizava Boulos do alto do imenso carro de som.
Garoava, uma
garoa ora fraca ora forte. Quando aumentava, parte da multidão se
abrigava debaixo dos poucos toldos às margens do Largo da Batata.
Muita gente, muita gente mesmo, cerca de 40 mil pessoas, várias centrais
sindicais, vários partidos da esquerda, até o PSTU tava lá... Muitos jornais
circulavam, várias baterias animavam os manifestantes. No carro de
som se revezavam representantes de todas as matizes da esquerda,
presidentes de centrais e grandes sindicatos, políticos, figuras
públicas, etc... Greve geral e unidade da esquerda eram consenso
entre os oradores.
A passeata saiu
debaixo de chuva.. Tomou a Faria Lima e entrou à esquerda na
Rebouças.
Canta, canta,
minha gente, deixa a tristeza pra lá, canta forte, canta alto, que a
vida vai melhorar- cantava a massa de manifestantes do MTST. Atrás
vinha uma interminável sequência de fileiras partidárias.
Hey, coxinha, vai
bater panela!!!- gritava a multidão. A chuva foi apertando
gradativamente. Na metade da Rebouças uma chuva torrencial me fez
buscar abrigo na entrada de um estacionamento. Outros companheiros
tiveram a mesma ideia e em pouco tempo havia dezenas de pessoas
amontoadas ali.
-Você é do MTST?- perguntei a um homem do meu lado
- Sim, assentamento tal.
- E onde fica esse lugar, cara?
- Pra lá do Jardim Ângela.
- Porra, é longe hein, camarada.
- Mais de duas horas pra chegar lá.
- Me diz uma coisa: como é o assentamento lá, companheiro? Vocês tão construindo lá?
- Não, é tudo barraco de lona.
- Ah é, sem piso, sem nada?
- Não, a gente faz um piso de cimento queimado.
- Hum... entendi.
-Você é do MTST?- perguntei a um homem do meu lado
- Sim, assentamento tal.
- E onde fica esse lugar, cara?
- Pra lá do Jardim Ângela.
- Porra, é longe hein, camarada.
- Mais de duas horas pra chegar lá.
- Me diz uma coisa: como é o assentamento lá, companheiro? Vocês tão construindo lá?
- Não, é tudo barraco de lona.
- Ah é, sem piso, sem nada?
- Não, a gente faz um piso de cimento queimado.
- Hum... entendi.
A chuva parou e
eu retomei a marcha Rebouças acima, na retaguarda da multidão. E,
pra minha surpresa, o ato saia da Rebouças pra pegar um caminho
alternativo pelas ruas do Jardim América, reduto elitista da região.
De dentro das lojas de grife e dos cafés elegantes, burgueses
atônitos olhavam o povão tomar as ruas. Um povo sofrido, judiado
pela vida, alguns não muito bem vestidos, outros desdentados,
crianças meio desgrenhadas, bichos grilos como eu, de chinelo de do, etc, mas um povo de luta, combativo, em
movimento constante pra se desgarrar das amarras impostas pelo
capital.
Esse povo subiu
triunfante a rua Augusta. Verdade que algumas senhoras idosas tiveram
que parar pra respirar e assim transpor a cansativa ladeira que dava
na Avenida Paulista. A passeata ainda passou pelo MASP e foi acabar
na frente do prédio da FIESP, diga-se de passagem, muito bem
protegido por dezenas de policiais.