quarta-feira, 1 de abril de 2015

Sátira e Critica social na historia do Brasil


resenha de alguns trechos de ''Interpretação do Brasil'', de Gilberto Freyre

Literatura e arte também pertencem ao domínio do sociológo, do historiador social, do antropólogo e do psicólogo social, porque através dos personagens pode-se abordar os tipos sociais e o ethos nacional.
Durante muito tempo, a arte e a literatura no Brasil permaneceram pouco articuladas com as características sociais, sobrepujadas pelos temas coloniais e europeus.


Aleijadinho
Aleijadinho, escultor mulato das igrejas coloniais do século 18, na região das minas de ouro, foi um dos poucos artistas que surgiram com uma mensagem artística socialmente significativa, justamente por romper com as características europeias, criando algo inovador.
Filho de um artesão português e uma negra, acometido por uma doença que lhe comeu a maior parte dos dedos, Aleijadinho parece estar ligado a parte proscrita da população, nutrindo sentimentos de revolta contra o meio social.
Através da arte religiosa, Aleijadinho expressa consciência social de potencial revolucionário, numa suposta identificação com os mártires do cristianismo primitivo e os antigos profetas que denunciavam os pecados sociais.
A maneira satírica e sarcástica de exagerar características de raça indica sua revolta contra a dominação e a exploração da região das minas, com especial enlevo para os judeus.
Aleijadinho é produto social dessa região. Através de sua arte, das deformações que impingia aos algozes do Cristo, Aleijadinho tinha o desejo de transmitir uma mensagem política.
Freyre o tem como um precursor da arte moderna na América Latina, em cuja obra existe uma intenção política simbólica, ao mesmo tempo que uma tendência ao exagero, a deformação, a caricatura. Também teria antecipado a arte literária moderna do Brasil.
Quanto aos autores da época de Freyre, muito embora fossem influenciados e imitadores das literaturas europeias, persistem fortemente brasileiros por sua maneira de exagerar, fazendo a realidade mais real. Jorge Amado seria o grande expoente dessa safra de autores.
A sátira, traduzindo interesse por problemas sociais e revoltas populares, é uma característica da literatura brasileira. Ao longo da historia, figuras eminentes foram alvo das sátiras de escritores e populares. No decurso da historia da imprensa pode-se notar inúmeros casos de chacota pública e coisas do tipo.


Gregório de Matos
Também no século 18, na Bahia, viveu um homem de muito talento, Gregório de Matos, notável por seu talento satírico no módulo do verso. Critico social de importância considerável, Gregório foi mestre em descrever tipos sociais e caricaturar.
Primeiro poeta brasileiro a interpretar as tristezas e alegrias da vida brasileira, transitando de padrões quase exclusivamente europeus para uma cultura mestiça e extra-europeia, Gregório foi um impiedoso sátiro, criticando eminentes figuras da sociedade da época.
Se por um lado Gregório de Matos tinha um perfil mais intelectualizado, Aleijadinho reuniu mais força emocional e simbolismo em sua obra.
É possível que Aleijadinho, por sua condição de filho de um negra, tenha tido mais contato com arte e verso populares que seu contemporâneo Gregório de Matos, este, bacharel sofisticado.


Cultura popular no Brasil
A grande arte popular do Brasil colonial foi a votiva, de fortes inspirações na fé popular. Arte esta variada, compreendendo imagens e esculturas.
A queima dos Judas foi outro aspecto da cultura popular dessa época. Uma oportunidade para as pessoas do povo satirizarem condutas que reprovavam em seus dirigentes.
Na confeitaria indígena e popular também havia elementos caricaturescos, como uma longa lista de bolos e doces com nomes profanos. Barriga de freira era um desses nomes.
A mesma tendência caricaturesca encontrava-se nas canções e versos populares do período. Versos que continham uma profunda impressão do imaginário popular.


A caricatura na imprensa brasileira

A técnica da caricatura também é marcante no teatro nacional, na chamada Revista. Havia na imprensa bastante liberdade para os autores das revistas caricaturarem figuras publicas da política.
Esse tipo de caricatura era tão disseminado, que políticos pouco falados forjavam caricaturas afim de ganharem visibilidade.
O rei Do João VI, por exemplo, foi muito ridicularizado por comer feito um glutão. Pedro II foi livremente criticado e caricaturado pela imprensa por causa de seu entusiasmo por astronomia e hebraico, ou outras excentricidades. Dom Pedro era chamado de ``Pedro Banana``, apelido dado a gente mole e preguiçosa. O presidente Hermes da Fonseca recebeu apelido de Dudu, e, ao longo dos seus quatro anos de mandato, foi alvo de inúmeros artigos e caricaturas, que o troçavam por sua fama de espalhar má sorte.
Com o tempo, por conta das caricaturas, esses chefes políticos ganharam afeto e simpatia de muitos.


Literatura moderna / Geração de Lins do Rego e Jorge Amado
A atmosfera da caricatura também marcou a literatura e a pintura, seguindo a linha de crítica e revolta social. Lins do Rego e Jorge Amado foram mestres na caricatura, para detrimento do realismo fotográfico.
Seus romances lembram as esculturas de Aleijadinho e a poesia satírica de Gregório de Matos.
Suas personagens são verdadeiros tipos sociais brasileiros, alçados à condição de heróis do povo, verdadeiros símbolos da resistência e da vitalidade afro-brasileira.
Na opinião de Freyre, escritores como Lins do Rego, Jorge Amado, Rachel de Queiros, Amando Fontes, Viana Moog e Érico Veríssimo contribuíram mais que economistas e políticos no propósito de expurgar os excessos de tradição e de rotina colonial.
A literatura precedente, apegada a normas e prescrições acadêmicas, de rígida técnica lusitana ou europeia, não permitia a expressão de uma interpretação rigorosa da realidade brasileira.
Os autores modernos rompem com as técnicas convencionais e colocam a mão na ferida, evidenciando os confrontos entre brancos e pretos, expondo de forma enfática os conflitos sociais., o que os coloca em oposição frontal ao patriotas, que, por sua vez, defendiam a teoria de uma literatura feita para propagar o que de bom e agradável havia na vida brasileira.
Poetas, historiadores, ensaístas, críticos literários e pintores contemporâneos de Freyre contribuíram para romper com a tradição colonial.

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