Eles perdem o pudor, mas não abrem mão do poder. Me permitam
o jogo de palavras. É que essa metáfora contempla muito bem as classes
políticas que se revezam no executivo brasileiro. Tanto PT e base aliada
quanto seus opositores de direita preferem perder publicamente a dignidade a
perder a oportunidade de desfrutar das benesses do poder. Para conquistar
presidência e governos estaduais eles são capazes de abstrair de quaisquer
escrúpulos.

O desejo de subir ainda mais ao poder faz com que PMDB e
PSDB conspirem para ganhar a presidência no tapetão, já que não foram capazes
de derrotar o PT nas urnas. Se
beneficiam da impopularidade de Dilma e do PT para eclipsar sua
responsabilidade nos escândalos da Petrobrás e se lançam desesperadamente ao
rito do impeachment, com Cunha e tudo. Não importa que Cunha seja um notório
picareta, um psicopata energúmeno disposto a passar por cima de quem se opuser
a ele. Corre à boca miúda inclusive que Serra já até teria negociado um
ministério na eventual gestão de Temer. A crise política promete surpresas em
Brasília.
Enquanto isso, só nesse ano, o Brasil vai gastar mais de
380 bilhões de reais no pagamento aos juros da dívida pública. Entra governo e
sai governo, revezam-se as figuras do poder, por eleição ou por golpe, e as
coisas continuam como sempre. Ao trabalhador brasileiro restou observar com
lamúrias incontáveis a política burguesa e suas aberrações. Ou seja, ou Dilma
se dobra ao mercado financeiro e aplica o ajuste fiscal e suas austeridades de
forma submissa; ou a burguesia levanta a bola para que a subserviente oposição
de direita se encarregue da tarefa. O
trabalhador pobre que se dane, sem emprego, sem renda, sem moradia,
apertado com as tarifas em reajuste e com as necessidades ressurgindo.
Porque a diferença entre tucanos e petistas é que os
primeiros são abertamente neoliberais e atraem para si a simpatia da parcela
mais reacionária da sociedade; ao passo que o PT, por sua base nos movimentos sociais e sua popularidade na fração mais proletarizada da sociedade, não vem
aplicando o ajuste fiscal na velocidade e violência desejadas pelos abutres do
sistema financeiro, que desejariam taxas de juros ainda mais elevadas, cortes
de direitos trabalhistas, privatizações, etc.
Em tal conjuntura, cabe à esquerda sair às ruas para se opor
ao golpe, esse golpismo despudorado que pretende jogar a constituinte na laxa
do lixo de nossa história com o intuito de ganhar em jogadas e manobras
ilegítimas a conquista do direito de elegermos democraticamente nossos
representantes. Na história do direito constitucional, só dois países
aplicaram o impeachment. Por motivos legítimos o Brasil foi um dos casos, em
92. Notem que medidas de exceção os poderosos estão dispostos a desengavetar
para não saírem contrariados.
Mais do que nunca, no entanto, cabe também à esquerda e às
forcas progressistas de nossa sociedade, ao mesmo passo que se articulam para
garantir a legalidade democrática, admitirem que esse governo que aí está não
representa em nada os anseios populares, que se trata de um governo traidor,
que se diz um governo dos trabalhadores mas que é seu oposto, um governo
hipócrita, entreguista. Não é que o governo petista seja vacilante. Quem dera
esse governo tivesse algum interesse em beneficiar os trabalhadores. O governo
de Dilma é um governo perdido, que não vai guinar à esquerda. É um projeto
sem salvação.
Alguns economistas governistas criaram o maior alarde com a
substituição de Levi por Nelson Barbosa na pasta da fazenda. Mas tão logo
assumiu o cargo, Barbosa prontamente se colocou pelo ajuste e tratou de acalmar
o mercado.

Ora, não estamos aqui pra ‘’passar o pano’’ pros picaretas
do PT. Sabemos que muitos tucano-direitistas se solidarizam com Cunha por
interesse no impeachment. Acontece que de nossa parte ninguém vai tirar a
responsabilidade de Dilma para se opor ao tucanato.
Não adianta fazer tábula rasa da história ou aderir
acriticamente a um dos pólos dessa disputa inter-burguesa. Os interesses da
classe trabalhadora superam quaisquer birras.
Bom texto.
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