segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Tá tudo errado nessa porra!

Essa semana tava conversando com um amigo e explicando pra ele o porquê das minhas angústias. São muitas, é verdade. Sou um melancólico assumido e ando niilista ultimamente. Argumentei com esse meu amigo: ''Tá tudo errado nessa porra''.

Argumento curto e grosso, sintético, enfático, assim, dito na lata, pra resumir o descontentamento que é generalizado. A economia tá ruim, não tem emprego, não existem boas expectativas na política. Minha geração tá fudida e mal paga, vamos falar o português claro. Enfim, tudo compete para um desarranjo existencial . Crise existencial combina com crise financeira, crise de representatividade, crise geracional, etc.

O processo civilizatório é um notório fracasso. O que esperar desse mundo depois de Auchwitz e Hiroshima? São tantos dramas particulares e coletivos sucedendo-se aos borbotões às nossas vistas! Tá passando do tempo que angústia existencial era coisa de burguês bem alimentado no divã do analista.O colapso é tão dramático que a depressão anda mais democrática que nunca, a violência é generalizada e o ódio tão disseminado como em outros períodos super-preocupantes da história.

Estaríamos à beira de um regime fascista, de uma guerra civil?! Não! Espera! O Brasil é o lugar da paz. Eu mesmo moro num bairro em que judeus e árabes se cruzam na rua e nem se olham feio. Tem chinês, coreano, boliviano, peruano, indiano, haitiano...ufa! Segue uma lista grande, com destaque para refugiados sírios agora.

Outro dia passei na frente de uma igreja pentecostal de coreanos. Um membro da congregação brincava com um garotinho boliviano na porta do templo improvisado em uma antiga garagem. Eles interagem. Olha que bonito. Coreanos comerciantes e bolivianos miseráveis. Do lado um café árabe e um açougue kosher. Na mesma calçada. O Brasil tem dessas coisas mesmo.

Mas não preciso caminhar muito pra encontrar um senhor reacionário dizendo que Marisa Letícia morreu foi tarde. Na minha rua, a mesma rua dos pentecostais inclusivos, outros diriam proselitistas, e dos muçulmanos que tomam cafezinho e fumam narguile na calçada, encontro um rapaz que me fala de sua admiração por Bolsonaro.

Navegamos nas redes sociais e vemos que há muita gente assim, vemos que um médico sugere aos colegas romper o procedimento de Marisa Letícia para matá-la, vemos que uma outra médica vai à porta do hospital com um cartaz dizendo que Lula perdeu o dedo amputado no cú do povo brasileiro, vemos que os presidiários de Alcaçus promovem uma inédita interrupção de rebelião para um culto evangélico e voltam a cortar cabeças de rivais como se nada tivesse acontecido.

O Brasil é país de terceiro mundo, natural a barbárie, diria o cidadão com complexo de vira-lata. Esse cidadão vai ter que rebolar um tanto para entrar nos States e fugir da miséria tupiniquim. Acontece que o tal do Trump vai vetar o passaporte de meio mundo antes de construir o muro do México e comprar brigas nucleares com Irã e Coreia do Norte. O liberalismo que os ianques gostam é o que defendem para o Brasil dos golpistas. Rifa-se o Pré-sal e garante-se os juros do sonho dos investidores-rentistas.

Sou de uma geração que só entende uma figura de linguagem, a da ironia. Nosso gosto literário mais promissor é aquele estilo Tati Bernardi, pra descontrair com nossos reveses do cotidiano. Pode parecer que tento o mesmo com as palavras acima. Não me confundam. A porra toda tá errada e eu não quero me envolver com isso.

O colapso é linguístico também. Educacional, cultural... Talvez o mérito maior do momento seja o de diagnosticar o colapso pelo qual se passa. Nisto estamos mais próximos de um consenso.

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