sexta-feira, 28 de outubro de 2022

O que será da política brasileira nos próximos anos?


Segundo turno, eleição pra presidente em 2014. Vocês se lembram? Dilma estava fazendo um governo ruim. Mas o adversário dela era um playboy safado, que todo mundo sabia que não prestava e que queria assumir a presidência da república pra voltar com um neoliberalismo ainda mais violento do que o projeto que estava em curso. Pois bem, mesmo sendo um elemento altamente suspeito, um picareta de marca maior e com projeto maldoso de governo, aquele cidadão mineiro residente no Rio, um famigerado playboy usuário de droga e agressor da mulher, cínico, hipócrita, mentiroso, dissimulado maldito, teve mais de 48% dos votos, perdendo pra Dilma por uma estreita margem de 3 milhões e meio de votos. 

Notem que a polarização política era classista e muito acirrada. No entanto, não havia movimentação de extrema direita declarada. De 2018 pra cá que a situação tem evoluído neste sentido. 

O meu medo é que agora, nesta eleição de 22, tendo o Brasil passado pela trágica experiência de uma gestão de extrema direita, genocida inclusive, o país se consolide agora num modelo extremamente semelhante ao regime político norte-americano, com uma oposição de praticamente duas correntes políticas apenas: uma de extrema direita, e uma de centro-direita. Sim, o Partido Republicano é de extrema direita e o Partido Democrata é de uma direita mais amena. Aí a esquerda americana precisa toda eleição declarar voto útil no menos pior, pra não ver os malucos republicanos voltando ou permanecendo na Casa Branca.

E o meu medo é justamente porque mesmo o pior governo da nossa história tem tudo pra chegar agora nesse marco dos 48%, que o desgraçado direitista do Aécio já chegou 8 anos atrás. É uma loucura, mas é Brasil, é o regime político dos ricos, onde eles tem uma série de fatores pra manipular o eleitorado e pra mexer ideologicamente com a cabeça da população. 

Então o que seria uma polarização esquerda x direita se encaminha pra polarização extrema direita x centro-direita, ou centro. De esquerda não vai ser. O Lula vai governar acuado pelo sistema, com a sombra do Alckmin, do mercado, do centrão, do imperialismo, etc. Tomara que ele não ceda pras privatizações. Se estancar a sangria das privatizações, já está ótimo. 

Mas e o que será do bolsonarismo, este fenômeno neofascista assustador que deixaram se gestar no Brasil? O Xandão vai colocar o genocida atrás das grades? O STF vai pegar as maracutaias da milícia? Não sabemos. Se sim, aí o movimento reduzirá bastante, dando ensejo para uma nova conformação do bloco direitista. Se não, aí a coisa se consolida nessa polarização muito semelhante à americana. 

E isso seria extremamente deletério para o Brasil. 

Temos também que ver como vai evoluir a direção política pós Lula. O homem já disse que não será candidato à reeleição em 26. Outra liderança surgirá. Muito provavelmente uma sucessão encaminhada pelo próprio Lula. Sem corrida política pelas bases dos partidos, o que também é sinal da apatia nos movimentos sociais e na esquerda como um todo. 

Ou seja, os prognósticos para o próximo período são ruins. Não existe a curto e médio prazo a expectativa de uma movimentação política em direção a um projeto emancipatório ou pelo menos de desenvolvimento nacional. 

Alguém poderá dizer: Ah, mas, Mário, o Lula vai apontar pra isso, com o Lula o Brasil vai ser gigante, se industrializar e tal. Creio que é muita dose de otimismo pensar assim. As coisas aqui são extremamente complexas, geoestrategicamente falando, das correlações de força entre classes, dos interesses econômicos em jogo, da ausência de uma direção política operária, da própria natureza política do PT, inclinada à conciliação, disposta a encurtar o programa pra contar com o consentimento do andar de cima. Enfim, o cenário é de disputa contra a extrema direita, pelo mínimo de dignidade e por um regime que se mantenha democrático apesar do tempo da economia ser um tempo de profundos ataques aos trabalhadores. Não temos horizontes políticos de emancipação. Não nos tem sido permitido um imaginário político revolucionário. Isso é sintomático nas juventudes, observem. Os jovens ou estão circunscritos às ideologias identitárias e movimentistas, com coletivos disso e daquilo, que não se entendem como classe trabalhadora que aspira ao poder político; ou estão por aí atrás de algum consolo existencial ancorado na forma mercadoria. 

São tempos tenebrosos pra nação.








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