Conto
Gente, dessa vez eu vou contar pra vocês a tragicômica história do tio Virgílio, marido da saudosa tia Ana. A nossa vida é de natureza tragicômica mesmo, né? E, pra fazer um jogo de palavras simpático e no qual vejo muito sentido, digo que é até bom a gente fazer graça com a desgraça. É mais ou menos o que todo mundo faz quando desabafa na timeline do Facebook, fazendo piada com alguma adversidade.
Na história do tio Virgílio e da família, a comicidade veio uns meses depois da tragédia, e trouxe consigo um ar de leveza diante da realidade que se impunha. Acontece que, depois de um avc, tio Virgílio começou a apresentar um quadro de violento alzheimer. O tio foi esquecendo das pessoas e parando de falar. Em pouco tempo, seu vocábulo se reduziu a quatro palavras. Na verdade três; a quarta palavra era uma abreviação. E era tudo palavrão. Tio Virgílio só dizia "caralho", "cacete", "porra" e "orra".
Eu não consigo lembrar da história do tio sem lembrar do conceito de jogos de linguagem do Wittgenstein. O filósofo trabalhava tentando desconstruir a ideia de função designativa da linguagem, de que toda palavra corresponderia a um objeto no mundo. Wittgenstein defendia a tese de que as palavras tem significado de acordo com o meio em que são empregadas.
Tio Virgílio, depois do avc, passou a se valer de apenas um restrito e indecoroso jogo de linguagem. Óbvio que um idoso enfermo nem precisa de muito vocabulário. Em casa, na companhia de familiares, numa vida restrita a poucos movimentos, quase sempre monótonos, a linguagem não é algo que faça tanta diferença.
O curioso da história é que tio Virgílio perdeu a capacidade de articular palavra mas não perdeu o costume de falar palavrão, e passou a empregar os palavrões pra todas as ocasiões.
Tia Ana, por exemplo, chegava com o bule de café e o marido soltava um comentário. Se o café tivesse demorado muito, o tio soltava um "cacete", com voz frágil mas autoritária. Se o café estivesse muito quente, soltava um "porra", como se a xícara lhe queimasse os dedos. Se o café estivesse amargo, era um "caralho", compassado e acompanhado de sobrancelhas cerradas.
A molecada se divertia. Tia Ana fazia um ar de reprovação mas se resignava. Era uma mulher sem muitos moralismos. Minha impressão é de que ela ficava chateada pelo fato do tio ser ranzinza, e não pelos palavrões em si. E, no fim das contas, tudo virava gozação, como aquela turma que via a Dercy Gonçalves falando um palavrão atrás do outro na tv e se esborrachava de rir.
_Orra!, dizia o tio após uma colherada no bolo de cenoura da tia.
Tio Virgílio morreu falando o que era estritamente necessário. Reclamava do café pelando mas sabia reconhecer o virtuoso bolo da tia. Lembro sempre disso ao falar do tio, além do Wittgenstein. Não tem jeito, a vida é tragicômica.
sexta-feira, 21 de julho de 2017
domingo, 9 de julho de 2017
Educar as massas para a resistência
Se o Brasil fosse um país sério, o Edir Macedo estaria preso e condenado à prisão perpétua, e o Aécio já teria sido deposto do cargo no senado e pego uns bons anos de cadeia. Mas não, aqui o regime burguês degenerado é tão descarado que esses e outros descalabros passam e a vida segue mais ou menos como se nada tivesse acontecido.
Falo isso por dois fatos que encontraram repercussão na mídia essa semana. O primeiro foi que a Igreja Universal completou 40 anos e um número grande de políticos e ministros de estado foram ao templo de Salomão puxar o saco dos magnatas enganadores de gente simplória. E o segundo fato foi o Aécio sendo salvo no conselho de ética do senado após ter o mandato restabelecido por decisão monocrática do ministro Marco Aurélio, do STF.
Resumo da ópera, os picaretas estão mais tranquilos do que nunca. O grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo, como revelado no áudio vazado de Romero Jucá, estabeleceu no poder uma camarilha de golpistas usurpadores e mergulhou o país numa situação ainda mais desastrosa. Pois é, por pior que a situação esteja, sempre tem como piorar.
Outra nota da semana foi o cinismo de Temer, cinismo tão escandaloso que o mesmo, em viagem a Hamburgo, para a cúpula do G20, onde foi beijar as mãos dos chefetes imperialistas, respondeu a jornalistas que não há crise no Brasil. Vejam só a que ponto chegamos: três anos consecutivos de recessão, desemprego na casa dos 13%, a miséria social voltando à tona violentamente, e o crápula vem com uma conversa dessa! Disse aos jornalistas que a inflação está caindo.
Esqueceu de dizer que o cenário é de deflação, ou seja, os preços estão caindo porque não há consumo. O poder de compra do povo foi reduzido a níveis baixíssimos e a indústria é obrigada a reduzir os preços na tentativa de desaguar a produção. Os preços caem, mas os capitalistas não lucram como desejam e tendem a demitir trabalhadores pra enxugar gastos e manter alguma taxa de lucro.
Enquanto isso, a reforma trabalhista caminha no congresso nacional, a despeito da completa ilegitimidade do governo golpista e dos parlamentares comprados pela banca capitalista. E o trabalhador brasileiro se vê prestes a perder direitos historicamente conquistados na CLT, ao passo que a reforma da previdência também avança pra surrupiar direitos.
Ou seja, trabalhador no Brasil contribui com impostos e não recebe nunca a contrapartida em serviços básicos. Saúde, educação, moradia, tudo anda pela hora da morte. E por falar em morte, muitos chegarão lá sem aposentadoria, numa velhice de privações e dificuldades.
Metade do orçamento da união sendo drenado para a farra dos rentistas, uma bolha imobiliária sempre na iminência de arrebentar com a economia, juros escorchantes sobre o povo pra garantir os lucros exorbitantes dos banqueiros... Tudo isso e os capitalistas não se dão por satisfeitos!
A desigualdade social aumenta e a espoliação fica mais descarada. Situação extremamente delicada a do trabalhador brasileiro. O mesmo anda apático, desesperançoso com a burocracia sindical que não se mobiliza e que muitas vezes cede descaradamente aos patrões. Essa grave e desastrosa conjuntura exige intervenção firme da esquerda revolucionária, resoluto propósito das forças progressistas no sentido de oferecer aos trabalhadores uma educação contra - hegemônica e emancipatória. Porque não há como depositar esperança nas instituições falidas ou esperar reverter os atuais reveses por dentro do regime de poder que está colocado.
A classe trabalhadora necessita de uma direção capaz de apontar para um horizonte revolucionário e de articular uma incessante intervenção no campo da comunicação e da educação das massas. Porque o ensino público tem sido propositadamente desmantelado pelos gerentes de plantão do capitalismo putrefato, a imprensa burguesa investe covardemente contra nossa juventude, pavimentando o caminho da reação com desinformação, alienação, fetiches ideológicos da pós - modernidade e todo tipo de lixo disseminado pela indústria cultural.
O caminho da revolução passa inexoravelmente pelo combate claro e objetivo a essa imprensa venal e tudo que ela representa, denunciando sua íntima ligação ao capital especulativo.
Não é tempo de esmorecimento, apesar de tamanhas desgraças, e como nos querem fazer crer os ideólogos do lado de lá. A história não acabou. O tempo é de resistência e trabalho pesado de conscientização. E vamos à luta!
Falo isso por dois fatos que encontraram repercussão na mídia essa semana. O primeiro foi que a Igreja Universal completou 40 anos e um número grande de políticos e ministros de estado foram ao templo de Salomão puxar o saco dos magnatas enganadores de gente simplória. E o segundo fato foi o Aécio sendo salvo no conselho de ética do senado após ter o mandato restabelecido por decisão monocrática do ministro Marco Aurélio, do STF.
Resumo da ópera, os picaretas estão mais tranquilos do que nunca. O grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo, como revelado no áudio vazado de Romero Jucá, estabeleceu no poder uma camarilha de golpistas usurpadores e mergulhou o país numa situação ainda mais desastrosa. Pois é, por pior que a situação esteja, sempre tem como piorar.
Outra nota da semana foi o cinismo de Temer, cinismo tão escandaloso que o mesmo, em viagem a Hamburgo, para a cúpula do G20, onde foi beijar as mãos dos chefetes imperialistas, respondeu a jornalistas que não há crise no Brasil. Vejam só a que ponto chegamos: três anos consecutivos de recessão, desemprego na casa dos 13%, a miséria social voltando à tona violentamente, e o crápula vem com uma conversa dessa! Disse aos jornalistas que a inflação está caindo.
Esqueceu de dizer que o cenário é de deflação, ou seja, os preços estão caindo porque não há consumo. O poder de compra do povo foi reduzido a níveis baixíssimos e a indústria é obrigada a reduzir os preços na tentativa de desaguar a produção. Os preços caem, mas os capitalistas não lucram como desejam e tendem a demitir trabalhadores pra enxugar gastos e manter alguma taxa de lucro.
Enquanto isso, a reforma trabalhista caminha no congresso nacional, a despeito da completa ilegitimidade do governo golpista e dos parlamentares comprados pela banca capitalista. E o trabalhador brasileiro se vê prestes a perder direitos historicamente conquistados na CLT, ao passo que a reforma da previdência também avança pra surrupiar direitos.
Ou seja, trabalhador no Brasil contribui com impostos e não recebe nunca a contrapartida em serviços básicos. Saúde, educação, moradia, tudo anda pela hora da morte. E por falar em morte, muitos chegarão lá sem aposentadoria, numa velhice de privações e dificuldades.
Metade do orçamento da união sendo drenado para a farra dos rentistas, uma bolha imobiliária sempre na iminência de arrebentar com a economia, juros escorchantes sobre o povo pra garantir os lucros exorbitantes dos banqueiros... Tudo isso e os capitalistas não se dão por satisfeitos!
A desigualdade social aumenta e a espoliação fica mais descarada. Situação extremamente delicada a do trabalhador brasileiro. O mesmo anda apático, desesperançoso com a burocracia sindical que não se mobiliza e que muitas vezes cede descaradamente aos patrões. Essa grave e desastrosa conjuntura exige intervenção firme da esquerda revolucionária, resoluto propósito das forças progressistas no sentido de oferecer aos trabalhadores uma educação contra - hegemônica e emancipatória. Porque não há como depositar esperança nas instituições falidas ou esperar reverter os atuais reveses por dentro do regime de poder que está colocado.
A classe trabalhadora necessita de uma direção capaz de apontar para um horizonte revolucionário e de articular uma incessante intervenção no campo da comunicação e da educação das massas. Porque o ensino público tem sido propositadamente desmantelado pelos gerentes de plantão do capitalismo putrefato, a imprensa burguesa investe covardemente contra nossa juventude, pavimentando o caminho da reação com desinformação, alienação, fetiches ideológicos da pós - modernidade e todo tipo de lixo disseminado pela indústria cultural.
O caminho da revolução passa inexoravelmente pelo combate claro e objetivo a essa imprensa venal e tudo que ela representa, denunciando sua íntima ligação ao capital especulativo.
Não é tempo de esmorecimento, apesar de tamanhas desgraças, e como nos querem fazer crer os ideólogos do lado de lá. A história não acabou. O tempo é de resistência e trabalho pesado de conscientização. E vamos à luta!
quinta-feira, 6 de julho de 2017
Inverno de São Paulo - haicai
Dia frio em São Paulo
Me pede chá com bolinhos
Grão, sabor, caminhos

O tradicional haicai japonês possui uma estrutura específica, ou seja, uma forma fixa composta de três versos (terceto) formados por 17 sílabas poéticas, ou seja: Primeiro verso: apresenta 5 sílabas poéticas (pentassílabo) Segundo verso: apresenta 7 sílabas poéticas (heptassílabo) Terceiro verso: apresenta 5 sílabas poéticas (pentassílabo)
Me pede chá com bolinhos
Grão, sabor, caminhos

O tradicional haicai japonês possui uma estrutura específica, ou seja, uma forma fixa composta de três versos (terceto) formados por 17 sílabas poéticas, ou seja: Primeiro verso: apresenta 5 sílabas poéticas (pentassílabo) Segundo verso: apresenta 7 sílabas poéticas (heptassílabo) Terceiro verso: apresenta 5 sílabas poéticas (pentassílabo)
Um dia depois de conhecer Adelgício
Um dia depois de conhecer Adelgício,
Me lembrava ainda zombeteiro do nome de gnomo
Achava que a figura simpática
Não merecia alcunha mais bisonha
E risonho me dava conta da rima com meretrício
Um dia depois de conhecer Adelgício, o poeta de feições contrastantes
Hércules Quasímodo de pele de
Nascituro e corpete de sertanejo miúdo,
Me lembrava satisfeito da comida repartida
Eu que prostituía alguma verve, numa montanha pop, faminto,
Aceitaria pão por instinto, e ganhei também um amigo
Foi um pôr-do-sol soberbo que trouxe consigo
A sorte de um singular encontro
Até as pedras se encontram, diria o matuto mineiro
E os malucos também, acrescentaria em tom jocoso e certeiro
No topo de um desfiladeiro, em escarpas
Artísticas pinceladas por mãos divinas
Ou em corredor de hospício, trecho
Comum a mochileiros outsiders
É mais ou menos isso que penso agora.
Foi o que pensei um dia depois de conhecer Adelgício
Poema em resposta a meu amigo Adel, que me tornou personagem de um poema seu. Segue o poema logo abaixo.
No dia em que conheci Mário Medina
Todas as fadas dormiam
Os lobos andavam aflitos com a
Novidade
Haviam dois pássaros de aço
Sobrevoando o Japão
Na América do Norte um corpo foi
Deixado na calçada
E no Ártico um esquimó contava uma
Lenda à família
No dia em que bebemos café em São
Tomé
O papa rezou solitário um disco de Pink
Floyd
Uma menina descobriu-se vegetariana na Rússia
Nesse dia, eu plantei uma cruz na
Mochila
E carreguei a paz no espelho da madrasta
Tudo isso ocorria, e ele, o Mário Medina,
Nem desconfiava como era conduzido o
Fio da narrativa
Adel Alves

Me lembrava ainda zombeteiro do nome de gnomo
Achava que a figura simpática
Não merecia alcunha mais bisonha
E risonho me dava conta da rima com meretrício
Um dia depois de conhecer Adelgício, o poeta de feições contrastantes
Hércules Quasímodo de pele de
Nascituro e corpete de sertanejo miúdo,
Me lembrava satisfeito da comida repartida
Eu que prostituía alguma verve, numa montanha pop, faminto,
Aceitaria pão por instinto, e ganhei também um amigo
Foi um pôr-do-sol soberbo que trouxe consigo
A sorte de um singular encontro
Até as pedras se encontram, diria o matuto mineiro
E os malucos também, acrescentaria em tom jocoso e certeiro
No topo de um desfiladeiro, em escarpas
Artísticas pinceladas por mãos divinas
Ou em corredor de hospício, trecho
Comum a mochileiros outsiders
É mais ou menos isso que penso agora.
Foi o que pensei um dia depois de conhecer Adelgício
Poema em resposta a meu amigo Adel, que me tornou personagem de um poema seu. Segue o poema logo abaixo.
No dia em que conheci Mário Medina
Todas as fadas dormiam
Os lobos andavam aflitos com a
Novidade
Haviam dois pássaros de aço
Sobrevoando o Japão
Na América do Norte um corpo foi
Deixado na calçada
E no Ártico um esquimó contava uma
Lenda à família
No dia em que bebemos café em São
Tomé
O papa rezou solitário um disco de Pink
Floyd
Uma menina descobriu-se vegetariana na Rússia
Nesse dia, eu plantei uma cruz na
Mochila
E carreguei a paz no espelho da madrasta
Tudo isso ocorria, e ele, o Mário Medina,
Nem desconfiava como era conduzido o
Fio da narrativa
Adel Alves

quinta-feira, 18 de maio de 2017
Enfia a graduação no cú!
No meu primeiro ano de faculdade de filosofia na Unifesp, escrevi e publiquei um artigo que causou estremecimentos no campi. O título era ''Enfia o doutorado no cú''. Texto publicado numa rede social da época e que se perdeu. A frase brilhante, contudo, não foi fruto da minha criatividade, mas inspirada por uma pixacão no muro externo da faculdade. Usei a frase impactante pra chamar atenção a um texto que visava criticar o peleguismo dos professores.
O movimento estudantil fervilhava, com greves, ocupações, repressão da reitoria e da direção local, enfim, um momentto turbulento, no qual arregaçávamos as mangas e íamos atrás de nossos direitos. Entráramos numa universidade federal e não tínhamos sequer uma biblioteca que prestasse, quanto mais estrutura como bandejão e moradia.
Agora acabo de sair da cerimônia da minha colação de grau, uma cerimônia muito simples, pouquíssimo solene e bem rápida. Não tô nem acreditando que conclui o ensino superior. E devo confessar que estou contente. Não porque julgue grande coisa me formar na faculdade - qualquer idiota tem diploma superior hoje em dia - mas porque isso é uma conquista pessoal considerável diante dos contratempos que tive que enfrentar no caminho, tais como doença e trancamento de matrícula. Fiquei por mais de dois anos distante dos bancos da universidade e, quando retornei, ainda encontrei muita dificuldade pra enfrentar os obstáculos burocráticos.
Nunca fui muito afeito à disciplina e, depressivo e sem ânimo, tive que superar embaraços em decorrência de minha personalidade difícil e a natural resistência de um ambiente que pode ser muito hostil a alguém que se engaja politicamente e levanta a bandeira do comunismo.
Fui preso duas vezes por atuar no movimento estudantil. Primeiro em uma ocupação de reitoria e depois num piquete de greve. Apanhei da polícia, fui algemado e passei longas horas detido, coisa que me deixou muito esmorecido à época.
Mas enfim, hoje colo grau. E impossível seria não lembrar dos três colegas que perdi na filosofia. Os três se suicidaram. Os três eram jovens, negros e pobres. A gente sempre corre o risco de glamourizar o suicídio, coisa muita séria, mas penso que os três foram vítimas de um sistema perverso e sufocante, e, mesmo discordando da decisão que tomaram, penso que não sou ninguém pra julgar, e acredito compreendê-los. Gostaria de dedicar essa formatura a eles. Lúis Carlos, Tilene e Tiago. Que Deus os tenha.
E espero continuar na militância por um mundo mais justo e igualitário. Optei por ser uma pessoa letrada, coisa que não me faz nem melhor nem pior que ninguém, mas que me faz ter uma visão de mundo e uma leitura da realidade peculiares. Pretendo continuar estudando, e, como intelectual orgânico, me esforçando pra fazer alguma diferença pra melhor nessa porra toda. A graduação por si só não me valeria muito. Aos que se julgam importantes por um diploma na parede, segue a dica do título.
Amar e mudar as coisas me interessa mais!
Belchior, Alucinação, 1976

O movimento estudantil fervilhava, com greves, ocupações, repressão da reitoria e da direção local, enfim, um momentto turbulento, no qual arregaçávamos as mangas e íamos atrás de nossos direitos. Entráramos numa universidade federal e não tínhamos sequer uma biblioteca que prestasse, quanto mais estrutura como bandejão e moradia.
Agora acabo de sair da cerimônia da minha colação de grau, uma cerimônia muito simples, pouquíssimo solene e bem rápida. Não tô nem acreditando que conclui o ensino superior. E devo confessar que estou contente. Não porque julgue grande coisa me formar na faculdade - qualquer idiota tem diploma superior hoje em dia - mas porque isso é uma conquista pessoal considerável diante dos contratempos que tive que enfrentar no caminho, tais como doença e trancamento de matrícula. Fiquei por mais de dois anos distante dos bancos da universidade e, quando retornei, ainda encontrei muita dificuldade pra enfrentar os obstáculos burocráticos.
Nunca fui muito afeito à disciplina e, depressivo e sem ânimo, tive que superar embaraços em decorrência de minha personalidade difícil e a natural resistência de um ambiente que pode ser muito hostil a alguém que se engaja politicamente e levanta a bandeira do comunismo.
Fui preso duas vezes por atuar no movimento estudantil. Primeiro em uma ocupação de reitoria e depois num piquete de greve. Apanhei da polícia, fui algemado e passei longas horas detido, coisa que me deixou muito esmorecido à época.
Mas enfim, hoje colo grau. E impossível seria não lembrar dos três colegas que perdi na filosofia. Os três se suicidaram. Os três eram jovens, negros e pobres. A gente sempre corre o risco de glamourizar o suicídio, coisa muita séria, mas penso que os três foram vítimas de um sistema perverso e sufocante, e, mesmo discordando da decisão que tomaram, penso que não sou ninguém pra julgar, e acredito compreendê-los. Gostaria de dedicar essa formatura a eles. Lúis Carlos, Tilene e Tiago. Que Deus os tenha.
E espero continuar na militância por um mundo mais justo e igualitário. Optei por ser uma pessoa letrada, coisa que não me faz nem melhor nem pior que ninguém, mas que me faz ter uma visão de mundo e uma leitura da realidade peculiares. Pretendo continuar estudando, e, como intelectual orgânico, me esforçando pra fazer alguma diferença pra melhor nessa porra toda. A graduação por si só não me valeria muito. Aos que se julgam importantes por um diploma na parede, segue a dica do título.
Amar e mudar as coisas me interessa mais!
Belchior, Alucinação, 1976

quarta-feira, 10 de maio de 2017
Vamos aos fatos
Não adianta tentar pegar o Lula em contradição, dar mandado de condução coercitiva, enfim, todo esse jogo de cena. Isso só serve pra espetacularização da mídia golpista. Se não tem provas, não tem ilícito. Qualquer Zé Mané sabe disso.
Agora, e isso é pertinente apontar, pra Sérgio Moro isso não é problema. O congresso nacional votou um impeachment sem crime de responsabilidade; quer maior desconsideração da lei e do direito que essa?! A própria LavaJato é uma sucessão de violações aos direitos. Esses caras vão dar um jeito de pegar o Lula. Sem provas, só com convicção. E o episódio em questão vai entrar para um longa lista de irregularidades de um poder que em tese seria o maior responsável por zelar pelo pleno cumprimento da justiça.
Pra ser juiz é só se formar bacharel em direito e prestar concurso público, né. É simples, sem eleição, sem ter de se submeter ao crivo do voto. O sujeito vira um semi-deus, excelência. E pode vender votos, sentenças, pode ajudar o partido do coração e pode aderir ao fascismo da vulgaridade coxinha. Aí vira herói do brasileiro médio reacionário e burro. Pronto. Pode até sair candidato a presidente.
O duro é ver que os petistas religiosos acham que dá pra superar isso elegendo Lula ano que vem. Mas e se não tiver eleição ano que vem? E se queimarem a candidatura do cara? Tá ok, se ainda sim ele for eleito, qual será sua agenda na presidência? A petistada acredita mesmo que Lula guinaria à esquerda, coisa que não fez em oito anos como presidente?
Quem acredita em Moro é estúpido, verdade. Mas quem acredita em Lula tá quase lá. Não dá pra abdicar da inteligência e encapar o queremismo, o messianismo ou qualquer destas soluções rasas. É preciso ir à raiz dessa desgraça toda. E essa desgraça toda é sistêmica, estrutural. Só se muda por fora. Não é possível regenerar por dentro.
A esquerda moralista também não aprendeu essa lição ainda. Se dizem socialistas mas estão muito confortáveis com suas cadeiras no parlamento burguês. Só o socialismo, o comunismo, pra ser bem claro, trará solução definitiva. Sem fetiches, sem meias verdades.
*Mário Medina / Tendência Revolucionária - Psol
Agora, e isso é pertinente apontar, pra Sérgio Moro isso não é problema. O congresso nacional votou um impeachment sem crime de responsabilidade; quer maior desconsideração da lei e do direito que essa?! A própria LavaJato é uma sucessão de violações aos direitos. Esses caras vão dar um jeito de pegar o Lula. Sem provas, só com convicção. E o episódio em questão vai entrar para um longa lista de irregularidades de um poder que em tese seria o maior responsável por zelar pelo pleno cumprimento da justiça.
Pra ser juiz é só se formar bacharel em direito e prestar concurso público, né. É simples, sem eleição, sem ter de se submeter ao crivo do voto. O sujeito vira um semi-deus, excelência. E pode vender votos, sentenças, pode ajudar o partido do coração e pode aderir ao fascismo da vulgaridade coxinha. Aí vira herói do brasileiro médio reacionário e burro. Pronto. Pode até sair candidato a presidente.
O duro é ver que os petistas religiosos acham que dá pra superar isso elegendo Lula ano que vem. Mas e se não tiver eleição ano que vem? E se queimarem a candidatura do cara? Tá ok, se ainda sim ele for eleito, qual será sua agenda na presidência? A petistada acredita mesmo que Lula guinaria à esquerda, coisa que não fez em oito anos como presidente?
Quem acredita em Moro é estúpido, verdade. Mas quem acredita em Lula tá quase lá. Não dá pra abdicar da inteligência e encapar o queremismo, o messianismo ou qualquer destas soluções rasas. É preciso ir à raiz dessa desgraça toda. E essa desgraça toda é sistêmica, estrutural. Só se muda por fora. Não é possível regenerar por dentro.
A esquerda moralista também não aprendeu essa lição ainda. Se dizem socialistas mas estão muito confortáveis com suas cadeiras no parlamento burguês. Só o socialismo, o comunismo, pra ser bem claro, trará solução definitiva. Sem fetiches, sem meias verdades.
*Mário Medina / Tendência Revolucionária - Psol

sexta-feira, 21 de abril de 2017
Os cães ladram e a caravana passa
Nenhum político profissional é insubstituível no tabuleiro da democracia burguesa. Essas figuras são marionetadas por força muito superior ao que representam suas personalidades e trajetórias. O grande capital é o dono da situação, é quem paga a banda e escolhe a música. Ninguém está imune a ser corrompido.
A grande maioria dos atores políticos entra nesse mundo justamente pra isso. Não se trata de dever cívico, vocação para a política. Trata - se de interesses pessoais, altos salários, oportunidades a perder de vista num mundo de lobbys e propinas. O sujeito presta um serviço de testa de ferro, de laranja, porque é o capital que está acima de tudo, que manda e desmanda, que coopta elementos para dispensá - los quando assim o aprouver.
Isso aconteceu com Eduardo Cunha no ano passado, pouco depois de ter sido um dos principais articuladores do golpe; e isso acontece agora com José Serra, por exemplo, poucos meses depois de articular a entrega do pré - sal às corporações estrangeiras. Agora o sujeito é queimado em cadeia nacional por delatores da Odebrecht e em pouco tempo será mais um pária, um renegado, e cederá terreno a outro entreguista a serviço dos interesses imperialistas. Como Alckmin e Aécio caminham no mesmo rumo do descarte, o mais provável é que o próximo a ser convocado à presidência seja João Dória, bem ao estilo outsider, como Trump nos EUA. E virá com aquela conversa fiada de que é gestor e não político. E vai querer privatizar o que encontrar pela frente.
Está claro como em dia de sol aberto e céu limpo que o plano do imperialismo é queimar a candidatura de Lula para abrir caminho a alternativa abertamente neoliberal, pra avançar no ajuste fiscal e rifar conquistas sociais. Tudo para que o mercado seja escancarado às corporações americanas e que o erário público brasileiro continue religiosamente destinado ao rentismo.
Moral da história: muda - se os picaretas profissionais que encenam a farsa democrática mas a picaretagem é a mesma de sempre. Por isso a importância de apontarmos para um horizonte estratégico revolucionário. Só a revolução e o socialismo porão a termo essa lógica perversa para em seu lugar implantar algo diametralmente oposto. Por isso a importância de romper com o petismo e tudo o que ele representa, romper com os reformismos e ir na raiz de todo esse sistema de injustiças.
A grande maioria dos atores políticos entra nesse mundo justamente pra isso. Não se trata de dever cívico, vocação para a política. Trata - se de interesses pessoais, altos salários, oportunidades a perder de vista num mundo de lobbys e propinas. O sujeito presta um serviço de testa de ferro, de laranja, porque é o capital que está acima de tudo, que manda e desmanda, que coopta elementos para dispensá - los quando assim o aprouver.
Isso aconteceu com Eduardo Cunha no ano passado, pouco depois de ter sido um dos principais articuladores do golpe; e isso acontece agora com José Serra, por exemplo, poucos meses depois de articular a entrega do pré - sal às corporações estrangeiras. Agora o sujeito é queimado em cadeia nacional por delatores da Odebrecht e em pouco tempo será mais um pária, um renegado, e cederá terreno a outro entreguista a serviço dos interesses imperialistas. Como Alckmin e Aécio caminham no mesmo rumo do descarte, o mais provável é que o próximo a ser convocado à presidência seja João Dória, bem ao estilo outsider, como Trump nos EUA. E virá com aquela conversa fiada de que é gestor e não político. E vai querer privatizar o que encontrar pela frente.
Está claro como em dia de sol aberto e céu limpo que o plano do imperialismo é queimar a candidatura de Lula para abrir caminho a alternativa abertamente neoliberal, pra avançar no ajuste fiscal e rifar conquistas sociais. Tudo para que o mercado seja escancarado às corporações americanas e que o erário público brasileiro continue religiosamente destinado ao rentismo.
Moral da história: muda - se os picaretas profissionais que encenam a farsa democrática mas a picaretagem é a mesma de sempre. Por isso a importância de apontarmos para um horizonte estratégico revolucionário. Só a revolução e o socialismo porão a termo essa lógica perversa para em seu lugar implantar algo diametralmente oposto. Por isso a importância de romper com o petismo e tudo o que ele representa, romper com os reformismos e ir na raiz de todo esse sistema de injustiças.
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