Liguei a TV na Canção Nova hoje e vi que tava passando um "debate"sobre educação de crianças e jovens. Me detive na frente do aparelho e fiquei ouvindo a argumentação do convidado e do apresentador do programa; o convidado, um padre, e o apresentador, um escritor do tipo apologeta, muito conhecido no meio católico.
Quem conhece a TV Canção Nova sabe que se trata de uma mídia que prima por uma defesa aguerrida de ideias conservadoras, com um discurso de forte tom moralista.
Pois bem, vira e mexe a emissora faz uns programas pra descer o cacete em temáticas da esquerda e de movimentos de minoria, pra criticar projetos como discussão de gênero nas escolas e pra convencer seus telespectadores de que a família brasileira precisa estar atenta à manutenção de sua moral e bons costumes.
Então eles ficam repetindo a velha toada reacionária de que há doutrinação de esquerda nas escolas, de que existe um poderoso lobby gay por detrás de projetos como a união civil para homossexuais, etc. No entanto, sempre ocultam o fato do próprio congresso nacional brasileiro ser tomado por lobbys evangélicos.
No programa que passava assim que liguei a TV, o padre reafirmava tudo isso e dizia que os pais precisam tomar cuidado para que os filhos não sejam submetidos a tal "doutrinação", para não se tornarem, as crianças, vítimas de uma ideologia oposta ao que a igreja prega.
E o padre elaborava seu raciocínio como se não fosse ele próprio detentor de uma ideologia. Ora, o que é todo esse discurso senão ideologia também? Então só vale a ideologia quando ela é do lado deles? Isso pode ser falta de inteligência, mas também pode ser cinismo. E entre pessoas com certo grau de instrução, gente que fez faculdade, tende muito mais à hipocrisia que à ignorância.
E à pessoas com ética suficiente para não envolver a educação das crianças em querelas morais, não cabe silenciar diante da ofensiva conservadora nas instituições educacionais.
Não é nada democrático idealizar uma escola em que só haja espaço para uma ideologia, em que as outras sejam relegadas ao ostracismo, ao índex do que é vetado a priori.
Muito tem se discutido sobre isso agora que os defensores da "Escola sem partido" se lançam às câmaras parlamentares objetivando a todo custo impor um retrógrado modelo escolar.
Eu, particularmente, fico muito chateado ao constatar essa movimentação geral. Primeiro porque como militante de esquerda me indigno de ver o avanço de ideias tão atrasadas; e segundo porque sou católico, um católico progressista e democrático, e me ressinto de ver, que, a despeito do espírito progressivo e inclusivo do Papa Francisco, tão enfático na defesa de um mundo mais compreensivo, a direita conservadora ainda nada de braçadas dentro da santa sé e nas igrejas mundo afora, inclusive nesse terceiro mundo cravejado por tamanho subdesenvolvimento e miséria. E onde a miséria material predomina, as ideias miseráveis encontram mais saída.
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