domingo, 19 de abril de 2020

Que mundo maluco esse!



Gente, eu não sei vocês, mas eu acho maluco esse mundo que a gente vive. Eu praticamente não me surpreendo mais com as coisas. Aprendi que a gente não pode confiar nas pessoas, ou esperar que exista racionalidade nas relações sociais em geral, ou mesmo que o mundo vá melhorar progressivamente, assim, sem eventuais movimentos de grandes choques e contradições . O mundo é essa loucura mesmo que a gente tá vendo.

E toda geração vai passar por momentos decisivos como o nosso. Pode ser uma grande guerra, com grande destruição e terror, uma pandemia terrível, uma hecatombe ambiental, enfim...

Mas a vida, apesar de tudo, segue seu fluxo. Com adaptações, com novidades, mas segue seu fluxo. A gente precisa se alimentar, precisa comprar comida, precisa metabolizar da melhor forma possível, não só a comida, mas a vida, o fluxo dos pensamentos, o sono, o amor, o ritmo do corpo. De modo que a vida segue (às vezes quase que maquinalmente) a sua trilha.

Eu, por exemplo, encontrei na atividade física a válvula de escape necessária pra lidar com a adversidade desses dias. Em geral eu corro no parque, duas vezes por semana, pra manter o peso, visto que engordo com facilidade. Por conta do covid, fecharam o parque aqui perto de casa. Então eu corro na rua. Corro em um bairro vizinho aqui. Numa ladeira. Tem um mirante lá em cima. Lugar interessante. É recompensador chegar lá em cima vivo...rs... É recompensadora a vista de lá de cima. Eu brinco dizendo que subo a montanha.

Pra chegar lá eu corro por uma grande avenida da cidade, e passo por um bairro residencial. É interessante correr pela cidade e observar o movimento, as pessoas. Me dá um parâmetro bom do estado de espírito coletivo. Nas portas dos bares, nas praças, na fumaça de churrasco que vem de algumas casas em sábados à noite. Eu sempre corro de noite. No mirante jovens fumam maconha e namoram, enquanto observam as luzes da cidade. Nos dias mais esvaziados a rua é dos motoqueiros, que passam em alta velocidade, em bando, donos das vias. Quase fui atropelado algumas vezes nas últimas semanas.

Observo os bichos. Muitos gatos. E eu adoro os gatos. Perambulam tranquilamente na noite. Brinco com eles. E com os cachorros de rua, com os cães de guarda de alguns estabelecimentos maiores. Falar com os bichos me faz bem.

Subo exausto a derradeira ladeira da corrida, ladeira da rua detrás da minha casa. É o fim do meu cooper. Venho um quarteirão andando, recuperando o ar. O suor escorre pelas têmporas. Passo por um carro do qual vem um gemido de mulher. Olho pro lado, é um casal. A mulher no banco reclinado do carona, com as pernas abertas. O rapaz no banco do motorista inclinado sobre ela, chupando a moça. A mulher toma um susto. Encabulado eu me viro e sigo meu caminho.

Entro no condomínio, comento com o camarada porteiro. Sexo oral faz bem pra saúde. Será que os motéis estão fechados por causa da quarentena? Não sabemos.

Subo as escadas e ouço uma vizinha cantando alto um mantra que me parece hindu. Descobri há alguns meses que tenho essa vizinha mística. Todos os dias, por volta da meia noite, pasmem, essa criatura começa a cantar o tal mantra. Me lembro que de tarde ela estava cantando música evangélica. Brasileiro gosta de sincretismo religioso, né. Eu sei. Isso aconteceu ontem. Hoje de tarde ela tava se esbaldando com pagode dos anos 90 e algumas coisas de sertanejo universitário. O som alto me incomoda. Não tanto os ouvidos. É mais pelo mal gosto mesmo.

Enquanto deploro o gosto musical da figura, tomo café e leio que os bolsonaristas de São Paulo fecharam a Paulista em manifestação contra o Dória, e a favor de um golpe militar, porque segundo eles o congresso e o STF estão atrapalhando o Jair Capiroto de governar.

Ontem vi o episódio de uns católicos tresloucados que foram ao jardim do Alvorada pra presentear o homem com um quadro de Jesus misericordioso. Um quadro muito bonito, pintado originalmente por Santa Faustina, mística que tinha visões de Jesus. Hoje se celebra a festa da divina misericórdia. Acontece sempre no primeiro domingo depois do domingo da Páscoa.
Que Jesus tenha piedade da gente. Essa Páscoa tá sendo melancólica...

O negócio é rir dos malucos, se enternecer com os bichos, e rezar... Rezar pra Jesus que escuta a oração do pobre, do oprimido, dos condenados da terra. Rezem, camaradas. Encontrem uma montanha pra subir. Eu tô quase fazendo como o cabo Daciolo. Lembram dele? Vou subir o monte pra orar.




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