sábado, 22 de agosto de 2020

A versão populista do Bozo / Um ardiloso arranjo das elites

 


Bozo se estabilizou no populismo. A versão fascista iria levá-lo ao impeachment em tempo recorde. Foi obrigado pelas condições a se reposicionar. 


A sociedade brasileira, a despeito desse terço fascista que a gente descobriu que tem, não tá disposta a aceitar um outro vôo bonapartista. Há tentativas nesse sentido por parte do capital atrófico. Mas a resistência da sociedade impossibilita essa política da maldade no grau máximo. As elites se bateram tanto nesse um ano e meio de governo que acabaram chegando a um meio termo. A banca faz a festa mas deixa o Bozo liberar um pixuleco pra conter a fúria da massa. E aí a gente vê essas cenas miseráveis de pessoas se acotovelando em portas de loja de eletrodomésticos, ou lotando os shoppings, ou formando filas intermináveis nas calçadas das agências da Caixa ou das lotéricas país afora. 


A lógica é a mesma do Bolsa Família. Distribuem umas migalhas a pretexto de girar a economia, mas quem lucra mesmo são os bancos e os grandes lojistas. Esse dinheiro dura pouco na mão dos pobres, mas ajuda a amortecer o impacto da miséria e da desigualdade social. É uma maquiagem, uma política pra ludibriar sorrateiramente as camadas mais pauperizadas da população. A economia mesmo continua em frangalhos, com larga margem de desemprego, subemprego, etc. Carteira verde amarela, cortes nos direitos trabalhistas, perseguição aos servidores públicos, etc, etc. 


Uma política de destruição do patrimônio. Há resistência. A dilapidação só não é maior por conta dessa pequena resistência, que não é organizada da forma correta pra inviabilizar o governo, mas que consegue impor alguns limites civilizacionais. 


Bozo por sua vontade acabaria com tudo. Mas percebeu que pra se manter presidente precisa levar em fogo brando a situação. O rearranjo caiu no populismo. As instituições se equivalem em força. A correlação tende à estabilização. Rodrigo Maia e STF preferiram não levar adiante o impeachment. Deixaram passar a oportunidade. Certamente que há interesses poderosos por detrás. A política bolsonarista segue à risca a cartilha neoliberal. Realmente não há motivos pra uma interrupção agora que Bozo foi domesticado pelo cerco à rachadinha e aos filhos. Agora só resta a ele estabelecer uma maior base de apoio ao passo em que se entende com os donos do poder que marionetam Maia e STF. Eles chegam a um entendimento e é vida que segue. 


Pro povo brasileiro isso é extremamente negativo. Porque a médio e longo prazo esse arranjo político vai jogar o Brasil ainda mais na indigência. Não tem política de desenvolvimento, a privatização vem aí, a desindustrialização também, já não temos incentivo à tecnologia, etc. É um país sem rumo, destinado a um lugar de segunda linha na divisão internacional do trabalho, relegado a um papel marginal na geopolítica mundial. Um pária, uma espécie de Arábia Saudita dos trópicos, um quintalzão dos Estados Unidos. Sem soberania, sem progresso, sem grandeza, maltratando sua classe trabalhadora, superexplorando seu povo. 


A situação é realmente dramática. Pasma que a esquerda esteja praticamente inerte diante de uma tal conjuntura, sem sair às ruas, se apegando à alternativas jurídicas e parlamentares que já se sabem nulas. 


É preciso apresentar um programa de revolução brasileira, de organização popular, de resistência. Só a esquerda revolucionária poderá apontar um horizonte de rupturas com o que tá posto no Brasil de hoje.


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