domingo, 30 de agosto de 2020

Um bispo contra todas as cercas





No início desse mês de Agosto perdemos uma grande referência da teologia da libertação e dos direitos humanos no Brasil. Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da prelazia de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso. Aos 92 anos, tendo lutado muitos anos contra o Parkinson e a pressão alta, Casaldáliga faleceu na Santa Casa de Batatais, interior de São Paulo. A notícia de sua morte foi omitida pelos grandes meios de comunicação, mas tomou as redes sociais. Faço questão de deixar aqui uma pequena resenha de um excelente livro sobre a vida e as causas de Pedro. 


"Não poderia ser a vida de uma pessoa uma obra de arte?" E aqui cabe ainda lembrar que a estética aristotélica definia ser belo aquilo que encanta. Pedro gozou, sem dúvida, de uma vida encantadora. Uma verdadeira obra de arte.


Esse parágrafo acima é um trecho do livro "Um bispo contra todas as cercas. A vida e as causas de Pedro Casaldáliga, da Editora Vozes, escrito pela jornalista Ana Helena Tavares. Essa primeira frase do excerto é uma pergunta que Foucault faz em alguma parte de sua obra. Pergunta muito interessante. Excelente mote pra qualquer assunto referente à vida. 


De fato, a vida de uma pessoa deveria ser uma obra de arte. E se a vida ainda não se converteu em obra de arte é porque esse mundo, com seu modo de produção dominante, com seus sistemas econômico, político e social não permite que assim seja. E arrisco dizer que se a vida deste santo, Pedro Casaldáliga, foi uma obra de arte, uma vida encantadora, inspiradora, o foi por conta de suas firmes decisões que em tudo contrariaram a lógica desse mundo. Pedro foi um revolucionário. Ele mesmo se auto-classificava como revolucionário. Chamado de subversivo pelas forças da ditadura militar, pelos setores conservadores da sociedade, fazia questão de assumir. E acrescentava: Não só sou subversivo. Sou revolucionário. 


Vejam a coragem do homem, a firmeza de propósito. Pedro era um religioso. Padre da congregação dos claretianos. E se tornou bispo pouco tempo depois de chegar ao Brasil, para onde veio em missão após um período na África. Era de origem espanhola, mais precisamente da Catalunha; de um pequeno povoado próximo a Barcelona. 


Nascido numa família de pequenos produtores rurais, família tradicional, de pensamento reacionário, Pedro tomou outro caminho. Desde cedo se decidiu pelos pobres.


Foi no Brasil, já depois dos 50 anos de idade, que alçou um degrau na hierarquia da igreja, sendo promovido a bispo. Não queria aceitar o cargo. Foi convencido pelos amigos, que argumentavam que na condição de bispo, teria mais condições de seguir seu trabalho com os pobres. Ganhou visibilidade com seu trabalho junto aos povos indígenas e ribeirinhos da região do Araguaia, se indispôs com o regime militar nos anos de chumbo, quase foi expulso do país, ganhou projeção nacional e internacional. A cúpula da igreja brasileira o defendeu. O próprio papa à época, Paulo VI, mandou recado aos militares para que estes não tocassem em Pedro, que não admitiria que Pedro fosse alvo de hostilidades por parte do estado brasileiro.


E assim se tornou um dos principais nomes da nascente teologia da libertação, movimento que surgiu na igreja da América Latina e que dialoga com o marxismo. 


Pedro se colocava claramente contrário ao latifúndio, mesmo que este fosse produtivo. Há na Internet uma histórica entrevista de Casaldáliga ao programa Roda Viva, em que o bispo menciona essa opinião. 


Pedro, praticamente até o fim da vida, foi alvo de ameaças de morte por conta de sua indisposição com os grandes latifundiários da região amazônica. Havia na região uma terrível concentração de terra, com marginalização e miséria dos trabalhadores rurais, casos de trabalho escravo, torturas aos trabalhadores, mortes, etc. Uma situação realmente muito delicada. E Pedro nunca se calou, nunca se vergou diante das ameaças. 


Em determinada ocasião, dentro de uma delegacia, onde reclamava a soltura de duas mulheres negras que sofriam tortura das autoridades, Pedro foi testemunha do assassinato do padre João Bosco Penido Burnier, que o acompanhava. Contrariado com a presença dos religiosos no distrito, um dos policiais o assassinou com um tiro na nuca. Acontece que o tiro não era para o padre Burnier, mas para Pedro. Só que, nas próprias palavras de Pedro, "o padre Burnier tinha mais pinta de bispo". Estava com um clérgima no pescoço, aquele colarinho que os padres usam. 


Pedro andava como um homem simples do povo, de chinelos de dedo. Não havia em seu visual deferências clericais. Trazia um anel de tucum na mão, ao invés do anel de bispo. Foi condição estipulada por ele na nomeação a bispo. Não queria trazer consigo nenhum sinal de poder. Seu báculo de bispo foi um remo indígena.  Tinha uma concepção de igreja muito próxima do que tem agora o Papa Francisco. Defendia uma igreja pobre, que se misturasse no meio do povo, sem distinção, sem privilégios, parceira do povo trabalhador em seu cotidiano. 


Na sua casa em São Félix, uma casa simples, de paredes sem reboco, em nada parecida com um palácio episcopal, por muito tempo não teve nem geladeira. Se recusava a ter. Não queria ter em casa um eletrodoméstico que muitos ribeirinhos não tinham condições de ter. Muitos anos depois foi convencido pelo padre e pela freira que também moravam na casa. Era um homem democrático. Sabia ser voto vencido. Tinha profundo respeito pela opinião das pessoas, pela autonomia da comunidade. 


Embora bispo, nunca almejou conforto ou notoriedade. Coisas que são muito próprias aos bispos. Por exemplo, nunca aceitou ter ar condicionado em casa. Se refrescava com um ventilador em meio ao clima de altas temperaturas do Mato Grosso. Falou que quando morresse queria ser enterrado num cemitério Karajá às margens do rio Araguaia, entre um peão e uma prostituta.  


E assim aconteceu. Foi sepultado descalço, com uma estola (item litúrgico utilizado pelos padres) nicaraguense. Pedro foi defensor de primeira hora da revolução na Nicarágua. Esteve em Cuba, onde foi recebido pelo presidente Fidel Castro. Era um homem confessadamente de esquerda. Um santo dos nossos dias. 


Muito em breve será conhecido como São Pedro Casaldáliga dos indígenas e pobres. Patrono da floresta, dos rios, da libertação. E da poesia. Pedro foi exímio poeta. 


Tudo isso e mais um pouco está lá no livro da Ana Helena. Recomendo muito a leitura.

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Paulo Guedes acuado? / Paulo Guedes é só mais um detalhe da miséria brasileira




Bozo e Guedes representam o mesmo programa. Se o Guedes tá sendo apertado, é porque esse aperto passou pelo Bozo antes.


Não tem como os caras passarem incólumes por uma barbárie social como esta que estão engendrando. 


A diferença do Guedes pro Bozo é que não precisa de processo de impeachment pra tirar um ministro de estado. Aí ele paga o pato. Apesar de ser muito estimado pelo imperialismo e pela especulação. 


Que é o mesmo caso do Bozo. Se a coisa apertar, ele também vai embora, descartado. 


Ele percebeu que se não baixasse a bola ia dançar. Aí fez essa notória movimentação de ficar mais calado nas últimas semanas. Mas, reparem, arguido sobre os cheques da Michele, deu um coice no repórter e voltou a ser contestado. Tem que ver como que a coisa vai evoluir agora. 


Mas a gente tem que notar que ninguém no estado burguês tem cadeira cativa. Ainda mais em se tratando de Bozo. Trump tá pra ser descartado lá em cima. Os donos do poder, ao que parece, não são muito simpáticos aos fascistões. Não que os donos do poder não queiram baixar o cacete no povo. Mas é que o político de plantão deles tem que baixar o cacete ao passo em que simula uma certa conduta democrática. Como é o caso da chapa Biden/Kamala. 

Isso se aplica em escala global. O tacão de ferro do neoliberalismo contemporâneo conta com sutis (às vezes não tão sutis, porque as contradições tomam vulto) mecanismos ideológicos. E nessa toada eles seguem com a política de rapinar o povo. Queimam um ministro aqui, um presidente ali, trocam nomes, seis por meia dúzia, rearranjam a logística e é capitalismo tardio que segue. Até o Paulo Guedes pode ser rifado. Por impressionante que isso nos soe.


Aí vem alguém e pergunta: ah, mas e o teto de gastos?! Pois bem. Eles não vão furar o teto. A questão não é essa.

O Renda Brasil não vai alterar a estrutura orçamentária. A banca não permitiria. Não agora. 


Esse dinheiro vai sair de outro lugar. O problema deles é que não existe muita margem orçamentária pra fazer esse populismo. O Renda Brasil vai ser um dinheiro de pinga. Um Bolsa Família 2.0. 

A questão do Guedes é a economia em frangalhos. Que era bem evidente que seria assim. 


Se a coisa piorar muito, aí eles dão um recuo e permitem uma política mais desenvolvimentista. Com um Huck da vida, alguém assim. 


Isso é o que temos para o Brasil a curto prazo. Infelizmente. Por isso que a gente fala que tem que haver um projeto de esquerda revolucionária pro país. O quadro atual é desolador. E com tendências bem claras de piora. Não só a qualidade de vida das massas tá em risco. É a própria vida das massas que tá em jogo. O corona mostra isso com bastante nitidez. Um país sem rumo, como o Brasil, verga ante qualquer obstáculo. E o povo morre, órfão de direção.

sábado, 22 de agosto de 2020

A versão populista do Bozo / Um ardiloso arranjo das elites

 


Bozo se estabilizou no populismo. A versão fascista iria levá-lo ao impeachment em tempo recorde. Foi obrigado pelas condições a se reposicionar. 


A sociedade brasileira, a despeito desse terço fascista que a gente descobriu que tem, não tá disposta a aceitar um outro vôo bonapartista. Há tentativas nesse sentido por parte do capital atrófico. Mas a resistência da sociedade impossibilita essa política da maldade no grau máximo. As elites se bateram tanto nesse um ano e meio de governo que acabaram chegando a um meio termo. A banca faz a festa mas deixa o Bozo liberar um pixuleco pra conter a fúria da massa. E aí a gente vê essas cenas miseráveis de pessoas se acotovelando em portas de loja de eletrodomésticos, ou lotando os shoppings, ou formando filas intermináveis nas calçadas das agências da Caixa ou das lotéricas país afora. 


A lógica é a mesma do Bolsa Família. Distribuem umas migalhas a pretexto de girar a economia, mas quem lucra mesmo são os bancos e os grandes lojistas. Esse dinheiro dura pouco na mão dos pobres, mas ajuda a amortecer o impacto da miséria e da desigualdade social. É uma maquiagem, uma política pra ludibriar sorrateiramente as camadas mais pauperizadas da população. A economia mesmo continua em frangalhos, com larga margem de desemprego, subemprego, etc. Carteira verde amarela, cortes nos direitos trabalhistas, perseguição aos servidores públicos, etc, etc. 


Uma política de destruição do patrimônio. Há resistência. A dilapidação só não é maior por conta dessa pequena resistência, que não é organizada da forma correta pra inviabilizar o governo, mas que consegue impor alguns limites civilizacionais. 


Bozo por sua vontade acabaria com tudo. Mas percebeu que pra se manter presidente precisa levar em fogo brando a situação. O rearranjo caiu no populismo. As instituições se equivalem em força. A correlação tende à estabilização. Rodrigo Maia e STF preferiram não levar adiante o impeachment. Deixaram passar a oportunidade. Certamente que há interesses poderosos por detrás. A política bolsonarista segue à risca a cartilha neoliberal. Realmente não há motivos pra uma interrupção agora que Bozo foi domesticado pelo cerco à rachadinha e aos filhos. Agora só resta a ele estabelecer uma maior base de apoio ao passo em que se entende com os donos do poder que marionetam Maia e STF. Eles chegam a um entendimento e é vida que segue. 


Pro povo brasileiro isso é extremamente negativo. Porque a médio e longo prazo esse arranjo político vai jogar o Brasil ainda mais na indigência. Não tem política de desenvolvimento, a privatização vem aí, a desindustrialização também, já não temos incentivo à tecnologia, etc. É um país sem rumo, destinado a um lugar de segunda linha na divisão internacional do trabalho, relegado a um papel marginal na geopolítica mundial. Um pária, uma espécie de Arábia Saudita dos trópicos, um quintalzão dos Estados Unidos. Sem soberania, sem progresso, sem grandeza, maltratando sua classe trabalhadora, superexplorando seu povo. 


A situação é realmente dramática. Pasma que a esquerda esteja praticamente inerte diante de uma tal conjuntura, sem sair às ruas, se apegando à alternativas jurídicas e parlamentares que já se sabem nulas. 


É preciso apresentar um programa de revolução brasileira, de organização popular, de resistência. Só a esquerda revolucionária poderá apontar um horizonte de rupturas com o que tá posto no Brasil de hoje.


domingo, 19 de abril de 2020

Que mundo maluco esse!



Gente, eu não sei vocês, mas eu acho maluco esse mundo que a gente vive. Eu praticamente não me surpreendo mais com as coisas. Aprendi que a gente não pode confiar nas pessoas, ou esperar que exista racionalidade nas relações sociais em geral, ou mesmo que o mundo vá melhorar progressivamente, assim, sem eventuais movimentos de grandes choques e contradições . O mundo é essa loucura mesmo que a gente tá vendo.

E toda geração vai passar por momentos decisivos como o nosso. Pode ser uma grande guerra, com grande destruição e terror, uma pandemia terrível, uma hecatombe ambiental, enfim...

Mas a vida, apesar de tudo, segue seu fluxo. Com adaptações, com novidades, mas segue seu fluxo. A gente precisa se alimentar, precisa comprar comida, precisa metabolizar da melhor forma possível, não só a comida, mas a vida, o fluxo dos pensamentos, o sono, o amor, o ritmo do corpo. De modo que a vida segue (às vezes quase que maquinalmente) a sua trilha.

Eu, por exemplo, encontrei na atividade física a válvula de escape necessária pra lidar com a adversidade desses dias. Em geral eu corro no parque, duas vezes por semana, pra manter o peso, visto que engordo com facilidade. Por conta do covid, fecharam o parque aqui perto de casa. Então eu corro na rua. Corro em um bairro vizinho aqui. Numa ladeira. Tem um mirante lá em cima. Lugar interessante. É recompensador chegar lá em cima vivo...rs... É recompensadora a vista de lá de cima. Eu brinco dizendo que subo a montanha.

Pra chegar lá eu corro por uma grande avenida da cidade, e passo por um bairro residencial. É interessante correr pela cidade e observar o movimento, as pessoas. Me dá um parâmetro bom do estado de espírito coletivo. Nas portas dos bares, nas praças, na fumaça de churrasco que vem de algumas casas em sábados à noite. Eu sempre corro de noite. No mirante jovens fumam maconha e namoram, enquanto observam as luzes da cidade. Nos dias mais esvaziados a rua é dos motoqueiros, que passam em alta velocidade, em bando, donos das vias. Quase fui atropelado algumas vezes nas últimas semanas.

Observo os bichos. Muitos gatos. E eu adoro os gatos. Perambulam tranquilamente na noite. Brinco com eles. E com os cachorros de rua, com os cães de guarda de alguns estabelecimentos maiores. Falar com os bichos me faz bem.

Subo exausto a derradeira ladeira da corrida, ladeira da rua detrás da minha casa. É o fim do meu cooper. Venho um quarteirão andando, recuperando o ar. O suor escorre pelas têmporas. Passo por um carro do qual vem um gemido de mulher. Olho pro lado, é um casal. A mulher no banco reclinado do carona, com as pernas abertas. O rapaz no banco do motorista inclinado sobre ela, chupando a moça. A mulher toma um susto. Encabulado eu me viro e sigo meu caminho.

Entro no condomínio, comento com o camarada porteiro. Sexo oral faz bem pra saúde. Será que os motéis estão fechados por causa da quarentena? Não sabemos.

Subo as escadas e ouço uma vizinha cantando alto um mantra que me parece hindu. Descobri há alguns meses que tenho essa vizinha mística. Todos os dias, por volta da meia noite, pasmem, essa criatura começa a cantar o tal mantra. Me lembro que de tarde ela estava cantando música evangélica. Brasileiro gosta de sincretismo religioso, né. Eu sei. Isso aconteceu ontem. Hoje de tarde ela tava se esbaldando com pagode dos anos 90 e algumas coisas de sertanejo universitário. O som alto me incomoda. Não tanto os ouvidos. É mais pelo mal gosto mesmo.

Enquanto deploro o gosto musical da figura, tomo café e leio que os bolsonaristas de São Paulo fecharam a Paulista em manifestação contra o Dória, e a favor de um golpe militar, porque segundo eles o congresso e o STF estão atrapalhando o Jair Capiroto de governar.

Ontem vi o episódio de uns católicos tresloucados que foram ao jardim do Alvorada pra presentear o homem com um quadro de Jesus misericordioso. Um quadro muito bonito, pintado originalmente por Santa Faustina, mística que tinha visões de Jesus. Hoje se celebra a festa da divina misericórdia. Acontece sempre no primeiro domingo depois do domingo da Páscoa.
Que Jesus tenha piedade da gente. Essa Páscoa tá sendo melancólica...

O negócio é rir dos malucos, se enternecer com os bichos, e rezar... Rezar pra Jesus que escuta a oração do pobre, do oprimido, dos condenados da terra. Rezem, camaradas. Encontrem uma montanha pra subir. Eu tô quase fazendo como o cabo Daciolo. Lembram dele? Vou subir o monte pra orar.




sexta-feira, 3 de abril de 2020

Fake atrás de fake / Pode isso, Brasil?!



Olha, eu não me impressiono com mais nada nesse mundo. A que ponto chegamos!

Bolsonaro convocar um jejum é um negócio completamente sem propósito. Eu não vou nem ao ponto de ainda estarmos num estado laico. O Bozo até podia chamar o povo pra jejuar. Mas isso se o Bozo fosse um sujeito piedoso. Acontece que ele passa muito longe disso. Bozo é reconhecidamente um homem ímpio. Esse jejum dominical dele é uma tremenda de uma fake.

A lógica do Bozo é a lógica da fakenews. Bozo é mitômano, ou seja, um mentiroso compulsivo. Ele tá jogando pra torcida evanjegue. É ridículo. Mas é bom que cada tentativa de manobra dele só faz o povo perceber que ele é sim um débil mental com propósitos maquiavélicos. Um Napoleão de hospício com pretensões nazistoides.

Vocês imaginam o Bozo fazendo jejum? Esse cara não deve jejuar nem pra fazer exame de sangue. Enquanto os evanjegues jejuam, estejam certos, Bozo estará comendo pão com leite condensado e refrigerante no café da manhã. E o brasileiro simples tá se fudendo, meio alheio ao circo bozolino.

Bozo é uma imagem política da degradação civilizatória em tempos de crise do capital. É um fenômeno mundial esse populismo direitista caricaturesco. O Bozo retrata as peculiaridades nacionais. Entre elas, destaque para a anciã hipocrisia daqueles que vivem de engabelar incautos e religiosos tontos.




quinta-feira, 2 de abril de 2020

Covid 19 > Socializar ou barbarizar?



A situação de crise que tá colocada exige uma política de renda mínima. Mundialmente isso tá sendo posto.
E é uma tendência que já vem de antes do covid. Não tem emprego. É cenário de crise sistêmica do capital. O covid é um assunto sério. Mas também tá servindo de blindagem pra essa crise financeira internacional.



É uma oportunidade de um reset no sistema, de um reordenamento de capitais e investimentos. A gente já vem colocando isso aqui no debate há umas duas semanas. E temos que observar atentamente as análises dos economistas de esquerda. Dar ouvidos à crítica da economia política. Ouvir atentamente o Pepe Escobar, observar as movimentações da geopolítica.

Não podemos cair no distracionismo da mídia mainstream. Não podemos incorrer em movimentismos típicos da esquerda pós moderna, em histeria ou paranóia. Temos de ser o baluarte da razão materialista e dialética. Correlacionar com ponderação os dados que a realidade tá nos apresentando.

O Lula não vai dar ao povo a alternativa. Nem o Ciro, ninguém, nenhum desses caras. Porque eles não vão às raízes da questão. Somos nós que temos que avaliar o peso da crise e suas implicações. Temos de ter autonomia intelectual, desenvolver apurado senso crítico.

Com relação às medidas que estão sendo votadas no congresso nacional, temos de observar que são medidas mirabolantes até, em vista do que é usual sair dali. Em geral são pacotes de maldade e ajuste fiscal que recebemos desses caras. De sorte que medidas de distribuição de renda nos soam como coisas espetaculares. Mas essa é a tendência mundial. O sistema precisa injetar dinheiro pra movimentar a economia. Altas remessas de dinheiro já foram encaminhadas aos bancos e à especulação. O dinheiro pro povo é café pequeno. É migalha. Deveria ser mais dinheiro. E deveria estar na conta das pessoas já.

Temos de exigir esse dinheiro. É dinheiro nosso. Temos de lutar por investimentos também, na saúde principalmente, na construção de infraestrutura de saúde, de obras públicas imediatas pra sanar esse gargalo e pra salvar vidas. Temos de exigir a reconversão da produção nas indústrias. As linhas de produção deveriam estar ocupadas por EPI pros trabalhadores da saúde, por respiradores mecânicos para os doentes que terão de ser entubados.

E tudo isso temos de fazer sem perder de vista que não podemos deixar que o poder público nas mãos da burguesia transforme a nossa vida num inferno de cerceamentos e restrições. Porque esses malditos estão em pleno laboratório de controle social.

O Netanyahu em Israel mandou fechar o parlamento. Vamos deixar isso acontecer por aqui?! Tem governador mandando a polícia descer o cacete nos trabalhadores ambulantes, nas juventudes que frequentam praias, praças, etc. Isso é inadmissível.




São os trabalhadores do mundo que devem apontar a direção.
Temos de ver com bons olhos a insubmissão e a rebeldia daqueles que se colocam contra os poderosos desse mundo. Aqueles que ao ver seus filhos com fome, não se furtam de saquear mercados, de ocupar fábricas, de expropriar milionários.

O bom das situações de emergência é que elas engendram conjunturas revolucionárias.  Estamos diante de um embate entre revolução e contra-revolução. Ou esmagamos a ordem do capital ou ela termina de nos esmagar.


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Dissecando um pouco o bolsonarismo



O Bolsonaro tem uma política kamikase. Ele vai se isolando cada vez mais, querendo nutrir esperanças de um vôo bonapartista. O que é possível mas improvável.

O establishment não quer lançar mão de um impeachment, até porque a política econômica de Bolsonaro, apesar de ruim, é a política que favorece a banca e os rentistas. Mas Bolsonaro cava a própria cova ao se indispor desnecessariamente contra todo mundo. Ele mesmo se queima. E provoca os demais poderes e o centrão a tomarem alguma medida contra ele. Que pode não ser o impeachment, mas algo mais sutil que o desabone completamente. Eventualmente a condenação ou prisão de um dos filhos, o comprometimento da esposa nas investigações que envolvem a família, etc. Ou algo que o envolva diretamente, num processo de desgaste que o faria perder o apoio da parcela de bolsominions nutella, como diz a pesquisadora Esther Solano, ficando só com o apoio dos bolsominions raízes, aqueles que são abertamente proto-fascistas e que estão dispostos à barbárie contra a civilização, ou seja, uma política abertamente regressiva e em oposição aos protocolos de liberdades políticas da democracia formal e de direitos civis básicos.

Existe a discussão se Bolsonaro é  fascista ou não. Evidente que ele não é a reencarnação de um Mussolini ou de um Hitler. E não se trata disso a discussão. Quando tachamos Bolsonaro de fascista, o fazemos por constatar em sua política o espírito do autoritarismo e da violência, da paranóia anti-esquerdista, do obscurantismo, da eleição dos intelectuais como inimigos, da perseguição à classe artística, etc.

A política econômica é outra coisa, é um sabugismo vergonhoso, um claro alinhamento ao imperialismo estadunidense em detrimento da soberania nacional. Uma política risível de tão subserviente.

Isso em nada o garante no posto de presidente. Pode ser rifado a qualquer momento a depender das demandas políticas do sistema e dos interesses americanos. Ou seja, esse seu comportamento kamikase pode o levar a ser defenestrado em tempo recorde.

Pra um politico da burguesia, não basta aplicar a política econômica do neoliberalismo. Ele teria que transitar com habilidade entre as diferentes frações da burguesia. E talvez nem isso o garantisse em tempos de tantas contradições e crises.

Lula e o PT, por exemplo, fizeram tudo o que podiam para agradar ao sistema. Poderíamos elencar aqui uma enorme lista de concessões. Não é o caso. O ponto é que a política espelha a conjuntura macroeconômica, a geopolítica mundial, os interesses dos bancos e das grandes corporações, a correlação de forças das classes sociais, etc, etc.

O fenômeno Bolsonaro veio pra ficar, porque é uma resposta comum ao espírito do nosso tempo, porque dialoga com o ressentimento da clssse média arruinada e reacionária, porque envolve uma psicologia fascista que faz a cabeça de uma parcela de uns 20% da população. Como eu cheguei a dizer num outro artigo, o bolsonarismo é a versão contemporânea do lacerdismo, uma espécie de malufismo digital. Trata-se de uma força política que tem seu espaço garantido e que vai ser um player significativo na política dos próximos anos, ainda que seja desmascarada em suas falcatruas.

Lembram do "rouba mas faz"? Pois então, o bolsonarismo pode muito bem entrar aí como um "rouba mas é de direita", "rouba mas não é o PT", "rouba mas odeia as domésticas e os pobres". E a crise econômica do neoliberalismo, nós sabemos, agudiza a luta de classes e mexe profundamente com as classes médias, um fenômeno ideológico que veio à tona e tá aí mostrando seu barbarismo e perversidade.

Mas, voltando ao tema inicial, cumpre dizer que isso em nada garante Bolsonaro na presidência.
Ele que fique esperto!

Bom, tá certo, o cara é um débil mental, né.  Azar o dele. Sorte nossa. As coisas ficam mais claras assim. Ele queima logo o filme e fica mais próximo de voltar para o lugar de onde saiu.